quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Prendinhas de Natal...

... no meu sapatinho coube este ano um convite especial... escrever um conto infantil para um suplemento de Natal do jornal Açoriano Oriental, para o qual a minha filha seria a artista da "ilustração". Assim... aqui vos deixo como prendinha de agradecimento, o conto e o desenho... da mãe e da filha, com carinho e amor mil para todos vocês... assíduos acompanhantes desta aventura virtual!


O CONTO DO NATAL, por Sílvia Martins

Não foi só por uma vez, mas foi por mais de duas e muitas mais vezes do que três, que o Natal se portou muito mal. O Natal era um menino, com outro menino qualquer, que bem podia ter sido chamado de João, José, Bernardo ou Vishal, era igual, mas que por ter nascido no dia 25 de Dezembro recebeu o nome da época, tal e qual: Natal.
O Natal tinha cabelinhos loiros, encaracolados, bochechas rosadas e um aspecto muito angelical. Talvez por isso fosse tão difícil acreditar, que onde quer que ele fosse, agisse como um vendaval. Falava muito alto, berrava de modo descomunal, cantarolava nas aulas e assobiava como se estivesse num musical. Fazia birras na rua, não gostava de banhos, nem do carnaval, não comia a sopa e só queria chocolate, numa quantidade abismal! Não gostava disto, daquilo, daquele, do outro… que coisa! O Natal era mesmo pouco cordial.
O Natal não tinha muitos amigos, mas tinha muitos brinquedos… o que visto assim, para qualquer menino normal, seria uma coisa muito triste... afinal, para que servem os brinquedos, quando não se tem ninguém com quem brincar?! Mas para o Natal, isso parecia não ter nenhum mal. Não lhe fazia diferença e era-lhe tudo igual. “Mal, mal, mal… está muito mal, menino Natal!”. A sua mãe, de olhar maternal, esperava que um dia o seu filho mudasse, antes que fosse tarde, antes que todos se recusassem a brincar com ele… antes que a solidão fosse enfim, o seu final.
“Quero um carro do Noddy, e uma pista do Cars, e a plasticina do Ruca e o dinossauro também, quero um jogo dos Gormitis e um Ferrari vermelho, quero uma bicicleta do homem aranha e um carro a motor… eu quero, eu quero, eu quero!”… “Ah… e um barco e um avião também.” – dizia ele à sua mãe! Mas a mãe estava farta, de tanto pedido e de ele não ser nada querido. “Tens que mudar, parar de berrar, não te quero a chorar, a saltar, nem a ralhar… tens que aprender a brincar… com menos brinquedos… ah, e já agora, uma vez que o Pai Natal está a chegar… bem que lhe podias prometer, que ias aprender a dar!”. Dar. Dar, dar, dar… mas dar o quê?! A mãe estava choné… só podia… e não… não ia tomar banho, nem lavar a cara, nem a mão, nem o pé! “Olha, sabes que mais, eu gosto muito do cheiro a chulé!”. Mal, mal, mal… isso está muito mal, menino Natal!
O Natal não mudou… assim continuou até ao dia 24 de Dezembro, dia em que o Pai Natal ia lá a casa. Mas o Natal não lhe deixou bolachinhas, nem leite, nem nada… e colocou pregos na lareira, e esqueceu-se de lhe deixar a meia… então, nessa noite, depois de o deitar, a mãe foi para a sala a chorar… quando o Pai Natal lá chegou, e com ela se deparou, perguntou-lhe o que se passou e ela lhe contou!
O Pai Natal decidiu então… não lhe deixar prendas… NÃO… nessa noite… o Pai Natal deu-lhe um sonho! Sim, um sonho. Enquanto o Natal dormia, na sua cama revolta, o Pai Natal tocou-lhe na testa e levou-o a dar uma “volta”.
O Natal começou então a sonhar, que tinha acabado de acordar. Berrou pela mãe e ninguém respondeu. Berrou pelo pai e ninguém lhe valeu. Levantou-se aos pontapés e não viu ninguém a lés! Talvez estivessem na sala… correu à velocidade de uma bala. Mas não viu ninguém. Não estavam em casa. Por onde andariam?! De repente sentiu fome… e correu para o armário, mas não havia chocolates, nem sequer as tostas do seu avô Mário. Talvez no frigorífico houvesse algum leite… mas a única coisa que lá estava era uma sopinha de grelos com uma pinga de azeite. “Yack”, pensou, “nem por sombras”… “se calhar os meus pais foram mas é às compras”! Decidiu sentar-se no sofá, em frente à televisão… mas não dava nada a não ser uma imagem negra com um grande barulhão.
O Natal começou a ficar com medo… é que já não era nada cedo! Talvez os seus pais se tivessem fartado… quem sabe se teriam ido embora, para nunca mais voltar?! Não podia ser… ele não queria acreditar! Se ele pudesse, teria feito tudo diferente, só para poder voltar a ter ali gente. A fome era tão grande, que se levantou e comeu a sopa toda, pingo a pingo… até lambeu a colher… e foi nesse instante, que o Natal acordou!
Afinal tinha sido tudo um sonho. Um sonho mau. Um pesadelo… ou talvez não… talvez aquele sonho tivesse sido para ele, a sua grande lição! Chamou pela mãe, sem berrar, deu-lhe um beijo. Agarrou-se a ela e pediu-lhe desculpas, por tudo o que tinha feito de mal até aí. Procurou o pai e disse-lhe que não queria prendas… naquele Natal, o que ele queria mesmo… era um dia especial! A partir desse dia, o Natal mudou, aprendeu a dar, partilhar e a ajudar! Nunca mais fez birras (só em situações excepcionais) e viveu com os pais, muitos e felizes Natais!
Pozinhos de perlimpimpim… esta história só chega ao fim… quando também tu fizeres assim!

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