sexta-feira, 29 de maio de 2009

Trojans, Worms, Virus, Spyware e bichezas informáticas...

Tem piada… só quando estas coisas nos acontecem é que nós vemos o quão dependente somos destas nossas novas “bengalas”.
Acordamos de manhã um dia… e se elas nos falham, andamos a mancar por ele fora!

Neste caso específico, refiro-me ao computador e à Internet… mas poderia referir-me a mais mil coisas e coisinhas a que recorro no meu dia-a-dia, com as quais criei uma relação de dependência tal, que dou por mim a pensar, que não seria já capaz de viver sem elas! Os meus “sine qua non” em forma de coisas: computador, telemóvel, máquina digital, máquina de lavar loiça, máquina de lavar roupa, tv cabo, gps, ipods, não podes, mp3s e cds!

Então foi assim, que esta semana, pela fresquinha, logo no começozinho dela, me deparo com uma infestação de worms e trojans no disco do meu computador, amigo de historinhas e croniquices 1000, que me reduzem a velocidade de 1000/h, para uma travagem brusca de 0! Nicles, Patavina… Rien de rien! O que fazer, Meu Deus… levantei as mãos ao Céu e acendi uma velinha aos anjinhos dos pseudo-escritores em forma de bloggers! Mas, o que fazer?! Estava tudo parado e de que forma… É que não abriam janelas, não corria anti-virus, não mudava o pirosérrimo aviso de spyware, que se me auto-instalou no fundo do ecrã… estava assim… impotente, reduzida a cliques de puro desespero, afundados numa ausência de resposta informática.
Assim, lá vou eu, cautelosa, em passos lentos e modo de segurança, (literal e não literalmente, entenda-se…) tentar sacar os bichinhos do meu disco duro, file, a file… busca bobby busca, com uma pequena ajuda do “Guia de PC's para Totós”, em forma do informático lá da empresa. E é assim, que hoje, lá estamos nós, no final da semana e já com um lento, mas por enquanto eficaz acesso à internet, ficheiros e programas!
Mas (e como não poderia deixar de ser) tudo isto me levou a reflectir acerca da dependência que nós criamos de coisas tão passíveis de “falência” como são os computadores e os gadgets a esta nossa nova Era associados… andar sem telemóvel, nem pensar! Cristo, Credo, Jesus Maria José… que mais me valia andar nua por essas ruas fora do que sem tal apetrecho! É que no maldito dia, em que calhamos de ficar “descarregados”, é o único dia em que tudo nos liga com assuntos urgentes, inadiáveis e para ontem! Estou certa que já passaram por isso…
Está bem… bem sei, que estes nossos novos “andarilhos” nos ajudam e muito, por estas caminhadas duras e modernas do Século XXI, mas já diziam os budistas, que só através do desapego às coisas materiais somos livres de verdade. Hoje, facilmente, com a ajuda do telemóvel, internet, gps e blablablas se controlam os passos e movimentos de quem quer que seja!
Não me entendam mal, pois segundo esta filosofia de vida… pessoa mais presa que eu não existirá com certeza, mas será que não devíamos tentar evitar o uso destes acessórios enquanto dependência e passar a usá-los enquanto… bens que servem os nossos interesses?! É que presos como eu há p’rái carradas, resmas, monelhos deles! Alguns bem mais escravizados do que eu, para quem o fim normal de um desgastado PC ou telelé significariam uma verdadeira catástrofe tecnológica!
Chamem-me Dinossauro, Homo Senilius ou o que vos valha, mas já tenho saudades de ver as mães lá do prédio nas janelas a berrar cá para baixo, chamando os filhos para jantar em altos berros e grandes ganas, em vez de ver os miúdos agarrados ao telemóvel de última geração a mandar sms’s e a escrever “tax cota. Xa to a ir!”… É que já toda a gente sabia, que quando a nossa mãe chamava a primeira vez, eram mais dez minutos de jogos, quando chamava a segunda, já só nos restavam cinco e quando ela gritava o primeiro e segundo nome era dar corda aos vitorinos e “pernas para que nos valem” se não queríamos arriscar chegar a casa e levar uma conversinha amena com o pai em forma de puxão de orelhas e sacudidela do género: “Não ouviste a tua mãe?!”. Ah! Bons velhos tempos… agora, nem as professoras mandam recados para assinar, pelo encarregado de educação… permitindo-nos exprimir a nossa criatividade em forma de artes abstractas, na nossa melhor tentativa de assinatura da mesma! Não! Mandam emails! Pfff… Já estou a ver a minha filha, a tentar por todos os Noddys deste mundo descobrir a palavra passe do meu mail, para apagar aquele comunicado da falta às aulas de Suas Excelentes Rebeldias! Ao menos aí demonstrava engenho… Clap, Clap, Clap em antecedência para ela… quanto a mim, restam-me alguns anos para inventar uma, de que não me esqueça e ela não descubra! Valha-lhe um vírus nessas alturas...

Pelo sim pelo não, a partir de agora e depois de semelhante susto, vou passar a desamar o meu computador e gostar apenas dele, assim como quem usa e abusa, sem deixar remorso! Juro não mais suspirar por aquele Samsung lindo e cheio de pi-pi-pis que brilha na montra da TMN ao lado do seu monstruoso preço! E prometo que vou tentar não ignorar os avisos de cookies indigestos a cair na barriga do disco do meu pczinho…. sniff, sniff!

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Uma questão de gosto...


São três da tarde nos Açores e acabei de passar o chão do escritório a pano. Antes disso, varri-o e arrumei uma série de caixas com material para entrega a clientes, que por estarem à uma data de dias no mesmo sítio, estavam a começar a ganhar um certo pó e aspecto “rebelde”! Não foi por gosto que o fiz, não é por gosto, que me levanto todos os dias da cama, cedo, realizando todas as tarefas, que me competem e tentando aproveitar as horas da melhor forma, para que não sinta o dia a passar.
Não é por uma questão de gosto, que me encontro neste momento a desempenhar as funções, que me competem, mas sim, pela consciência de que na impossibilidade de fazer ou realizar as funções, que realizaria por gosto e com gosto, isto, é aquilo, que me dá sustento e alguma independência monetária!
Não foi por isso com estranheza, que este fim-de-semana, em conversa com algumas individualidades, com bem mais “importância” social e etária do que eu, me deparo com o seguinte espanto da mesa a um arremate meu…
“ e gosto…” disse eu! “… sem gosto não lhe saíam tão bem…”!
Isto, a respeito do trabalho de uma senhora, que para além de Engenheira Agrónoma, desempenha a maravilhosa função de fazer bolos para fora, bolos esses, que só vistos e provados de tão lindos, originais e saborosíssimos que são. E no meio de tanto elogio, alguém comentava: “Ah, porque para isso essencialmente é preciso ter jeito…”, ao que se seguia outro: “ jeito e tempo”… sim e mais mil e tal competências, enumeradas no decorrer da conversa, durante a qual apenas a minha exclamação dissilábica levantou um silêncio de admiração e surpresa… GOSTO! Como se ninguém se lembrasse sequer de que isso pudesse ainda existir!
Mas será assim tão difícil de acreditar, que nos dias que correm ainda alguém trabalhe por gosto?! Bem, ao que parece naquela mesa ninguém se lembrou desse pequeno pormenor… à semelhança daquilo que acontece na maior parte dos nossos dias… é que numa altura de “crise crítica” como aquela em que vivemos é de levantar as mãos ao céu, a agradecer um trabalho, ainda mais um emprego, mas deixem-me que vos diga… que quem desempenha a sua função actualmente e com gosto ou por gosto, deveria colocar uma velinha a todos os santinhos, insulares e continentais!
É pena, que as nossas preferências e “gosto” se façam ver em tantas vertentes do nosso quotidiano, por vezes até nas coisas mais triviais, como a escolha de uns sapatos, carro ou móvel e não se verifiquem, na generalidade das vezes, naquilo que eu considero essencial na vida de um indivíduo: a sua realização profissional, o seu “métier”!
Isto porque, se pensarmos na maior parte dos profissionais, que desempenham funções actualmente, em quadros de empresas, públicas ou privadas, poucos serão, aqueles que as realizando, as façam com gosto, ou por gosto! E isso pode sentir-se na forma como muitas vezes os lemos como “maus profissionais”, “incompetentes” ou mesmo “antipáticos”. Não quero com isto dizer, que todos que realizem as suas funções sem ser por gosto, não possam ter empenho e brio na realização das mesmas, de forma tão competente, simpática e profissional, que por vezes nem se denote sequer essa falta de gosto tão óbvia… ainda assim acredito, e baseando-me na minha experiência pedagógica de aprendizagem e ensino, que a falta de gosto é amiga da falta de motivação, que por sua vez são inimigas do sucesso e da competência! Apenas espíritos fortes resistem a inimizades tais!
Bem sei, que mesmo se tendo o seu “emprego de sonho” nem tudo são rosas, mas como diz a sabedoria popular… “quem corre por gosto não cansa!” e embora por vezes se pare para carregar baterias… o essencial é que não se desiste de correr! Nunca!
Eu ainda não desisti de correr atrás do meu “emprego de sonho”, qual louca apaixonada, esperando o seu “Príncipe Encantado”, o seu verdadeiro amor em forma de sapo ou sapato… e se por vezes me canso… venho até aqui e escrevo… “porque quem escreve por gosto não cansa”! Espero que quem o leia, também não! E é por uma questão de gosto, que hoje aqui deixo esta minha reflexão de início de semana, para que não se esqueçam de preservar o gosto, ainda que seja em parte, de tudo aquilo que fazem!

