quinta-feira, 8 de abril de 2010

"Era uma vez..." - no AO 08.04.10

ESTOU EM CASA. STOP A CATRAIA ESTÁ DOENTE! (Yes Again) STOP! NO TIME FOR BLOggING!
Mas... Have fun com a última croniquice do AO, que ponho aqui para vocês... assim cheia de sono à uma da manhã e sem sair de casa há 4 dias... BEIJOS!
No mundo do “faz de conta”, das historinhas, do “era uma vez”, para além dos animais falantes, das fadas, anjinhos, sereias e seres que tal havia sempre um elemento imprescindível, que eram os “bons” e os “maus”. Os “bons” e os “maus” eram claramente identificados pelos seus actos e ajudavam a definir morais, a estabelecer padrões de comportamento. No final da história os “bons” tinham sempre à sua espera um final feliz e “para sempre”, enquanto os “maus”, se não se redimissem e aliassem à “liga dos amigos dos bons”, tinham à sua espera um castigo final e, por vezes fatal!
Semelhantes histórias, semelhante ficção, eram muito reconfortantes, porque no final sabíamos sempre, que por mais aventuras e desventuras os “bons” tivessem que enfrentar, tudo acabaria bem e o mundo acabaria por encontrar a sua ordem, o seu equilíbrio, a sua harmonia e paz!
No mundo real, nas histórias mais “realistas”, não há “bons”, nem “maus”, apenas seres híbridos e vacilantes, que ora fazem bem, ora fazem mal, em maior ou menor proporção, dependendo do prato da balança que pesar mais no momento!
Eu acredito, que não há ninguém inteiramente “bom”, nem ninguém inteiramente “mau”. Mas acredito também que há pessoas capazes de cometer os actos mais bondosos, sinceros e desinteressados e pessoas capazes de cometer os mais maldosos, indecentes e criminosos! O problema nos dias de hoje, a meu ver, é que se perderam as noções de moral caducas, transmitidas pelas historinhas de encantar, onde mentir era feio, enganar era punível por lei, defraudar, trair e matar eram crimes capitais imperdoáveis. Não sei em que ponto da nossa história se começou a achar que os maus conseguiriam escapar impunes, não sei em que momento se subverteu a moral de tal forma que acaba por se pensar que os “bons” são os “anjinhos inocentes”, que não conhecem a vida e nunca irão dar em nada e que os “maus” são os vilões endinheirados, intocáveis e idolatrados, os que se safam sempre! Todos sabemos que o caminho do mal é mais fácil, acessível a todos, que nem sempre o bem é facilmente realizável, que nem sempre é reconhecido, muito menos valorizado e aos que querem ainda fazer algum bem, aos que se sentem injustiçados vendo que os “maus” escapam e continuarão sempre a escapar, apenas resta o consolo de pensar na justiça divina, mas visto que isso é processo para se resolver só nas “altas instâncias” de uma próxima vida, frequentemente esse consolo é insuficiente e os bons, eternamente “inconsoláveis”.
Penso nisto enquanto vejo mais um episódio do Noddy com a minha filha e me apercebo que nem as historinhas infantis são o que eram, que até o Noddy, o suposto “bom” da história desconfia dos seus amigos, dos seus inimigos, os “maus”, e que apesar das historinhas acabarem sempre bem, ou com uma moral, nem sempre os “maus” se redimem, às vezes pedem desculpa a “fazer de conta” e acabam por se escapar até à próxima travessura… e entretanto penso, que para a próxima talvez lhe coloque o dvd do Ruca, ou o das Fábulas do Esopo! Mas a catraia apesar de pequena já sabe bem o que quer e não vai em historinhas, estou tramada! “No meu tempo não havia nada disto” e mesmo os heróis mais rebeldes, mais travessos, de cabelos despenteados e pés descalços eram rebeldes com causa, o Tom Sawyer, a Pipi das Meias altas, a Ana dos Cabelos Ruivos… mas isto talvez seja só eu, com saudades de uma “historinha à moda antiga”, em que os “bons” eram mesmo “bons” e vitoriosos, sempre, e os “maus” eram “assim-assim” e perdedores, para sempre.