quarta-feira, 30 de março de 2011

Caluda, que se vai cantar o “fado”! - no AO

Hoje, viro de página e mudo a tónica! Vou dar o grito do Ipiranga e contrariar a genética lusa do “vai-se andando”! Estou farta, fartinha, até à pontinha do meu cabelinho mais longo de ouvir falar de política, de crise, de austeridades, de rascas e à rascas e rasquinhas e estopinhas! Estou saturada de tentar fazer valer o meu ponto de vista e depois levar sempre nas vistas com os pontos dos outros! Por isso, o que não tem remédio, remediado está! É ir levando e puxar para cima o raio da moral, que até as agências de rating nos põem no “lixo”! Há vida para além da economia minha gente! E enquanto os políticos fazem mais campanha e menos política, a vida não se limita à espera da entrada do FMI no país. E nós, por estas alturas, pouco mais podemos do que continuar a puxar a carroça, enquanto “os outros” dançam um “sambinha” em cima do palanque que carregamos! E enquanto “o mundo pula e avança”, há muito quem ainda continue, sem saber nem sonhar, que “o sonho comanda a vida” (Pedra Filosofal)! Agora e sempre, continuamos a ser, a mais genuína e singular Amostra sem valor do universo! (Se não conhecem, percam lá por favor uns segundos a ler estes magníficos e intemporais poemas de António Gedeão – um poema por dia, dá saúde e alegria!) Hoje, estou exausta de tanta preocupação com a crise nuclear, com as guerras, o armamento, a hegemonia das nações endinheiradas e a crise dos mercados financeiros. Já não tenho força para preocupações ambientalistas ou a celeuma das energias não-renováveis! Já não consigo mais perder tempo a temer que um tsunami com 10 ondas de 13 metros me entre pela janela adentro, ou que a terra trema 700 vezes aqui na estufa de ananases no meio do oceano atlântico. Hoje, sou um “funcionário cansado de um dia exemplar” (António Ramos Rosa, para lerem amanhã)… com a consciência de que “Não sou nada./ Nunca serei nada./ Não posso querer ser nada.”, mas que aparte disso, como versou Pessoa, “tenho em mim todos os sonhos do mundo” (este para lerem no fim-de-semana: Tabacaria). E não, isto não é a Croniquice da “Poesia para Totós”, mas pura e simplesmente um desabafo lírico do lírico cansaço que carrego nos ombros, da sonolência e sensação de incapacidade que se encostou em mim nos últimos tempos… e que tento sacudir com toda a força, com gana, com genica, com estaleca! Co’a breca, temos mais vida do que as tristezas para chorar! Mas talvez seja este meu esforço, um esforço vão… porque não há como negar o código genético do Velho do Restelo… ai Camões, Camões… dizia a minha mãe, que perdeste um olho por “cinco tostões”! Deve ser por isso, que não estás a ver bem a coisa… “Amor é fogo que arde e não se sente”… mas eu sempre aprendi, que “quem não se sente, não é filho de boa gente”! Deve ser por isso Camões, que nós lusos continuamos assim… a lutar contra a força hereditária de um cepticismo, descrença e ilusões vãs, do Messias que a todos nos vai salvar! Quando no fundo, no fundo… é só connosco que podemos mesmo contar! Pena que seja tão bom acreditar! Mas hoje… hoje mudo de tónica e mando tudo à fava. Conto as horas para o fim do dia chegar e só quero “Ir esperar-te à tardinha/ Quando é doce a Natureza” (Florbela Espanca, uma beleza!). E assim, deixo-me levar pela doçura que ainda é gratuita, de me sentir feliz, com as coisas mais simples da vida! Um luxo, é o que é! Mas sou sincera… não aguento mais tristezas, por isso, não quero saber! Hoje, o mundo pode esperar, porque quando a noite chegar, eu prometo que te vou embalar… e não te deixo chorar! Que me dizem, acham que podemos sonhar!?