Tomei o pequeno-almoço, calórico demais, mas hoje é segunda-feira e a semana é mais curta. Mereço! Arranquei no meu carro e cheguei ao escritório, atrasada, mas hoje é o primeiro dia da semana e estava trânsito. É justo! Sentei-me na secretária, organizei a correspondência, respondi aos emails em falta, reencaminhei os faxes atrasados, mas deixei as coisas mais complexas para de tarde. É compreensível! Abri a minha caixa de email, o meu blog e preparei-me para mais uma manhã navegando em blogosferas cibernáuticas… afinal de contas, a minha leitura diária já estava atrasada um fim-de-semana inteiro. Pareceu-me bem!
O que não me pareceu tão bem, ou melhor, pareceu-me mesmo mal, foi o conteúdo dos comentários, efectuados a um dos textos, publicados num dos blogs, que mais regularmente sigo, onde da discussão acerca da falta de respeito, demonstrada pelos deputados no Parlamento em relação ao normal desempenho das suas funções, (de resto agravado pelo facto de uma centena de alunos terem assistido a esta pobre exibição, descredibilizando para sempre, aos seus olhos, o papel destes políticos na intervenção da vida da Sociedade actual) se passa para a discussão entre o facto ortográfico de se escrever “à dois dias” ou “há dois dias”! O autor do texto citado tinha utilizado a expressão gramaticalmente correcta “há dois dias”, mas foi corrigido por uma Bleitora indignada, que não entendia porque é que o autor do texto tinha cometido essa “grave falha”, o que só vinha dar razão ao “triste estado da Nação”, questão que a “preocupava seriamente”. Mais triste ainda me pareceu o comentário de alguém, que assumindo-se como professora de Português, insultava todos quanto tinham participado nessa troca de comentários, apelidando o nosso povo de “povo ignorante”, mais, apontando essa como razão para o nosso País, “não chegar a lado nenhum”!
Tudo começou com este comentário:
“Concordo que este comportamento está errado, no entanto em todas as profissões podemos encontrar pessoas que desempenham o seu trabalho convenientemente e de uma forma ética e outros que não.Não vamos por isso descredibilizar toda uma classe.Outra questão que me preocupa neste país é a forma como escrevemos. O autor deste texto escreveu"acompanhei cerca de cem alunos há dois dias atrás"(1ª coluna)... pois escreve-se: à dois dias atrás...Esta é uma questão importante à qual não temos dado a devida atenção!”
Ao qual se seguiu uma correcção acertada, com apontamento irónico:
“…, não saber não é crime, mas não saber e dar palpites fica sempre mal. Não é nem h"á dois dias atrás", nem "à dois dias atrás". É "há dois dias".”
A discussão prolongou-se ao longo de comentários, dividindo e “confundindo” as partes:
“há com 'h' refere-se ao verbo haver, pelo que se escreve 'à dois dias atrás'”
…ou…
“ver pessoas a corrigir supostos erros de português dando erros tão primários e insistindo neles é assustador.é há com h porque refere-se a tempo. quando se refere a tempo ou se equivale ao verbo existir é "há" com h. Isto é um erro que muita gente dá, mas para mim é dos mais indesculpáveis. Quando escrevemos com pressa até é admissível que escape, agora estar a reflectir e a insistir no erro é grave!”
… e ainda…
“Também não pode deixar de achar piada à correcção equivocada da jovem …, sobre o "há / à" e à sua defesa pela … ... Pelo que vi com os comentários pertinentes das outras, o erro ficou esclarecido HÁ muitos minutos!!!!”
Chegando por fim ao comentário da Sra. Professora:
“É por isso que este país nunca chegará a lado nenhum... Sou professora de português e posso garantir-vos que a forma correcta é: "há dois dias atrás". Sim, refere-se ao verbo haver. Conhecem a expressão "houve em tempos..."? Pois é, o verbo haver conjuga-se com o tempo: dias, meses, semanas, etc. Por favor, escrevam e falem bem. E sobretudo, quando derem palpites saibam do que estão a falar. Povo ignorante. Já para não falar dos deputados, caramba!”
O que mereceu da minha parte o seguinte comentário (sim… porque estas questões do ensino ainda me tocam…):
“Em relação à Anónima, professora de Português, que acaba de apelidar todo o nosso povo de "ignorante", apraz-me dizer, que enquanto professora de Português e outras línguas, que também sou, é essa a função dos professores: Ensinar! Passando o povo de "ignorante" a "elucidado" e esclarecido! Mais positivo do que insultar, quer-me a mim parecer que exercer a nossa função enquanto professores e cidadãos é bem mais produtiva, quando poupamos o nosso "povo" de insultos generalizadores!”
