quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Tarefas Ingratas do meu ingrato dia...


Parte das minhas funções aqui no escritório englobam a tarefa de fazer recepção a todo e qualquer indivíduo que me entre por aquela porta... e se dias tenho, em que por aquela porta entro eu e pouco mais do que eu, outros dias há em que isto se torna a verdadeira porta de entrada de um centro comercial, mas num horário muito morto... vá, que eu não estou aqui para enganar ninguém!
Aquilo que mais gosto de fazer é receber o carteiro, que todos os dias me traz para além do jornal diário, alguma correspondência e eventualmente um bónus... uma cartinha de um familiar ou amigo, ou até mesmo uma prendinha, assim sem contar! O que não acontece tantas vezes como gostaria, mas "o sonho comanda a vida"... e qual cãozinho de Pavlov, assim que ouço a motoreta do Senhor Carteiro a aproximar-se, toda eu sou espuma e vontade de receber uma cartinha!
Ainda assim, esta porta já se abriu mais vezes hoje, do que em toda a semana passada... tudo porque, outra das minhas funções é receber candidaturas de pessoal, que se oferece para trabalhar aqui!
Ora, nem hoje, nem ontem, nem no mês passado e nos anteriores, sequer, estivemos a precisar de alguém para a empresa, mas eu tenho que receber as candidaturas e fico com os dados das pessoas e CV’s e não lhes querendo dar falsas esperanças, alguns trazem um ar de “Por favor arranje-me lá qualquer coisa para fazer, senão não como” de cortar o coração.
Só hoje já cá entraram seis. Todos com a mesma expressão, todos com os mesmos desejos, com a mesma simpatia nervosa e a todos eu tive que me forçar a dar uma resposta politicamente correcta: “De momento não estamos a precisar de ninguém, mas ficamos com o seu contacto e se necessário for, logo o contactamos!” – Em 99,9% dos casos sei que ninguém lhes vai ligar... em 0,01% dos casos, tenho esperanças que lhes liguem.
É duro estar aqui sentada a receber o nosso, ainda que pouco, a lamentar-me e saber que há tantos, que pelo pouco que ganho, fariam milhares!
Eu sempre disse, que “quem se queixa de barriga cheia” não conhece as dores de uma barriga vazia!
“Boa Sorte, Volte Sempre!” – Que coisa tão cruel de se dizer...

5 comentários:

  1. Não imaginas o quanto penso nisso... tanta gente a precisar de um emprego. Centenas de milhares de pessoas!! É assustador.
    E depois, muito de vez em quando, aparece nas noticias, como de um acto heróico se tratasse, uma empresa qualquer que cria 200 posts de trabalho, e eu penso "duzentos?!? PORRA! Só??".

    Amanhã posso ser eu...

    bjinhos*

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  2. Lidas com a realidade crua e nua. Imagino o que te custará mas, não está na tua mão resolver o problema de toda a gente mas, se estiver o de resolver o problema de algumas pessoas já não é mau.
    Como essa desgraça vai aumentar para o ano não sei até que ponto as pessoas têm capacidade para aguentar. Gostava de saber se o número de suicidos aumentou. A da violência doméstica aumenta com a crise e a falta de emprego, disso não tenho dúvidas.

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  3. Ginger: duzentos num mar de milhentos não é nada, mas para esse duzentos já pode ser tudo... Enfim... nem sei que pense!

    Brown Eyes: o pior é que é pessoal de vida dura mesmo... construção civil... tás a ver o quadro, não estás?! É mesmo triste... a taxa de suicídios se não aumentou ainda não demorará a aumentar... Antes não fosse assim, mas realmente perante certas e determinadas situações até eu me via tentada a fraquejar nesse sentido... talvez... não sei... :(

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  4. Infelizmente há uns tempos atrás estive no verso da moeda... ao invés de ti.

    Um ano e meio a levar CV aqui e ali, a ligar para lá e para cá e a bater por portas e a correr pelas travessas, entrevistas a uma hora e na seguinte uma "sessão de esclarecimento", consecutivas consultas aos classificados, até anúncio no net emprego eu fiz e nada!!!

    Acabou-se o subsídio de desemprego e eu "agarrada ao pau" (expressão utilizada para quem "está lixado")... já não sabia o que havia de fazer à minha vidinha!!!

    Bastantes vezes me deparei com funcionárias no qual se lia no olhar o seu sincero lamento pela situação, porque sabiam as mesmas percentagens que tu, ou seja, praticamente nulas! Outras tantas vezes, nem se davam ao trabalho de desejar a tal "boa sorte" e mandavam o documento para uma caixa de cartão, suponho que para ir parar à reciclagem!

    Enfim...

    Quem não se sente não é filho de boa gente, não é?

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  5. Esse pessoal, construção civil, agricultores, etc, pessoal que apanha o sol e o frio são, quanto a mim, quem devia ter os ordenados mais altos do país. Já te imaginaste a apanhar sol no verão e frio no inverno? Eu não conseguia. Desesperava. Pois é Sílvia gente que luta por um lugarzinho e não tem nem uma sombra. Beijinhos

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