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Quizzei-me toda!


Bem… DE RIR! Acabo a semana com a moral em cima, de tanto me rir, mas mesmo até às lágrimas com uma série de testes espanhóis à minha personalidade que acabo de fazer online no FaceBook…

Vou contar-vos como tudo aconteceu… Estava eu na minha vidinha, a pôr a caixa de emails em dia e no mínimo 5 amigas me mandam um convite para me ligar no FaceBook, para trocar fotos, matar saudades e perlimpimpim… resumindo e concluindo, e porque já estava farta de apagar os emails com os convites, lá resolvi eu, céptica mas voluntariosa, criar o meu perfil no dito site!

Diga-se de passagem, que aquela história até nem é complicada, mas para quem se habituou ao “ram-ram” do Hi5, até tem que se lhe diga… Ora eis senão que… dou por mim a descobrir amigos do tempo de Erasmus, muitas delas casadinhas e com filhos, e outros sempre iguais a si mesmos! Mas é que me calhou mesmo bem, nem imaginam, porque me subiu a moral de uma forma, muito mais eficaz do que com o Guronzan!

Continuando… Estava eu então a descobrir as potencialidades do meu novo programinha de eleição e vejo o perfil de uma amiga espanhola, daquelas de quem matei as saudades de morte, porque é como família para mim, e eis senão quê… vejo o resultado de um teste de quizz, que ela fez, que lhe dizia, que se ela fosse uma personagem histórica era o Ghandi! MATEI-ME A RIR… mas vocês lá imaginam o Ghandi a apanhar a bebedeira da vida dele, numa disco do sul da Alemanha, com o brilhante nome de “DASDA” e a sair de lá de rastos até à bicicleta, para percorrer 5 kms na neve, às 4 horas da manhã e comer croissants quentes no fabrico da confeitaria local?! Pois… eu também não… mas este Ghandi espanhol no feminino, fez tudo isso e na companhia aqui da “je”, que em melhor estado que o farrapinho do Pseudo-Ghandi, ainda assim também não merecia a beatificação!
E muito bem, claro está, qual interesse pueril e curiosidade fatal, lá trato eu de me dedicar também à resposta de uns quantos “quizzezitos”. Pois muito bem, e porque quero partilhar convosco, não só as minhas angústias e tristezas, aqui estão os motivos das minhas gargalhadas de hoje…

Quizzei-me toda e os resultados foram:

Se fosse uma personagem histórica seria… FREUD! Pois é, pasmem-se lá… mas isto piora, esperem só!

Se fosse uma frase de cinema seria… “WE WILL ALWAYS HAVE PARIS”, do filme Casablanca, mas esta já eu sabia…

Se fosse uma frase do Homer Simpson seria: “Normalmente não rezo, mas se estás aí, por favor, Salva-me SUPER HOMEM!”, esta também era previsível… não fosse eu loira até ao tutano…

Se eu fosse uma palavra era... “Enamorada”, enfim embora o meu coração esteja em baixo da cabeça, parece que lhe ganha sempre aos pontos, mas esta também não surpreende assim tanto!

Como são os meus beijos…. “doces”, bem, não sei bem o que isso quererá dizer, mas estão a ver, que a partir daqui já estava por tudo… Venha o próximo!

Que coisas absurdas gosto e que nem sabia... “contar gotas de chuva numa vidraça”! CLARO como água! Ó ‘messa! Estou-me mesmo a ver a fazer isso, preferia contar os pelos das pernas… Next!

Qual a figura de Hollywood com que mais me pareço… (e por este resultado agradeço a todos os santinhos mentirosos e enganadores…) Nicole Kidman. Tomem lá que esta é de borla… mas porquê?! Perguntam vocês?! Ora aqui vai a explicação no falar de nuestros hermanos, segundo eles: “eres Elegante y distinguida. eres presumida, te gusta maquillarte. eres atractiva, tu estilo es sencillo y elegante. eres timida pero cuando rompes el hielo no hay quien te pare. eres simpatica, abierta a nuevas amistades i eres muy enamoradiza. te gusta mirarte en el espejo, i te gusta cuidarte. tambien eres luchadora i llegaras lejos en la vida. eres trabajadora, inteligente y astuta. sigue asi que llegaras muy muy muy lejos!” – Ora, que dizer?! CONCORDO! Só não sou tão plástica… nem tão pálida… Graças a Deus, mas gostei… e tudo estava bem até…

E guardei o melhor para o fim… então não é, que andei eu anos na Faculdade, entre Licenciaturas e Pós-Graduações, a perder tempo a encher a cabeça dos meus pobres pupilos, com sabedorias de treta, quando a minha verdadeira vocação é ser… CAMIONISTA! Pois muito bem, meus amigos, preparem-se para a minha partida… embarcarei em breve na minha maior aventura… MAKTUB! E agora percebi a história do “llegaras muy, muy, my lejos”, que de Espanha, “nem bons ventos, nem bons casamentos”… Com esta já me tramaram! Do estilo… Escreves tão bem, mas tão bem, que servias era para conduzir um camião! Mas como dou sempre a volta por cima, até já sei qual a frase ideal para o meu camião: SÓ EU SEI PORQUE SOU CAMIONISTA! Não fazia um brilharete?! Ora digam lá!
Bom Fim-de-Semana Queridos! :)

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Recordações (de) amigas...


Olha só p’ra nós, onde estávamos à coisa de um anito atrás…

Porque recordar é viver, hoje apeteceu-me “viver” as minhas belas amigas, que tão carinhosamente se juntaram há um ano atrás, para me inundarem a casa e conhecerem o meu rebentinho! Que saudades vossas amigas… das nossas gargalhadas, brincadeiras, conversas, desabafos e “tonterias”!
Porque uma amizade como a nossa, é prova de que nem todas as mulheres se odeiam de morte umas às outras e porque vale a pena recordar todos os momentos bons e maus do nosso percurso. Algumas amigas de faculdade, outras ainda amigas de escola, mas todas amigas de coração!
A J., finalmente Mestre e vivendo o seu perpétuo e sereno amor de pedra e cal com o P.
A D., sempre igual a sim mesma, fiel amiga, dedicada e calada, mas sempre presença activa, qual militar batendo continência ao amor que a une ao nosso também grande amigo Q..
A N., perdida no balanço das terras bifas e viagens aos continentes americanos e africano, levada em palavras de literaturas femininas, sempre apaixonada amiga e divertida.
A A., a determinação em pessoa, que em Angola vive o seu casamento feliz, e nós aguardando notícias do bebé mais caliente que se seguirá.
E por fim, a S., a minha eterna companheira de combate aos “moinhos”, qual Sancho Pança e D. Quixote.
Só lá faltaram mesmo as companheiras de carteira, turma e escola:
X., que se rendeu aos encantos da noite diurna de uma longínqua Finlândia e aos braços de um nativo, prova de que a nossa alma gémea pode estar nos lugares mais estranhos….
E a M., amiga devota e querida mãe de um afilhado mais querido ainda, que morro de pena de não ver crescer.

