sexta-feira, 19 de março de 2010

Palavras que o vento não pode levar...


Há momentos nas nossas vidas, no nosso desenvolvimento, no nosso crescimento em que parece que o mundo está todo contra nós! Já dizia o meu querido Rui “Não vês como isto é duro, ser jovem não é um posto,/ Ter de encarar o futuro com borbulhas no rosto.” Mas as borbulhas não duram para sempre, assim como não dura a eterna rebeldia da juventude e a idade vai pousando em nós com maciez, às vezes... Outras vezes cai-nos no colo de rompante e traz com ela uma quietude, um conformismo, responsabilidades e frequentemente, uma inversão de papéis!

Eu sempre fui miúda dona do meu nariz, que muitas vezes também foi dono de mim, pela sua forma arrebitada, que sempre me deu ar altivo, de quem sabe o que quer! Coisa, que nem sempre soube! A minha filha, herdou-me em rebeldia, o nariz, o temperamento e as ondas do cabelo! “Indomável”, dizem muitos, quando me vêem passar! Referem-se ao cabelo, pois claro!

Desde cedo sempre soube dizer o que pensava que queria, o que pensava ser aquilo que seria o melhor para mim. Os meus pais, respeitaram-me, sempre! Eu, pelo contrário, nem sempre os respeitei a eles! Parti bem jovem mundo fora com mil sonhos e desejos, para ver, que aquilo que sempre sonhei e desejei, afinal, estava bem aqui, no ninho, no sítio onde sempre estive!

A minha maternidade fez-me passar de filha única, para mãe única... e como mãe, vi que sempre tive na minha única mãe, tudo aquilo que um filho único pode querer! Dou por mim a dizer o que ela me dizia, a viver os mesmos sufocos, aflições e constrangimentos e o mesmo amor... às vezes, as semelhanças são tantas que dou por mim a pensar se o destino não nos andará a tramar! Com uma diferença... hoje há imensas estrelas no céu a dourar o meu caminho...

No dia do Pai não podia deixar de me lembrar dele, tanto ao quanto como me lembrar da minha mãe! Pois penso nos dois, sempre, como uma unidade, uma frente unida, ora para me fazer frente, ora para me aplaudir! Acho que deve ser assim mesmo, os bons pais, como as meias, deveriam vir sempre aos pares! Não que não ache que as famílias monoparentais não possam resultar ou ser igualmente felizes... penso que nalguns casos, ora por escolha própria, ora por falta de opções essa seja mesmo a melhor solução. Mas, para mim, que conheci mãe e pai, não me imagino a prescindir de nenhum deles na minha vida!

Ser Pai não é fácil, não é monetariamente bem remunerado, não é limpinho, não é sofisticado, mas é o melhor presente que se pode receber, porque se ganha uma forma de amor que não há igual, uma forma de perceber que juntos, em família, poderíamos formar uma pequena “sociedade”, um núcleo seguro, uma tribo, que fala o mesmo dialecto, embora conflituosa, por vezes, mas da discussão nasce a luz e assentando a poeira, a verdadeira felicidade reside no saber que o amor vingará, sempre!

Este é um hino a todos os filhos e a todos os pais, aos que estão aqui e aos que não estão, mas marcaram de tal forma, que mais parece que sempre estiveram!

Não posso deixar passar em branco, a importância dos avós e no dia do Pai, percebi que os avós são mesmo Pais com açúcar, com segurança, tranquilidade, carinho e amor a dobrar... e ao sentir isto não posso deixar de me sentir tremendamente culpada por privar, ainda que não deliberadamente, a minha filha do contacto diário presencial com os avós, e vice-versa...

Em conversa, ao telefone com o meu pai, disse-lhe:

- Sabes, hoje levava-te a almoçar!
Ao que ele respondeu:
- E eu ia, contigo e com a minha neta! Para depois a levar a passear!
E a isto seguiu-se um silêncio e um mudar de assunto estratégico! Porque esse silêncio de segundos disse tudo!

...e porque neste dia as ausências são ainda mais sentidas, aqui fica também o meu “oxalá” aos meus avós: avô Zé D’Arufe e avô Martins, pela herança que me deixaram ficar, a mais valiosa de todas... pais bem formados com toneladas de amor para dar! Para além disso, recordações boas, que guardo no coração e cores que trago gravadas nos olhos como marca genética de que sou e serei sempre neta deles, com muito gosto!

Por tudo isto e muito mais, espero que a minha filha saiba sempre valorizar o pai que tem, ainda que por vezes se possam desentender, ainda que por vezes deixem muitas palavras por dizer... porque eu sei bem, o que são essas palavras não ditas... talvez as mais importantes que alguma vez poderíamos dizer, mas que turvadas de emoção sincera e sentida, teimam em não sair!

É deixá-las ficar, pois quem é pai, sabe bem lê-las, ainda que não as ouça no ar!

"Benza a Deus" que é Sexta-Feira!


Lamento, Lamento muito... mas o mérito é todo Vosso!

Não tivesse eu tido um pai tão bom,
um marido tão perfeito
e não seria metade da mãe que sou!
Obrigada aos dois!
Graças à Vossa paternidade,
hoje, sou uma mulher completa
e muito, muito mais feliz!