Não fui tanto motivada pelo desplante dos deputados em fazerem tudo na assembleia, menos aquilo que lhes compete. Isso é, infelizmente, do conhecimento geral. Nem mesmo a desilusão causada, àquelas pobres e jovens mentes, que na esperança de virem a aprender aquilo que representa a Democracia, aprenderam aquilo que de facto ela é. Isso era previsível. Não foi nem mesmo o espanto causado pelas dúvidas gramaticais de português, levantadas por mentes indignadas, talvez na verdade contra causas injustificadas. Isso é mais do que corriqueiro. A razão da minha reacção foi de facto despoletada, nada mais, nada menos do que pelo insulto generalizador, atirado em forma de remate ao povo “ignorante”, causador da imobilidade do nosso País. Ainda mais grave, fundamentado na constatação de uma dúvida/erro/deslize ortográfico, arremessado pela mão pedagógico-didáctica de uma professora de português.
Não é espanto nenhum que as pessoas errem, afinal de contas “errar é humano”, ao que parece, só não o é neste País, de mentes “ignorantes”, que talvez nunca cheguem a ver a “luz”, porque afinal de contas, em vez de lhes corrigirem o erro, se limitam a arrematar tudo com um insulto, globalizador, generalista, que a todos toca e abraça de igual forma.
“Concordo que este comportamento está errado, no entanto em todas as profissões podemos encontrar pessoas que desempenham o seu trabalho convenientemente e de uma forma ética e outros que não.Não vamos por isso descredibilizar toda uma classe.Outra questão que me preocupa neste país é a forma como escrevemos. O autor deste texto escreveu"acompanhei cerca de cem alunos há dois dias atrás"(1ª coluna)... pois escreve-se: à dois dias atrás...Esta é uma questão importante à qual não temos dado a devida atenção!”
Ao qual se seguiu uma correcção acertada, com apontamento irónico:
“…, não saber não é crime, mas não saber e dar palpites fica sempre mal. Não é nem h"á dois dias atrás", nem "à dois dias atrás". É "há dois dias".”
A discussão prolongou-se ao longo de comentários, dividindo e “confundindo” as partes:
“há com 'h' refere-se ao verbo haver, pelo que se escreve 'à dois dias atrás'”
…ou…
“ver pessoas a corrigir supostos erros de português dando erros tão primários e insistindo neles é assustador.é há com h porque refere-se a tempo. quando se refere a tempo ou se equivale ao verbo existir é "há" com h. Isto é um erro que muita gente dá, mas para mim é dos mais indesculpáveis. Quando escrevemos com pressa até é admissível que escape, agora estar a reflectir e a insistir no erro é grave!”
… e ainda…
“Também não pode deixar de achar piada à correcção equivocada da jovem …, sobre o "há / à" e à sua defesa pela … ... Pelo que vi com os comentários pertinentes das outras, o erro ficou esclarecido HÁ muitos minutos!!!!”
Chegando por fim ao comentário da Sra. Professora:
“É por isso que este país nunca chegará a lado nenhum... Sou professora de português e posso garantir-vos que a forma correcta é: "há dois dias atrás". Sim, refere-se ao verbo haver. Conhecem a expressão "houve em tempos..."? Pois é, o verbo haver conjuga-se com o tempo: dias, meses, semanas, etc. Por favor, escrevam e falem bem. E sobretudo, quando derem palpites saibam do que estão a falar. Povo ignorante. Já para não falar dos deputados, caramba!”
O que mereceu da minha parte o seguinte comentário (sim… porque estas questões do ensino ainda me tocam…):
“Em relação à Anónima, professora de Português, que acaba de apelidar todo o nosso povo de "ignorante", apraz-me dizer, que enquanto professora de Português e outras línguas, que também sou, é essa a função dos professores: Ensinar! Passando o povo de "ignorante" a "elucidado" e esclarecido! Mais positivo do que insultar, quer-me a mim parecer que exercer a nossa função enquanto professores e cidadãos é bem mais produtiva, quando poupamos o nosso "povo" de insultos generalizadores!”
Não fui tanto motivada pelo desplante dos deputados em fazerem tudo na assembleia, menos aquilo que lhes compete. Isso é, infelizmente, do conhecimento geral. Nem mesmo a desilusão causada, àquelas pobres e jovens mentes, que na esperança de virem a aprender aquilo que representa a Democracia, aprenderam aquilo que de facto ela é. Isso era previsível. Não foi nem mesmo o espanto causado pelas dúvidas gramaticais de português, levantadas por mentes indignadas, talvez na verdade contra causas injustificadas. Isso é mais do que corriqueiro. A razão da minha reacção foi de facto despoletada, nada mais, nada menos do que pelo insulto generalizador, atirado em forma de remate ao povo “ignorante”, causador da imobilidade do nosso País. Ainda mais grave, fundamentado na constatação de uma dúvida/erro/deslize ortográfico, arremessado pela mão pedagógico-didáctica de uma professora de português.
Não é espanto nenhum que as pessoas errem, afinal de contas “errar é humano”, ao que parece, só não o é neste País, de mentes “ignorantes”, que talvez nunca cheguem a ver a “luz”, porque afinal de contas, em vez de lhes corrigirem o erro, se limitam a arrematar tudo com um insulto, globalizador, generalista, que a todos toca e abraça de igual forma.