Tenho saudades das nossas conversas amenas, acesas e das completamente incendiadas e das nossas noites de festa e farra com confidências e desabafos à mistura! Vocês que muitas vezes funcionaram como escape para a minha “panela de pressão” merecem todo o bem do Mundo!
Este texto é para vocês, porque acredito que as homenagens deveriam ser feitas em vida e não quando já não sabemos se nos ouvem ou não!
A distância não apaga os passos por nós dados em conjunto, que recordo com carinho, sempre! Estou aqui para o que der e vier, só queria que soubessem disso!

Paternalismos


Que a nossa Sociedade anda meia às avessas, que se rege por princípios, sem princípios e morais amorais, já todos nós sabemos. Mas ainda me choca a forma, como nós adultos conscientes, agimos e actuamos em relação às nossas crianças no nosso País. Pois se há valor, que penso que ainda se respeitaria neste País era o valor da Criança. Casos como o da Esmeralda, Joana e da Menina Russa, metido tudo no mesmo saco, bem apertado e espremido acaba tudo por demonstrar uma e apenas uma coisa: a falta de respeito que se demonstra neste País pelo direito das Crianças a ser amadas, ser felizes e ter um lar!
Nós adultos, perdendo-nos em meandros de explicações terminológicas, mais ao menos teatrais sobre os nomes, que nos dão: pais biológicos, pais afectivos, pais adoptivos ou pais de acolhimento, acabamos por nos esquecer daquilo que realmente interessa… os nossos filhos!
E quando falo em nossos filhos, falo em todas as crianças que passando sob a nossa égide de adultos, maiores de idade e emancipados, temos por obrigação de cuidar e educar. Falo de crianças que vamos trazendo a este mundo e que nunca pediram para nascer!
Aquilo que não devemos esquecer é que, pai é quem ama, quem se esforça, quem se mata por amor, ao invés de matar sem ele. As crueldade infligidas, diariamente em crianças inocentes e que nada mais pediram do que um colo e alimento, escandaliza-me e leva-me aos píncaros da raiva! Não aceito que em pleno século XXI se cometam atrocidades em nome do amor de pai/mãe a crianças, hoje menores, mas amanhã maiores, pejados de traumas e malformações socio-familiares, que para sempre condicionarão as suas personalidades enquanto adultos activos e presentes na nossa Sociedade!
Criam-se crianças e não se educam, não se lhes ensina o valor do amor ou da vida e o que estamos nós à espera?! Que amanhã todas se transformem em adultos exemplares?!
Meus Senhores, vamos lá ver, aqueles que pensam em amanhã ainda cá andar, como eu, que tenho por objectivo definido morrer em forma de cadáver bem velhinho e feio, mas carregado de experiência, pensem bem se querem a empurrar as vossas cadeirinhas de rodas estas crianças traumatizadas, mal amadas e fatalizadas pelos nossos erros jurídicos ou más decisões de percurso de Pais de título, mas não de afecto.
Ponham a mão nas vossas consciências, como eu estou a tentar pôr na minha e façam-me o favor de fazer felizes os vossos filhos. Nem sempre o nosso interesse e felicidade deve vir em primeiro lugar… isso sim, é saber ser Pai!

quarta-feira, 20 de maio de 2009

A Cabine


Não sei bem o que me levou a vir para este País… não sei bem como me ocorreu deixar o meu sítio de nascimento, coração e família para tentar a sorte num País alheio, em tudo tão diferente do meu, começando nos costumes e levando-me em pontapés na gramática de uma das línguas mais complicadas que já ouvi falar!
Estamos em Outubro e até hoje a temperatura neste País me continua a agradar. Não tem o frio gelado e branco do Inverno Russo, mas tem chuvas e ventos frios de gentes caladas e desconfiadas, que me olham sub-repticiamente num misto de desconfiança e pena sempre que lhes passo ao lado carregando em mãos mais uma filha que a vida me deu.
Natasha. Escolhi-lhe esse nome, porque a minha filha mais velha, que deixei na Rússia com a minha mãe, tinha uma boneca com a qual dormia e que apelidou de Tasha. Esta nossa “nova boneca”, a minha Erika, a mais velha, ainda não conheceu… mas vai conhecer um dia! Espero! Hoje tive leite para lhe dar, mas amanhã não sei como será… desde que nasceu temos dormido num casebre para os lados da Bela Vista, mas como o tecto é de papelão, em noites de chuva corro em braços com ela para fazer da cabine mais próxima um lar para nos acolher.
A Natasha dorme. É linda e loira como a irmã e ao afagar-lhe os cabelos, acaricio as duas! Hoje vai chover… antecipo as pingas pelo tom acinzentado que começa a cobrir os céus lusos e recolhendo uma pequena trouxa de roupas e coisinhas nossas de haver e ter, corro para a cabine familiar. A minha filha tem medo da chuva e chora assustada quando os céus rebentam! Queria tanto um lar para lhe dar! Queria um marido melhor também e não um, que nos vendo em dificuldades tenha proposto vender a nossa filha! “Ainda nem a conheces”, dizia ele para me convencer… “Vendemo-la agora que é bebé e pagam mais… e assim também não lhe ganhas carinho!”. Fugi, lembrei-me agora o porquê de estar sozinha nesta cabine telefónica e parece-me tão melhor agora! Canto-lhe em russo uma musiquinha de embalar e quero imaginar que tenho moedas no bolso e ligo para a Rússia ficando a cantar para a Erika e para a minha mãe também. No outro dia, numa das casas onde por vezes faço horas, uma das poucas, que me aceita a trabalhar com a bebé, vi de relance na televisão uma Rússia, que em nada me lembra já a minha… “Nazdarovia”, dizia a Senhora da casa, recostada no sofá, enchendo-se de bolachas de chocolate e lamentando-se das varizes nas pernas, que não acusa nas tardes de compras e chazinhos de Sintra.”Nazdrovia”, corrigi eu, sem ela se aperceber e sorri, porque mesmo ignorando o significado da palavra, a senhora acaba de me desejar Saúde!
Os dias vão passando e as minhas tarefas ocupam-me o tempo, concentrada apenas na ideia de ter o suficiente para mandar para casa, fugir ao meu marido e ter um sítio para dormir com telhado em lata ou telha, para não ter que voltar a dormir na cabine, naquele aquário de comunicação interdita, que nos torna espelho da miséria aos olhos do mundo e alvo dos olhares de soslaio de quem não quer saber, ou querendo nada faz.
Hoje estou nostálgica… tenho saudades de casa e do meu idioma. E talvez por isso tenha aceite o convite de uns amigos russos, que também estão cá, e que prometendo ajudar-me com a bebé e dar-me esta noite um prato de comida quente, me levaram a aceitar algo que não é bem aceite no meu País, “a esmola”. Ao chegar todos nos recebem na nossa língua materna! Fiquei feliz. Conto-lhes a minha situação, mas a única sugestão é… entregar a minha filha para um casal de patrões criar. Nego. Não a vendi, não a vou entregar! Explicam-me que seria temporário, só para poder trabalhar e ganhar mais dinheiro, mas saio pela porta a correr! Não cheguei sequer a provar a sopa quente que tinham preparado para o jantar!
A fome aguento-a bem, desde que a menina tenha que comer. Da Erika, a minha mãe trata, da Natasha tratarei eu.
Passou mais um ano e a minha menina, agora quase com dois, fica doente. Em mais uma das muitas noites na nossa cabine coloco-lhe a mão na testa e vejo que está a ferver. O meu coração aperta e procura nas ruas algum olhar de quem me possa ajudar! Não posso procurar a senhora para quem trabalho, não a quero transtornar, não vá ela despedir-me para não ter que me aturar! Ninguém gosta de viver dramas pelos outros, que nos poderão fazer acordar para a nossa própria condição humana. Lembro-me dos meus amigos, dos seus conselhos, dos seus patrões e prometo a nós as duas, que amanhã a entregarei para que a tratem bem. Será temporário, prometo. Esta noite, deixo-me acolher nesta nossa cabine, mais uma vez, talvez na última noite em que será nosso porto de abrigo. Canto-lhe a canção de embalar e esqueço por momentos a febre e a tosse, o nariz a pingar e o meu coração que chora!

