segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Um dia mostro o depois...


... hoje ainda não foi o dia!

Amanhã como a sopa toda - No AO

Ontem dei por mim a fazer uma coisa muito parva! Aliás, agora que penso melhor, tenho feito coisas destas, muito parvas, há vários dias a fio! A verdade é que as faço quase mecanicamente, sem pensar muito nisso… passo a explicar, ontem, depois de jantar, ofereci pêssego em calda à minha filha, porque toda a porcaria da fruta que tinha comprado na semana anterior estava podre por dentro, à custa de ser congelada, e explico isto, porque também isto faz parte das coisas parvas que faço sem me dar muito conta disso… continuando, ofereci-lhe o pêssego em calda, porque não tinha fruta “ao natural” à disposição, e ela aceitou. Então, preparei os pratinhos e talheres, para ela e para nós, retirei uma metade do pêssego e… (agora vem a coisa parva) passei a dela por água e depois servi-nos a nós… sem passar por água as nossas! E foi aí que me apercebi da parvoíce que tinha acabado de fazer… não que passar a dela por água seja parvo, uma vez que a poupo intencionalmente do excesso de açúcar, mas e nós!? Porque não tive eu esses cuidados com as nossas metades?! Aliás, porque lhe dou eu sempre fruta natural e da melhor qualidade e acabo por comer eu a fruta tocada ou os restos da fruta dela, ou o que estiver mais à mão… afinal de contas, porque me preocupo eu tanto com a saúde e alimentação dela, e me desleixo tanto com a minha própria saúde?! Sim, porque ela tem as vacinas todas em dia, e eu confesso falta-me a do tétano, porque a levo religiosamente às consultas das idades e corro com ela em braços para o pediatra à primeira dor de barriga… e eu… ando dias a fio com enxaquecas indescritíveis e me recuso a ir ao dentista fazer aqueles últimos reparos no dente que ficou apenas “provisoriamente” arranjado! Afinal de contas, não será uma parvoíce enorme pensar que se ela estiver de boa saúde e eu estiver de rastos ela ficará bem!?
Se está frio visto-lhe um casaco à pressa, quando me apercebo que saí de casa de t-shirt. Quando está vento usa sempre um chapéu, lindo, todo da moda e quentinho, enquanto eu aproveito para deixar o cabelo húmido secar ao ar! Em casa tem pantufas, chinelos e botinhas para todas as alturas do ano… eu, confesso, faço do pé descalço o meu calçado de eleição! Na hora da refeição, quando trago os bifes para a mesa, o maior vai para ele, o mais tenro para ela e o que sobra para mim…
E foi assim, que me apercebi, ao preparar a sobremesa de ontem, do paradoxo da paternidade do verdadeiro “olha para o que eu digo, não olhes para o que eu faço” e a parvoíce que isso é! Assim, fiz desta a minha resolução para o novo ano, tratar tão bem de mim, como trato da minha filha… o que me deixa uma dúvida, será que vou ter espaço e tempo para tanta preocupação junta?! Se comemos a sopa toda, se já comemos fruta hoje, se estamos bem agasalhadas, se temos as consultas em dia, se nos sentimos “frescas e fofas”?!… Ai cruzes!
Ter filhos é como ter um carro de alta manutenção, mas cuidar deles, na certeza de que para aquelas máquinas não há linhas de continuidade, nem modelos de topo de gama, assim, vivemos aterrorizados com todos os risquinhos que lhes possam ser feitos na chapa ou amolgadelas, no pior dos cenários… ou mesmo que lhes “gripe” o motor. É por isso, que tão frequentemente nos esquecemos de nós… é por isso, que quando eles comem a sopa toda, nós nos sentimos fartos e satisfeitos como se a tivéssemos comido nós, e quando eles comem a fruta fresquinha, nos sentimos vitaminados e sãos. É uma espécie de simbiose de “mi casa es tu casa” em versão “tu felicidad es mi contentamento” (ou algo do género)!