segunda-feira, 4 de maio de 2009

História de uma paixão noutra voz…

Não trazia nada no cabelo, mas ele já trazia tudo só por si. Ondas encaracoladas, doiradas e leves, que saltavam levemente com o pousar dos seus pezinhos, pequenos e delicados.
Nos pés trazia umas sabrinas amarelo doirado, em plástico, que em tudo realçavam a brancura da sua pele.
Percorri-lhe todas as veiazinhas do braço com um só olhar. O vestido, levemente em forma de balão, branco e em bordado inglês, com um laço à cintura. A pulseira de amuletos brilhantes e soltos, tilintando no seu movimento.
Ao colo trazia a filha, loira, como ela, branca, como ela, menina, como ela também! Com um vestidinho cor-de-rosa, florido e abalonado, também ela brilhava naquela entrada, naquele jardim, naquela tarde.
Eu observei, enquanto ela, dançando em roda dos presentes, cumprimentava uns e outros. Beijando só no ar uns, dando apertos de mão suaves aos outros.
Ela era a elegância em si. A beleza por si. E era, no fundo, tudo aquilo que eu não tinha nunca visto até aí. Fugi, desviando-me ao lado do seu olhar alheio à minha existência e evitei as apresentações e cumprimentos naquele momento de embaraço.
Aquela tarde passou, sem que ela me visse. Entre uns pratinhos leves de refeições ligeiras e pratos carregados de sobremesas calóricas. Entre conversas de ocasião e diálogos familiares. Então ganhei coragem… preparei-me para encará-la, estudei uma abordagem discreta, não a queria assustar e quando lhe ia perguntar o nome da pequena, que trouxe toda a tarde agarrada à anca, vi o marido aproximar-se também… passou-lhe a mão pelos cabelos, ai como o invejei nesse acto, e beijou-a. Não evitei e não deixei de a olhar, fixando todas as suas rugazinhas de esforço, que ela dedicada aplicou naquele beijo terno e casual. Agora, que estava mais perto, notei-lhe as duas safiras, carregadas por aquele rosto menino e mulher, que traziam em si, todas as gotas do oceano. Apaixonei-me.
Rendi-me por completo a esta imagem de anjo, semi-criança, semi-mulher. Sentei-me na relva quente, inclinei as costas para trás e percorri, na minha lembrança, todas as imagens que guardei dela. Juntei-lhe a sua voz e imaginei-me em diálogo com ela. Falar-lhe-ia da filha, do sol, do calor e do mar. Tencionava falar-lhe também, quem sabe um pouco de mim. E deixei-me ficar assim, de olhos semi-cerrados, em diálogo com ela… estava um dia lindo e a lembrança da imagem dela ia chegar para me alimentar sonos e sonhos para o resto dos meus dias. Porque um amor, como este, que se sabe impossível é mesmo assim: sonha-se, não se quer viver!
A páginas tantas, deixando-me cair sobre a relva, deixei também cair em mim, uma dúvida inquietante, como seria o seu nome?! Não queria imaginar um nome para ela, porque estaria a trair a verdadeira essência da sua pessoa… mas também não o poderia perguntar a ninguém, seria estranho esse interesse da minha parte, em relação a uma pessoa, que acabava de ver. Quem me conhece, sabe que não faz parte do meu feitio, perguntar indirectamente esse tipo de coisas. Tentei acalmar-me, dizendo de mim para mim e repetindo-o para mim internamente a alto e bom som, que não era importante, que essa curiosidade ia passar, que era irrelevante, mas levantei-me. Na minha cabeça, um objectivo. Juntar um nome à imagem, que me havia de acompanhar. O seu nome. O nome dela.
Procurei-a e dei com ela sentada, perto de uma arvorezinha, à sombra, aproveitando para mimar a sua bebé, que parecia relaxar a cada toque seu, cada sussurro, cada som de embalar que ela lhe soprava ao ouvido. Era a minha oportunidade. Aproximei-me….
Lentamente e sentido a aproximação dos meus passos ela olhou para mim. Estremeci. Ela, sorriu…
- Olá! – disse – diz Olá – pediu ela à sua pequena, que se limitou a fitar-me, oferecendo-me depois um sorriso tímido, logo se deixando cair no regaço suave e fresco de sua mãe.
- Olá! – disse eu. – Está um dia lindo, não está?
Ela acenou com a cabeça e desviou o olhar, como que lendo na minha pergunta todas as minhas intenções, procurando ao longe a protecção e atenção do seu marido.
- A sua menina é muito linda. – continuei… - que idade tem?!
Ela respondeu que tinha 1 ano. – Um aninho. – disse ela.
- Acho que não nos conhecemos… - arrisquei.
Ela confirmou.
- Chamo-me Aline. – disse ela.
- Eu sou a Tânia. – disse eu… e afastei-me, deixando-a no seu silêncio confortável, levando comigo um nome e uma conversa, só não lhe falei do mar… e de mim, mas assim como assim, não teria muito para lhe contar!