As "sem-Razões"...


“Deixa a Vida me levar, Vida leva eu…”, porque comecei a semana assim. Em mood de relax total harmonia e serenidade. Uma paz imensa perturbada apenas por uma ligeira neura de origem desconhecida, que me perturba até ao meu mais fundo e íntimo sentimento e me leva a encarar a vida com um misto de tranquilidade e apatia que não me deixam reagir!
E muitas vezes é mesmo assim, esta neurinha “de domingo” chega sem avisar, mesmo a meio da semana para nos fazer lembrar de que é a vida que nos leva e não nós que levamos a vida!
Porque chega um dia que nos troca as voltas e nos faz encarar a Vida como móbil e não móvel. E é assim, que numa quarta-feira, mais uma, de trabalho e felicidade em tudo igual a todas as outras eu deixo a vida “me levar”…
Não há pior do que quem se queixa de “barriga cheia”, até mesmo para o próprio queixoso, que na maior parte das vezes nem percebe muito bem do que se queixa exactamente! Mas “há razões que a própria razão desconhece” e é assim que me encontro hoje, em plena tempestade de harmoniosa neura, lavada por uma revolta de a não entender e deixando-me levar pela vida!

Ainda assim e sem inspiração, escrevi estas palavras, para justificar a minha ausência e a falta temporária de móbil para a minha móvel escrita!

A quem veio procurar textos inspirados e reflectidos deixo um samba de leveza, porque mais nada lhes posso hoje deixar…

“Vida Leva eu…”

sexta-feira, 15 de maio de 2009

À Rasquinha para deixar de ser Rasca…


Olá! Lembram-se de nós?! A Geração Rasca?!
Ora, pois muito bem, ainda aqui anda mais um espécimen perdido em lutas de sobrevivência do dia-a-dia, e à rasquinha para deixar de ser Rasca!
Mas será que não bastou passarmos toda uma adolescência, com o Cognome escrito na testa, descredibilizados e apupados pela nossa mentalidade “fútil”, de grunge de pátio da escola, com charrinhos e gazetas à mistura, mesmo para quem nem os fumava, nem as fazia!?
Foi tão triste sermos julgados, só porque a “onda” na altura era um Kurt Cobain, atordoado, um Axel em calções de ganga xs e camisa de flanela, um toque de nostalgia e depressão ao som de The Smashing Pumpkins, Alice in Chains e Silverchair!
Para quem, como eu, já não se lembrava ou nem sequer chegou nunca a saber, a origem desse nosso mui nobre título, devo aqui anunciar, que todo o mérito se deve ao Exmo. Senhor Vicente Jorge Silva, actualmente colaborador do jornal Sol e que em 1994, director do Público nos dedica todo um editorial, aquando das revoltas estudantis, entre outras coisas contra o aumento das propinas. Os estudantes do universitário, secundário e não só, juntaram-se então para dizer: “Ó Leite Estás a Azedar!”. Ainda me lembro, de ter participado na célebre manif, na altura ainda manifestação, de cartaz em riste, 14 anos ao rubro e plenamente convicta de que iríamos conseguir levar a nossa avante! A Rua 31 de Janeiro cheia de estudantes como eu e um universitário que nos saudou, dizendo: “É assim mesmo, porque esta luta também é vossa, afinal de contas amanhã são vocês a pagar!”. E voilá! Lá nos rasquizamos todos e as propinas subiram na mesma e toda a minha turma deixou de acreditar que a sua opinião, valia de facto alguma coisa!
Não sei se se lembram, mas foi também nessa altura, em Lisboa, que alguém se lembrou de mostrar o real traseiro, a modos que… em jeito de falta de palavras, toma lá disto! Rasquíssmo acto, de resto… nada como as agressões diárias no parlamento e faltas de respeito das nossas classes dirigentes! Que se me dessem a escolher: lixarem-me o dinheiro em descontos para a Segurança Social e afins, ou mostrarem-me o rabiosque… eu sempre preferia satisfazer a curiosidade e ver de que cor seriam eles feitos na verdade!
Mas é karma, só pode… porque de geração rasca, passamos a geração à rasca! Em muitos casos, à Rasquinha…para nos aguentarmos num dia a dia, de canudo na mão, com a consciência dos milhares pagos em propinas, que tanto jeito nos fariam agora, em que os míseros ordenados de 500 Euros, que recebemos como balconistas, administrativos, empregados de mesa e outros, mal nos chegam para pagar as despesas fixas, quanto mais para pagar propinas aos nossos filhos!
À rasquinha andamos nós agora, à espera de crédito e oportunidades, para vivermos uma vida independente e condigna. À rasquinha para que nos reconheçam mérito e capacidades e nos paguem de acordo com o nosso real valor… e depois… depois o que é que se nos dá para fazer?! Para que mais uma vez nos ouçam?! Pois muito bem, criamos blogs! Afinal de contas, aqui quem manda somos nós próprios, escrevemos o que nos dá na real gana e quem quiser ler, lê!
Acho que aquilo que de Rasca permanecerá para sempre em nós é só mesmo um afaz desejo de ser ouvidos e fazer valorizar aquilo que acreditamos ser nosso de direito: um ensino mais justo e para os nossos filhos e pessoas uma VoZ, numa Democracia, que afinal de contas deve ser de todos! Não vos mostro o rabiosque, mas mostro-vos aqui as cores de que sou feita… verde esperança e revolta, de nos definirem os actos, condicionarem a vida e não nos deixarem nunca mais viver, sem ser à rasca!
Quem me dera conseguir de novo moralizar toda a minha “Geração Rasca” e voltar para as ruas a gritar: “Não pagamos, não pagamos…” não pagamos os descontos da Segurança Social, que de nada me servem ou servirão, não pagamos o dobro pelos combustíveis, não pagamos a vossa falta de competência, não pagamos as taxas e impostos ridiculamente altos, que nos andam a impor, não pagamos o exagero das taxas de juro aos bancos, nem os créditos de habitação descontrolados, não pagamos o facto de o País estar em crise e não ser dirigido pela nossa Geração!
Diz um velho provérbio, que “a necessidade aguça o engenho”… pois o que pensam vocês?!… Eu entendo que, o nosso já deve estar aguçado ao máximo! Deixem-nos ter lugar em cargos de responsabilidade, dêem-nos oportunidade de mostrar aquilo que os “Rascas” sabem fazer… Eu cá, pagava p’ra ver!

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Debaixo do mesmo sol...


Se há sonoridade que me faz vibrar são mesmo os sons dos batuques, sítaras, bambulecos, kalachakras e dijiridus. Hoje de manhã, despertei ao som da música de um dos meus grupos favoritos de todos os tempos… quem me conhece já adivinhou! A música levou-me até a um maravilhoso concerto na Cratera das Sete Cidades, onde a páginas tantas desata a chover, como só nos Açores… o vocalista diz então: “We are all under the Sun” e começa a música… magia ou não, efeito de sugestão ou pura coincidência pára de chover e a noite presenteia-nos com uma brilhante lua cheia e um luar limpo e sereno.

Ainda no balanço dessa música saio de casa, mesmo a tempo para ouvir uma conversa de elevador de alguém que dizia: “Mas isto só me acontece a mim!?”
Não sei se teve resposta, não conheço o contexto, que despoletou aquela pergunta indignada, e porque estava entre o corredor e a porta de saída e atrasada, como sempre, continuei a minha caminhada!

Já no escritório, e sem razão aparente, lembrei-me daquela indignação?! E da quantidade de vezes em que teci exclamações do género ou ouvi alguém a fazer o mesmo… “Isto só pra mim!”. Motivadas pelas mais variadas razões e nos mais distintos contextos.
Lembro-me de uma ocasião… daquelas manhãs que correm tão mal, mas tão mal… em que só nos lembramos, que não devíamos ter saído da cama, em que lavada em lágrimas me lamentei entre soluços e fluídos, “Isto só me acontece a mim”… ao que uma voz da sabedoria respondeu: “Não, isso acontece a muita gente, mas agora és tu quem está a senti-lo!”.

