quinta-feira, 4 de março de 2010


Estou de volta. Fui a casa!
Estamos bem, mas apanhámos o mau tempo no Continente e na Ilha! Ou melhor, o mau tempo apanhou-nos a nós! Malandro!
Estou sem tempo, com algum trabalho.
Estou sem vontade de escrever!
Volto amanhã! Pode ser?!

"Lar, Doce Lar..." - no AO a 04.02.10


“Casa é onde está o coração”… e é este o “mantra”, que me persegue desde a passada sexta-feira!
Quem, como eu, tem duas “casas” ora tem o coração partido, ou o traz sempre consigo só por via das dúvidas. Não aconteça de me dar uma de Dorothy, e logo eu que nem sapatinhos vermelhos tenho, desatar a bater os calcanhares e gritar aos sete ventos, para quem quiser ouvir: “Eu quero ir para casa. Eu quero ir para casa. Eu quero ir para casa!”. É que a Sata não é propriamente mágica a acelerar voos e eu não sou propriamente exímia na arte de nadar Atlântico fora a caminho do meu porto, perdão Porto!
Foi há “coisa” de dois anos atrás, que de malas e bagagens nos mudámos do Porto para S. Miguel, naquilo que seria uma temporada de cerca de dois anos. Nos olhos, para além de um rio (Douro) preso em bagadas que me corriam face abaixo, levava uma ideia de “casa”, que me acompanha até hoje. Mas quem migra, sabe bem, que não é preciso mais do que algum conforto, bem-estar e carinho, no lugar que nos acolhe, para que o ninho se monte e de uma, logo passemos num ápice a ter duas “casas”.
Quem disse que com o tempo as despedidas se tornariam mais fáceis mentiu-me! Mais ainda, foi aldrabão o suficiente para me fazer acreditar, que se algum dia, eventualmente, por apenas uma das “casas” eu tiver que optar, que vai ser fácil, “deixa estar”! E neste momento, em que acabei de deitar a minha filha, no seu quarto, na sua cama, não sei se número um, se número dois, não me apetece nada fazer as malas! Porque S. Miguel é “casa”, mas Porto é berço! E não há berço que me embale como este! Por isso, e desde que pus pé fora do avião, fora da ilha, na passada sexta-feira, que repito de mim para comigo: “Casa é onde está o coração”… e eu, levo sempre o meu comigo, só assim, pelo sim, pelo não!
Quem nunca “migrou” talvez não me entenda, talvez não perceba a razão porque não “desfiz” completamente as malas desde que cheguei, mas também ainda não fui capaz de as “fazer”, deixando-as prontas para o voo que me espera amanhã, que me levará, de novo, de volta a “casa”! Quem nunca deixou para trás, numa porta de embarque de um aeroporto qualquer, pai e mãe, irmãos e tios, avós e sobrinhos, de emoção presa nos olhos e mão a acenar quando nos quer abraçar, talvez não perceba o porquê de eu agora, me despedir de todos em cinco minutos e não olhar para trás no embarque. Quem nunca chegou a “casa”, vindo de outra “casa”, talvez não entenda o prazer de redescobrir “ticos e tecos” seus, já esquecidos, deixados propositadamente para trás, só para nos fazer acreditar que vamos voltar, que havemos de voltar! Porque não é fácil, deixar uma “casa” para trás, ainda que seja para entrar noutra, logo a seguir.
Sempre que o avião aterra na ilha eu dou graças a Deus, primeiro por termos chegado bem e depois por saber, que também nós ficaremos bem! Demoro cerca de três dias a recuperar do “jet lag” emocional! É dose, digo-vos! Mas o incrível é que passa… e assim se leva uma vida, entre duas casas, entre dois lares, com a consciência de que, ao educar uma filha, desde os dois meses de idade, num lugar alheio ao lugar que a viu nascer, lhe estamos a dar, também a ela, duas “casas”… e mais ainda, dois berços, dos quais não sei bem, qual é que ela vai querer, para um dia, a embalar! Seja como for, um conselho lhe vou dar: levar sempre o coração atrás! E pelo sim pelo não, vou-lhe meter um par de sapatinhos vermelhos na mala… amanhã, porque hoje, ainda não me sinto capaz de a fechar. Hoje, deixo-me embalar…