Agora, eu pergunto, e desta vez mesmo indignada: Não será a obrigação/dever/função de um professor elucidar e esclarecer dúvidas/erros/deslizes?! Se todos fossem elucidados de que serviria a classe dos Professores?! A mim, enquanto professora, mãe, educadora, mas acima de tudo cidadã, não me escandalizam os erros de português, ortográficos, nem de outras formas… mais me escandaliza a falta de voz, opinião, discussão e expressão de ideias. Pois me parece a mim, que rematar uma discussão com um insulto demonstra uma pobreza muito grande de eloquência e acima de tudo vontade de ensinar, senhores Professores e caros colegas!!! Se para tudo na nossa vida encontramos desculpas e justificações para os nossos erros e deslizes, porque não tentar ser mais compreensivo e tolerante com os dos outros?!
É bem verdade que a Tolerância foi um conceito que surgiu apenas no século XIX, mas parece-me a mim, que já não há desculpa para não se ser conhecedor do mesmo e quem sabe, frequente utilizador do tal.
“ A tudo pesem, a tudo pensem!”, dizia “O Professor”. Não se coíbam de demonstrar a Vossa indignação, atitude e opinião, pois o valor das ideias não está nas palavras que utilizamos, mas naquilo que as motiva, uma vontade de ser, querer e participar, numa sociedade e democracia, que afinal de contas é de todos… literados e aliterados. Cabe no fundo à Classe “dita” culta, perceber, integrar e identificar essas ideias expressas em “português pobre”, embelezando-o depois em correcções ortográficas de época, moda e grife… sim, porque acima de tudo a Sra. Professora devia saber que a língua muda e evolui… nem sempre acompanhando as gramaticalidades impostas. Portanto, o que hoje é erro, amanhã puderá já não ser!
Quem nunca deu um erro ortográfico, que lance a primeira pedra. Quem nunca teve dúvidas que se acuse. Afinal de contas, poucos há que “ nunca se enganem e raramente tenham dúvidas!”, e mesmo esses, nunca se enganando, atrevo-me a dizer: acertam pouco!
Por isso, em lugar de análises ortográficas ou gramaticais, atrevam-se antes a reunir energias para perceber o que realmente interessa no texto citado. Na minha opinião, subentende-se o desinteresse, desrespeito e apatia que vigoram no Parlamento, que não sendo comum a todos os deputados, influencia muito a imagem, que passa para a Sociedade; em segundo lugar, que temos uns deputados modernos, virados para as novas tecnologias e que talvez devessem utilizá-las para ouvir a voz do “povo ignorante”, que tanto apregoam fazer respeitar; em terceiro lugar, alguém devia pensar em explicar aqueles jovens, que o Parlamento não é mais do que constituído por humanos, e que por isso, e sem querer desculpabilizar ninguém, é mais do que normal que essas coisas sucedam, situação que não é a nossa geração, que pode alterar, mas quem sabe, senão a deles. Fazendo uso de um "erro" para apontar uma correcção, ou apoiando-se num mau exemplo, para dar um bom! Apoderando-os de uma consciência da sua juventude, enquanto futuro cidadão activo, potenciador de mudanças e alterações no sistema democrático vigente e na Sociedade vindoura. Parece-me que os erros ortográficos de um texto desta índole, e ainda que não os tendo, se os tivesse seriam a mínima razão de discussão do mesmo. Alertadas as consciências para a devida correcção gramatical, devia ter-se deixado em aberto o espaço para a discussão interpretativa do texto em si, não o reduzindo a um comentário insultuoso de “povo ignorante”, que não sabe escrever nem falar, razão do nosso País não “ir a lado nenhum”.
De mim para vocês e em estilo de confidência, eu que já estive em vários cantos por este mundo fora, não queria o nosso Portugal, jardim à beira mar plantado em mais lugar nenhum, que não aqui mesmo onde estão Continente e Ilhas. E aproveito para deixar um apelo, neste espaço que é meu e de liberdade, Srs. Professores e educadores, pais e mães, tios e tias, “assins e assados”: eduquem os vossos alunos, filhos, sobrinhos, educandos, os jovens deste País, como pensadores, e não como imitadores; se eles errarem, chamem-nos à razão, através da elucidação e não do insulto; acima de tudo dêem-lhes espaço para errar… não queiram pessoas perfeitas na imitação, as grandes ideias nasceram quase sempre dos alucinados, raramente dos ditos “normais”. No âmbito do estudo da língua se veja, que as melhores obras de literatura são sempre as que fogem à norma!
Sábado celebrou-se mais um aniversário da data da revolução, do dia da Liberdade. Não seremos nós, cidadãos deste País livre, livres para errar sem merecer insulto?! No âmbito desta “divagação”, considerem-se todos os Bleitores avisados: NESTE BLOG (H)Á LUGAR PARA ERRAR!
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