E é verdade… o que me leva de volta à canção do meu despertar, que nem vozinha do subconsciente me recorda: que nós estamos todos debaixo do mesmo sol!
A verdade é essa e só essa…e é pena que perdidos nos nossos próprias dramas, dilemas e “vidinhas”, não sejamos capazes de entender, que todos somos iguais… todos partilhamos um mesmo sol, lua e planeta! No fundo, todos humanos, com o mesmo género de preocupações e dilemas, quer tenhamos uma casa de luxo, quer um grande amor e uma cabana!

Lembro-me de muitas vezes dar por mim a pensar que deveria ser a única pessoa com problemas nas relações, dúvidas e inseguranças… e quanto mais me enterrava nesse meu “EU – Problema”, mais me isolava, quando no fundo… a minha solidão e isolamento momentâneo não eram mais do que voluntários!

Tenho uma amiga “piquena”, que no alto dos seus 18 anos acha que está a viver o maior drama da sua vida, sentindo-se sozinha, totalmente isolada e com vontade de desistir… tudo porque acabou com o namorado, com quem ela pensou passar o “resto da vida”… e haverá lá coisa mais dramática do que aos 18 anos achar que se vai passar o “resto da vida” com alguém, que se está a começar a conhecer sob o pretexto de umas curtes, tardes bem passadas e finais de aulas a trocar sms’s e a planear idas ao shopping ao fim-de-semana… Um Drama!

Já lhe tentei explicar, por A + B, que se ela não se der valor a ela própria, nunca ninguém a valorizará, porque a pessoa no mundo que mais a ama… é ela própria! A Auto-estima, a segurança, a consciência das nossas virtudes e defeitos são meio caminho andado para a nossa valorização aos olhos de alguém! Muitas vezes se cai no erro de se colocar o “outro”, antes do “eu”, quando se o “outro” existe na nossa vida é: porque “eu” o quero! Mas acho que só a idade nos traz destas sabedorias e as palavras não chegarão nunca para nos demover de aos 18 anos lutarmos pelo “amor da nossa Vida”, que na maior parte das vezes está completamente errado para nós e em casos raros, acaba por ser a pessoa com quem passamos efectivamente algum resto de vida.

“We are all under the Sun”, e apesar de ele por vezes se esconder em zonas micro - climáticas das nossas vidas, o Sol está sempre lá e regressa todos os dias depois de cada noite… basta querermos sair de casa para o ver!

quarta-feira, 13 de maio de 2009

A Nossa Casa...


Hoje, foi um daqueles raros dias em que me deram umas saudades mortais da nossa casinha…

Lembrei-me de como, enquanto ainda namorávamos, dizíamos em tom de brincadeira, que os quartos de hotel, ou residenciais por onde passávamos nas nossas feriazinhas e escapadelas, eram as “nossas casas”… “a nossa casa em Sintra”, “a nossa casa em Porto Covo”, “a nossa casa em Zeist”, “a nossa casa em Utreque”, “a nossa casa em Lisboa”, “a nossa casa em Veneza”, “a nossa casa na Póvoa do Lanhoso”, enfim… tivemos uma bela maquia delas e em todas deixámos as nossas pequenas recordações.

Mas, quando chegou a vez de termos a nossa própria casa, desta vez MESMO nossa, e quem sabe para sempre. Escolhemos o nosso pequeno apartamento, de janelas altas e espaços amplos… e depois, perdemo-nos na decoração da dita… e tu, tu perdeste a cabeça, medida e a conta com o número de vezes, que nos “enterramos” no IKEA. A “nossa casa IKEA”.

Os amigos foram dando umas peças, para acrescentar à decoração, nós colocámos as nossas próprias… as máscaras de Veneza, as velas da minha perdição e todas as fotos e recordações dos sítios, lembranças, pessoas queridas e amigos que guardámos. Depois veio a menina e foi a “febre” da decoração do seu quarto de bebé… os ursinhos, as tulipas, os véus, a caminha… o dilema dos tapetes!

Engraçado como nos prendemos a estes pequenos pormenores, recordando as nossas “esbutenadelas”, com tanto carinho como quem recorda um amigo ou alguém especial.

Tive saudades do porta-retratos digital, prenda de grandes amigos, conhecedores das minhas taras por fotografia e lembrei-me de o mandar trazer para cá… afinal de contas sempre daria para matar saudades de pessoas e sítios e lembrar com carinho o nosso caminho! Mas depois, achei melhor não! Não quero tirar nada da nossa casa! Porque assim tenho a ilusão de uma certeza, que acabaremos por voltar para lá. Não dá para perceber, eu sei!

No fundo a “nossa casa em S. Miguel”, também já é nossa e acabei por dar o meu “toque” e o vosso “cheirinho” a este nosso novo lar.

Não costumo ter saudades de coisas materiais, mas as coisas que fomos juntando, os nossos “tarecos e pechisbeques”, acabam por ser tanto de emotivo, como de material.

Acho que não se esquece nunca a compra da primeira casa e a aquisição de uma nova forma de independência. E agora, se me permitem, acho que me vou deixar continuar com estas minhas saudades mortais, afinal de contas, tenho direito a elas…

terça-feira, 12 de maio de 2009

Chocada!


Chocada.

A palavra exacta para descrever a forma como me sinto em relação a uma notícia, que acabei de ler. Notícia essa que ocupa o centro da primeira página do jornal de hoje, talvez o mais lido da ilha. “Homem confessa ter morto a esposa a martelo”, é o título.

Escandalizada e intrigada sobre as razões que poderiam levar alguém a matar outra pessoa, com quem já fora casado, de forma tão atroz e brutal, decidi partir para a leitura das páginas do artigo. Ao que parece, a razão/motivo para este “assassinato”, (sim, porque não é uma morte, não me lixem), foi o desejo de divórcio expresso pela “mulher”! (Sim, mulher, não me venham com eufemismos, em notícias do género, porque quem assassina desta forma alguém com quem é casado, não “mata a esposa”, mas sim “assassina uma mulher”!)

Pelos vistos, alegadamente tendo ido ao quarto em que dormia a mulher, para fazer as pazes (ao fim de oito meses a dormir em camas separadas), surpresa das surpresas, é confrontado com a revelação da mulher, que lhe comunica, que não só desejava divorciar-se dele, como já se tinha envolvido com outro homem. Ora, razão o bastante, para este assassino pegar num martelo de pedreiro, lhe esmagar a face e crânio, alegando ainda perante os filhos que ela “teve o que merecia” e mais tarde, perante a polícia, (depois de lhes abrir a porta e os ter convidado a “ver o que ele tinha feito”), que se esta “ainda não estivesse morta, ele trataria disso”! Perceberam o meu choque?! Não?! É que ainda há mais… ao que tudo indica o homem estava “calmo, como se não se tivesse passado nada” e em tribunal ainda pediu desculpas à família, dizendo que “ se pudesse voltar atrás, voltava”!

Não, não é por ser mais um crime, baseado em motivos supostamente passionais, nem sequer por ter sido uma mulher a vítima… mas pela crueldade na forma de matar e mais ainda na frieza dos comentários efectuados após o acto de assassinato cometido a uma pessoa com quem se esteve casado 19 anos, ao que tudo consta!

Choca-me, choca-me e deixem-me que vos diga, ainda bem que assim é… é sinal que nesta cabecita ainda há lugar para o respeito pela vida humana, pelas escolhas das outras pessoas e acima de tudo para uma crença, uma fé de que a humanidade não pode ser isto!
Não adianta nem sequer tentarem explicar a razão deste crime, ou de outros do género, por sinal, que justificação nenhuma me levará a ficar menos chocada!

Lamento, a perda da mãe de 2 filhos, de uma mulher, que teve a coragem de mudar o rumo da sua vida e de um ser humano, que como outro qualquer não merecia semelhante fim.
Para sempre na lembrança daquela filha, ficará um rosto desfeito de uma mãe gemendo, ensanguentada em seu leito e de um pai frio e cruel de martelo de pedreiro na mão, considerando que a justiça tinha sido feita, como se a justiça fosse algo ditado por vontades e desejos egoístas, sádicos e irracionais. Ou eu muito me engano ou estamos a precisar de novos conceitos para a justiça e o mérito neste País.

