segunda-feira, 30 de novembro de 2009

A Vergonha do Amor


Hoje em dia, já estou mais para o Romântico-Realista do que para o Romântico-Naturalista, que em tempos fui... Está certo, também muitas fases tive em que era mais Romântico-Decadentista ou Romântico-Existencialista, mas depois de ter conhecido o meu marido na minha fase mais Romântico-Nihilista de sempre, convenci-me de que o Amor é uma dádiva. Assim sendo, não adianta procurá-lo, ou nos é dado, ou não nos é dado de todo! Desculpem lá os cépticos destas visões mais práticas e redutoras acerca do amor, mas a verdade é que o Amor verdadeiro, aquele que parece que vai durar para sempre, não é conquistado, esse amor é-nos dado e cabe-nos a nós, agarrá-lo, ou deixá-lo fugir... e tenho para mim, que realmente, nestas coisas do Amor, não há muitas segundas oportunidades de apostar tudo na “chave de ouro”!
Muitas vezes eu própria me auto-censuro de ter estes pensamentos Romântico-Realistas, porque é muito mais utópico e maravilhoso pensar que se poderia trocar tudo na vida, por um dia de ilusão, mas a verdade é que a vida, se não a trocarmos por nada, tem entre muitas outras coisas, muitos dias de ilusão para nos oferecer!
Há algo que me aborrece nas pessoas que dizem que “ainda não encontraram a sua alma gémea”, ou que “ainda procuram o seu verdadeiro amor”, assim como se procura o penteado ideal para nós ou a carreira de sonho, ou a casa ideal. TRETAS! Digo-vos, isso é tudo uma GRANDE TRETA! Nunca se encontra o verdadeiro amor, nunca poderemos saber se já encontramos ou não a nossa alma gémea, se é que isso existe... e enquanto nos perdemos neste estúpido existencialismo do amor naturalista, o amor realista passa-nos à frente e a gente nem o vê! Por isso, ainda me espanto quando penso na sorte que tive, não em conhecer o meu marido, mas em não o ter deixado passar-me apenas à frente dos olhos!
Outra coisa que me aborrece é a sensação de posse, que toma conta das pessoas numa relação, sobre o “objecto” amado, quando nada nesta vida nos pertence... muito menos alguém! “Ninguém é de ninguém”, cantarola o outro com aquela vozinha de panisga, mas tem muita razão no que diz! Porque não somos de ninguém... e o que lixa tudo nestas certezas que sempre queremos ter nas relações monógamas é que não aceitamos a quebra da cláusula de exclusividade do contrato imaginado, porque: “assim perdemos o amor da nossa vida!”. Eu, da minha parte, folgo em dizer, que tenho vários amores na minha vida, um deles, é óbvio, é o meu marido, por quem tenho outros sentimentos, para além do amor, esses sim, mais que exclusivos, paixão, atracção, outros acabados em “ão”, mas por quem tenho também sentimentos, não menos importantes, mas não exclusivos, respeito, carinho, admiração!
Tudo isto para dizer o quê?! Que me revolta, que em nome do Amor, se cometam actos mais gravosos, danosos e letais do que na Guerra e para dizer que não acredito, que no Amor valha tudo! Muitas vezes porque nós próprios é que nos convencemos que há amor, onde de facto, se calhar ele nunca esteve! Porque amar, não é achar que não se podia viver sem a outra pessoa, é saber que se podia, sim! Mas é saber também, que essencialmente se teria uma existência bem mais infeliz e menos completa!
Quem morria de amor, eram as mulheres dos Séculos passados, consumidas pelo desgosto e pela tristeza, deixando-se definhar sob pretexto desse sentimento, quando na verdade, se assim o faziam é porque não tinham mais nada para o que viver... eram vidas vazias, sem grandes interesses, limitadas por uma sociedade, que lhes fazia crer que a família era tudo, e sem marido, não havia filhos, e sem filhos, não havia família e logo, não havia razão que sustentasse a sua existência... e todos sabemos que não há vida, quando não há razões dentro de nós para a haver! De resto, eu quero crer, que as vidas das mulheres deste Século estão pejadas de razões para elas viverem, e que todos sabemos, que há filhos, mesmo sem marido, e que também há maridos, mesmo sem filhos! Tanto jogo de língua, para tentar dizer aqui, que por A + B eu acho que a minha existência sem o Amor do meu marido não seria a mesma, mas sei que continuaria a existir! Porque Amar demais é perigoso, amar sem noção dos limites do amor e das relações, também... e no fundo, tenho pena que as pessoas se aproveitem do pior que o sentimento do Amor desperta nelas e se limitem a fazer cumprir a sua vontade sobre a vontade de quem pensam que amam, mas não amam de facto... Porque amar, às vezes, também é deixar partir! Uma mãe, sabe bem disto, e não me parece que haja no mundo sentimento de amor, mais forte, do que o Amor de uma mãe pelos seus filhos. Hoje, que estou longe da minha mãe, tenho por ela uma amor mais forte do que pensava que tinha quando a tinha por perto, porque nunca devemos tomar o amor como garantia, porque o amor não a tem! Assim como também não há prazo de troca para amores com defeitos, porque o limite desse prazo é o limite desse mesmo sentimento!
Acho que se tivéssemos mais Romântico-Realistas neste País, tínhamos menos fatalidades cruéis em nome do Amor:


“Vítima de violência doméstica durante anos a fio, Maria Manuela Costa sempre sofreu em silêncio. E a madrugada de ontem voltou a ser de pesadelo mas, logo pela manhã, a mulher de 35 anos encheu-se de coragem e foi à GNR de Montemor-o-Velho apresentar queixa. Encaminharam-na para o hospital, só que o marido, ex-fuzileiro, seguiu-a e foi matá-la com dois tiros de caçadeira, dentro da ambulância, em frente ao posto.”


Para mim, não tem perdão, nem há arrependimento possível. Para mim, o pior castigo será este ANIMAL olhar nos olhos da filha de 5 anos para o resto da vida dele e ver que a privou do maior amor, que alguma vez a vida poderia ter oferecido a esta criatura inocente, a quem ele deu a vida, mas negou tudo o resto!


Não tem perdão. E isto, não foi um acto em nome do Amor. Quem comete um acto destes, não tem pingo de Amor no coração!