Meus Leitores desculpem, este momento menos colorido, mas não é olhando para o lado que estas coisas deixam de acontecer e este blog também é um lugar de liberdade, para pensamentos de revolta e indignação contra uma humanidade em falência, que traz o que de pior há no ser humano ao de cima, sob a capa de justificações virtuosas, em nome de um ego ferido e de um amor perdido.

Assistimos em primeira página ao anúncio do assassinato da Vida de uma mulher, e em simultâneo à confissão de Assassínio da Humanidade de um homem.
Os meus Pêsames aos dois, foi uma grande perda para ambos!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Sem palavras...


... não há palavras para contar esta história, nem cronicar acerca do assunto.
A Mulher a 1000/h calou-se e parou para ver: os primeiros passos da filha!
:)

Pensem comigo, Vá Lá!!!


Mais um domingo… mais um filme domingueiro, que nos entra pelos olhos sem percebermos muito bem, nem como, nem porquê… mas desta vez, e nem sendo sequer muito fã do género dei por mim a ver, aos bocadinhos, aquele filme do Jack Black e da Gwyneth Paltrow, “Shallow Hal” ou “ O Amor é Cego”. Para quem já viu, dispensa apresentações e quem ainda não viu devia ver… para pensar e não apenas para se limitar a gargalhar, que sendo propício a isso, pode ir muito mais além…

“O Amor é Cego”, é certo e sabido… não estou aqui para contestar nenhuma velha máxima, conquistada e adquirida em séculos de Humanidade, mas até se amar… será que somos cegos?!
A minha dúvida é esta, se por um lado é dado adquirido, que quando se ama, muitos dos defeitos da pessoa amada são ignorados, por cegueira inconsciente ou voluntária, antes de amarmos essa pessoa não existe máxima alguma, que justifique a falta de visão! Ou haverá?!

Quando se conhece alguém será que somos forçados pelo destino a amar essa pessoa, para além dos seus defeitos físicos ou de carácter?! Ou será que escolhemos amar essa pessoa?! Será que a cegueira antes do amor entrar em cena é voluntária?! Consciente?! Ou é o que já tinha que ser!?
Num mundo, como o de hoje, a imagem é tudo… muitas vezes sobrevalorizada, a verdade é que a importância da imagem na nossa Sociedade actual condiciona oportunidades, comportamentos, opiniões… mas será que condiciona relações?!

Sei de vários amigos com opiniões bem formadas a respeito do “seu tipo” de mulheres, assim como tenho várias amigas que procuram apenas um “tipo” de homem. Mas será que a procura por este tipo é consciente?! Sentir-se-ão elas forçadas a procurar este “tipo”?! E se o destino lhes apresentar o Grande Amor da vida delas, num tipo com o “tipo” errado?! O que acontecerá!?

Voltando ao filme… o personagem masculino, possuidor de uma “superficialidade” extremada, procurava um e apenas um “tipo” de mulher, de características bem definidas, inibindo-o de ter sucesso com todas as outras mulheres e nas suas relações, pois não se permitia sequer conhecê-las de verdade! Não passava para além do aspecto das mesmas. Um dia, enfeitiçado por um “guru”, vê a beleza interna das pessoas reflectida na sua imagem e encontra o verdadeiro amor da sua vida, que vendo com 50Kgs, pesava só mais 100! No final, e não fosse isto Hollywood no seu melhor, tudo acaba em bem, ele desenfeitiçado, escolhe na mesma o amor daquela mulher “acima de peso” tanto em carácter como em figura!

Dei por mim a pensar se não seria bom estar sob um feitiço do género… para poder ver na imagem das pessoas o seu verdadeiro carácter reflectido… seria tão mais fácil! Mas a imagem é um embrulho, que muitas vezes super embelezado esconde “presentinhos” bem desagradáveis.
Não procuro a perfeição no meu carácter, que admito desde já não a possuir, de todo! Mas muitas vezes desejei ter ido para além do “embrulho” e ter percebido antes da abertura o conteúdo do “presente”!

Nevertheless, tudo está bem quando acaba bem e passinho a passinho se aprende a andar! Com quedas e hesitações pelo meio… mas desejava, se calhar em vão, que o mundo não fosse tão fútil e que nós fossemos mais humanos, no verdadeiro sentido da palavra.

Há uns anos atrás, lembro-me de ter visto pousados numa mesa uns currículos anotados, depois de umas entrevistas para um emprego, em que a anotação que mais me chocou foi mesmo: “gorda de mais e com cabelo oleoso”, em tudo o resto o currículo da pessoa em questão era o ideal. Podia ter sido uma colega fantástica, trabalhadora pontual, bem-disposta e eficiente, mas era "gorda de mais" e tinha "o cabelo oleoso"… requisito essencial de resto, de quem quer ser bom empregado: Nunca ser gordo, nem ter cabelo oleoso! "Preguiçoso… é desculpável", "mal-educado… é compreensível…" agora "cabelo oleoso"?! Valha-nos Deus e as divindades deste mundo e do próximo!

A verdade é que as Leis do Mercado a estas atrocidades obrigam, a mentalidade de uma sociedade vitimizada por uma Moda do Belo, um culto do Perfeito em imagens tratadas, artificiais e em nada correspondentes com a natureza do envelhecimento e a própria natureza do Ser Humano fazem de nós alvos fáceis em julgamentos precipitados e penalizadores. É pena… “Temos Pena!”, dizem eles, quando a pena sentida ao lado do pesar assenta.

Numa segunda-feira cinzenta, em que o Verão se faz esperar, deixei-me perder nestas filosofias… “Pensas Demais!”, dizem eles… talvez pense, mas não há pensar sem pesar e numa segunda-feira cinzenta, de ilha e de pouco sol não há peso que não se sinta, nem sentimento que não pese!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Feminina, Feminista, nada disso ou um bocadinho das duas?!


Há algumas Croniquices atrás (era este Blog ainda um bebé), ficou prometida mais uma, explicando, ou tentando explicar, algumas das diferenças entre uma mulher feminina e uma mulher feminista. Pois muito bem, como neste Blog, as promessas não são políticas e são mesmo para se cumprir, aqui vai a minha melhor tentativa…

Existe desde logo uma grande diferença entre os dois conceitos, que é o facto de um ser facilmente aplicável, tanto a indivíduos do sexo feminino, como masculino… entenda-se, o adjectivo “feminino”! Veja-se que, tanto se diz de uma mulher, “ser feminina”, como de um homem, que pode “ter um lado feminino”, ou até mesmo ser “feminino até osso”!
Ao passo que, “feminista” já não será tão facilmente utilizado em referência a um espécimen, macho de sexo e mentalidade!
Ainda que, aqui entre nós, que ninguém nos ouve, fosse bem melhor, na minha opinião conhecer um homem feminista em lugar de um feminino! Que eu cá sou muito fã de barba e pêlo no peito.

Ora muito bem, em segundo lugar, uma outra diferença aplica-se aos contextos em que ambos os conceitos se utilizam… e se por um lado, “feminino” é utilizado, quase sempre num contexto de aparência física, aspecto exterior, preferências ou gostos de alguém, “feminista”, refere-se ao contexto das ideias e mentalidades.

Em traços largos, podemos dizer que uma mulher pode ser feminina, sem ser feminista, feminista sem ser feminina, pode ser ambas as coisas, um bocadinho de ambas e quiçá, nenhuma delas! Baralhados?! Continuem a ler…

Uma mulher é feminina, se usar maquilhagem, vestidos, tacão alto, for fã de padrões florais, cozinha, tupperwares e jeitos subtis e delicados, em tudo contrastando com o carácter cliché tipo “sensibilidade sola de sapato”, associado frequentemente aos indivíduos do sexo oposto. Mas uma mulher assim, pode admitir todo o género de assédios, rebaixamento, submissão em relação ao homem e ao seu papel na sociedade, ora… uma mulher assim é feminina, mas não é feminista!

Uma mulher feminista quer igualdade social, entre homens e mulheres, levada ao extremo, uma feminista chega mesmo a considerar, que a mulher, enquanto indivíduo do género feminino é superior ao homem, pobre “macho” sexual, rude e rudimentar… ora, isso não é feminino, pois uma mulher feminina, jamais usaria semelhante vernáculo em relação ao sexo oposto!

Mas, e em tempos de vigência de hibridismos e fluidez de géneros, uma mulher, pode ser feminina e ainda assim feminista. Imagine-se uma frágil e elegante criatura, no seu mais fino vestido de seda floral, sandália de tacão altérrimo e malinha da Loui Vitton carregadinha de Cliniques e sephora kits, que se revolta contra o tipo, que lhe tenta abrir a porta da rua do prédio, tudo porque ela é perfeitamente capaz de o fazer sozinha e chegando a casa põe o marido a cozinhar, porque desta é ela que precisa de “me-time” e ele também tem mãozinhas que “Deus lhe deu” e um “certain je ne sais quoi”, que permite o mesmo “savoir faire” doméstico a meninas e meninos… ora, esta criaturinha de Deus, é nitidamente feminina, mas podre de feminista.

Também há mulheres, que recusando todo e qualquer apetrecho feminino, como brincos, malas, sapatos de tacão, cozinha, livros de receitas, aeróbica e pilates, se colocam de igual para igual com os homens, mas não numa de defender a igualdade dos géneros, antes mais denegrindo a mulher, esquecendo-se até mesmo às vezes, que apesar de G.I.Janes, também elas o são… mulheres… mas nem por isso, femininas ou feministas! São aquelas raparigas da nossa turma na escola, que nos batem e tiram os laços do cabelo e chamam mariquinhas, enquanto jogam futebol com os rapazes e dão coça neles, “mano a mano”… semelhantes muitas vezes até no aspecto. Estou certa que perceberam a imagética!

Ainda há muito quem pense, que por uma mulher escrever textos, supostamente femininos, que um dia ainda me vão explicar o que isso é… logo à partida é feminista, mas no pior dos sentidos!
Ora, se me permitem, agora aqui faço a minha própria defesa, para que depois não me encham os ouvidos de “feminista, bla, bla, bla”, que ainda admita que o possa ser em parte… (sou daquele tipo “um bocadinho feminina e um bocadinho feminista”)… não o sou radicalmente.

Sendo mulher e apreciando um pouco de feminilidade na minha aparência, não dispenso os meus berlicoques e tunnings de menina, valorizo na mesma o respeito, que alguns homens ainda guardam pelo sexo feminino, no sentido de abrirem portas e deixarem passar à frente, perguntando se precisamos de ajuda para carregar os sacos; sabendo porém que sou perfeitamente capaz de abrir portas sozinha, até a minha filha o faz e tem 11 meses, sei esperar nas filas e “sure as hell” consigo carregar sacos…

Mas irrita-me que me chamem de feminista, só porque acredito que uma mulher também pode escrever ou trabalhar tão bem quanto um homem. Acredito que não é por falar de tópicos da minha vida, que sendo mulher, acabam por ser tópicos femininos, (se bem que não sou muito adepta dessa teoria do género dos tópicos… desde quando é que o amor é tópico feminino?! Quanto muito seria assexuado, ou hermafrodita) estes se tornam imediatamente feministas. Acredito que, a mulher por ainda ser vista na sociedade enquanto mais frágil, pela maior parte dos mentecaptos, vê muitas vezes as suas próprias atitudes e estilo de vida condicionados. Acredito que devemos exercer o nosso direito de voto, pois durante séculos, mulheres como nós lutaram, para que esse dever também fosse nosso de direito. Acredito que não devemos deixar de nos expressar só porque se falarmos mais fininho nos chamam de “esganiçadas”, se falarmos mais alto nos chamam de “histéricas”, se apontamos críticas somos “ressabiadas”, pois venham os insultos, que a falta de originalidade dos mesmos já não deve assustar mulher alguma….

Uma coisa a que continuo a achar graça é o facto de, se um homem criticar, do mesmo modo e nos mesmos termos que nós é um “iluminado”, um “corajoso”, se fizer uma acrobacia na estrada é um “ah! valente”, um “artista”, enquanto que uma mulher é uma “histérica, ressabiada”, “trenga” e que “não sabe conduzir”! Não é por ser feminista que não lido bem com estas coisas, metam isso na cabeça… é por ser mulher!
Sendo mulher e sentindo-me mulher em todas as minhas vertentes, capacidades e potencialidades como mulher, indigna-me que não me tratem com respeito, que sejam condescendentes com segundas intenções e que me encarem com “palas nos olhos”!
Talvez seja mesmo um pouco feminina e um pouco feminista, mas não sou radical e assim como admiro muitos homens, pelas suas características de género (não se julguem só as físicas… mal-intencionados leitores!), também admiro e respeito muitas mulheres.
Por desejar ver mais mulheres a chegar ao poder, bem vestidas sempre (… claro está…) será que isso faz de mim feminista?! Não… faz de mim uma mulher, que acima de tudo é um ser humano e deseja uma sociedade mais justa… pois sei, como muitos de vós certamente, que se muitas mulheres não chegam mais longe, nomeadamente a nível profissional é porque lhes “cortam as pernas”, não só homens, entenda-se, que muitas vezes nestas ascensões as “mãos divinas” de certas “Virgens Marias”, invejosas e de percepção baixa são bem mais fatais. Mas a inveja, como digo não é produto de exclusividade do homem ou da mulher… é comum aos dois e mais acentuada em alguns indivíduos e indivíduas do que noutros e noutras…

… e já agora, estas coisas dos machismos nos géneros das palavras, também seriam assunto interessante para se cronicar… mas essa, fica em promessa! Que aqui a “je” tem marcação no cabeleireiro… (mulher um pouco feminista, mas também e sempre um grande bocadinho feminina! - “Got it?!”)

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Pedro ainda procura Inês!?


Um post sobre o amor nos tempos modernos…

Sentada no meu carro, perdida em divagações, ouço uma música na rádio, que me leva a fantasiar sobre a situação transformada em melodia. A música em questão é a “The man who can’t be moved”, dos The Script…. Quem não conhece, faça o favor de se apresentar! Vale a pena e fala de um tipo de amor, paixão e dedicação, que parece extinta nos tempos modernos.
O amor para sempre está, aparentemente, fora de moda, as paixões são efémeras e o valor nos nossos dias parece estar no ser individual, perdido em prazeres de emocionantes “one night stands”, mulheres extra-independentes, sem attachments e homens bem sucedidos, solteiros, livres e 100% metro-sexuais.

Ainda me recordo de quando, ao saber do meu casamento, em tom irónico, um amigo me desejava “ muitas filhinhas iguais a mim, vestidinhas de cor-de-rosa e sujas de chocolate”, enquanto eu estaria “gorda e de pijama a cozinhar para o maridinho”! Ora, gorda ainda não estou, as filhinhas iguais a mim, estão em processamento, sendo que a única até agora produzida, apesar de vestir cor-de-rosa, ainda não come chocolate… e para dizer a verdade, nada me faz mais feliz do que uma noite de relax, em pijama a cozinhar para o meu maridinho! Mas, a verdade é que para uma grande parte dos meus amigos, pelo menos os mais fashion e top-of-the-top, o tipo de vida que levo, com o tipo de objectivos que alimento são aquilo, que eles resumem numa palavra: “vidinha”!

É verdade, que a minha vida, passando a “vidinha”, me fez perder uma série de privilégios sociais: não vou ao cinema quando quero, já não me lembro da última vez que passei um fim-de-semana na cama, nem da última bebedeira de caixão à cova, regada numa bela jantarada entre amigos. Também não me lembro da última vez que fiz uma saída de amigas, para me enterrar uma tarde no shopping, nem da última vez, que levei o meu cartão de crédito à exaustão em compras no El Corte Inglês… mas lembro-me bem, do último sorriso da minha filha, do seu cheiro a bebé, das suas gargalhadas, das suas conquistas diárias, dos braços abertos e à minha disposição no corpo do meu marido, da nossa casa, das nossas férias, da nossa nova independência e da construção desta minha nova família.

Não me ocorre nada mais romântico, do que um homem desesperado, que se proíba de sair do canto de uma rua, na esperança do reencontro de um amor perdido… ou talvez ocorra, não sei se se lembram do tão falado caso do “Pedro procura Inês”, o poeta, eternamente procurando a sua Inês, que encheu a nossa capital de cartazes e as nossas cabeças de dúvidas, afinal de contas ele até um blog tem! Será que afinal, ainda há esperança para o amor nos tempos modernos... musical, literário e real?! Um amor como os do tempo do Pedro e da Inês, um amor ao estilo Romeu e Julieta, mas com um esperançoso final feliz.

“Casamento… Credo, mulher, que coisa deprimente!”, arrematava mais uma voz ao meu anúncio de noivado! “Mas porquê?! Tu nunca foste dessas coisas?!”. O Casamento nos tempos que correm, funciona como um género de anúncio de fim ao amor! A verdade é que, enquanto nos contos da nossa infância perdida, o livro acabava quase sempre com um “casaram e foram felizes para sempre.”, nos dias de hoje, os romances ou contos modernos começam com “Casaram e os problemas começaram...”.

Muitas das vezes se parte, nos dias que correm, para o casamento com a ilusão de que nada irá mudar, quando na verdade, tudo muda!
Imagine-se este amor poético entre um Pedro e uma Inês, em Lisboa, ou no Porto, que depois de blogs, poemas, e anúncios, finalmente culmina no encontro apaixonado dos dois, que decidem casar, marcando assim para sempre o amor dos dois, através do laço de união simbólica, que é o casamento. Enfim casados, começam os “problemas”... o empréstimo da casa, ou a renda mensal, a decoração da dita, a partilha nas tarefas diárias e a organização rotineira das mesmas, os jantares em casa dos sogros, os palpites da família, a escolha do carro novo, a decisão de ter um filho, o processo de uma gravidez, as inseguranças, as dúvidas, a escolha do nome, se é o do meu pai, ou o do teu, se será Afonsinho ou Patrício, a educação dos meninos, a escolha das fraldas, do pediatra, da Creche… enfim, tudo isto faz parte de um casamento, que acompanhando o passar dos anos nos desvenda todas as intimidades do outro, quebrando os pequenos truques e segredos escondidos da nossa pessoa, figura, carácter. “Um tédio…”, diriam muitos… pois quem assim pensa, não se case, aviso eu já, pois das duas uma, ou não foi deveras nascido para o casamento, ou então ainda não encontrou a sua "Inês"! Mas a verdade é que, um amor para sempre, a isso obriga! E um amor para sempre isso quer.

Afinal de contas, quem melhor do que a Cinderela para conhecer o ronco do Príncipe Encantado, as suas peúgas espalhadas pela casa… sorte a dela, que naquela altura, talvez ainda não existissem sanitas, nem tampas, nem cadeirinhas de bebé para o carro… imagine-se (quem é conhecedor da causa), as discussões que aqueles dois não evitaram!

O problema, é de quem, como eu, idealizava uma vida ao estilo Angelina e Brad, com 700 filhos e 3000 empregados, deixando tempo para escapadelas às Bahamas, jantarinhos regados a Möet Chandon, com roupinhas de milhares de euros a cobrir os corpinhos em forma… bem ao estilo Cinderela e Príncipe Encantado dos tempos modernos, mas assim como a Cinderela foi só uma, e nem existiu de verdade… Angelina, sem senão também não há! E o Brad e o Príncipe Encantado também só devem ter em comum o facto de deixarem as mulheres a babar em frente às revistas e televisão!

O amor nos tempos modernos está em crise, como a economia e já vão longe os tempos em que a maior prova de amor era guardar um lenço da amada no bolso, uma mecha do seu cabelo ou uma fotografia em miniatura… hoje, isso seria considerado obsessivo, doentio e comportamento típico de um serial killer em potência, camuflado sob a pele de um pseudo Don Juan, tarado e mal afamado.

Grandes provas de amor, são hoje em dia, escapadelas milionárias de fim-de-semana, o novo relógio da Ómega ou o maior anel de brilhantes, que a loja tiver.

Pois, eu dispenso a escapadela, o Ómega e quanto ao anel, estou em dúvida, (afinal de contas não há loira, que se preze sem o seu eterno melhor amigo!)… mas a verdade, a verdade, verdadinha é que ainda me derreto toda por um bilhetinho de amor, um poema sarrabiscado e quiçá um anúncio numa parede de um homem “who can’t be moved”!!!

Viva os Pedros que por este País fora ainda procuram as suas Inês e as Inês deste país, que ainda não perderam a esperança….

terça-feira, 5 de maio de 2009

Mãe:


“Mãe há só uma!”

Engraçado como ao ouvir esta expressão, não consigo deixar de me lembrar da anedota, contada entre gargalhadas de amigas num tempo de escola, que cada vez parece mais passado e menos meu! Para quem não conhece, reza a dita anedota em traços largos, (até porque isto de contar anedotas não é MESMO o meu forte…), que tendo sido solicitado a todos os meninos da turma, que escrevessem uma “historieta” para o Dia da Mãe, incluindo a frase “Mãe há só uma!”, o Zezinho escreveu a seguinte pérola: “A minha mãe pediu para ir buscar uma cerveja para ela e outra para o meu pai. Eu abri o frigorífico e gritei: Mãe, há só uma!”.

Para além da gargalhada óbvia, que faz saltar imediatamente como pipocas em mim, esta anedota esconde uma grande verdade, que a maior parte das vezes, quando dizemos esta frase, a utilizamos em contextos, semelhantes ao da historieta, e raramente o dizemos à nossa mãe, directamente. Por mim falo, que me lembro raras vezes de lhe ter dito o quão única a acho, o quão a prezo cada vez mais a cada dia que passa e que mãe, só há uma! Como ela não tive mais nenhuma!

Muitas vezes, no entanto, lhe gritei a alto e bom som, por vezes até enfurecida… “Mãe, há só uma!” … “Coca-Cola”, “camisa passada a ferro”, “chiclete na tua carteira”, “ bolacha no pacote”, como se a responsabilidade de todo e qualquer contra-tempo, que pudesse surgir no meu dia, fosse da sua total e completa responsabilidade. Ela, por seu lado, paciente e sem revoltas, me indicava outro armário, gaveta, pacote ou se disponibilizava para passar mais uma camisa ou comprar mais umas chicletes… realmente “mãe há só uma!”

Agora que sou mãe, guardo em mim uma secreta esperança que da boca da minha filha “Mãe há só uma!”, se refira sempre a mim, sem vírgulas nem contextos domésticos, seguido de um abraço forte e um beijo repenicado, daqueles que só as mães sabem dar! Sei agora, que secretamente, talvez também a minha mãe continue ainda a alimentar essa esperança… e tanto me rebelava eu contra o tipo de beijos das mães! Contra isso e contra as lambidelas em jeito de limpa a cara ao gatinho… que agora insisto em fazer à minha filha!
Isto realmente “mãe há só uma”, que nos servindo de exemplo, somos nós e as nossas mães! Uma única, “farinha do mesmo saco”!

No passado Domingo, o meu marido presenteou-me com uma bela pulseira de pendentes em jeito de prémio de mérito por sucessos na minha carreira de mãe, ao longo de um ano de vida… a minha filha, por seu lado, presenteou-me com a sua primeira palavra: “Papá”!
Rejubilei de contente… “mãe há só uma!”.

E como o Dia da Mãe é como o Natal, "quando uma mulher quer", hoje, aqui deixo o meu “Mãe há só uma!" – Obrigada pelo amor incondicional, perpétuo e pelo dom da vida!
Mãe, há só uma... palavra para ti, desculpa ser tão tardia… "AMO-TE"!

segunda-feira, 4 de maio de 2009

História de uma paixão noutra voz…

Não trazia nada no cabelo, mas ele já trazia tudo só por si. Ondas encaracoladas, doiradas e leves, que saltavam levemente com o pousar dos seus pezinhos, pequenos e delicados.
Nos pés trazia umas sabrinas amarelo doirado, em plástico, que em tudo realçavam a brancura da sua pele.
Percorri-lhe todas as veiazinhas do braço com um só olhar. O vestido, levemente em forma de balão, branco e em bordado inglês, com um laço à cintura. A pulseira de amuletos brilhantes e soltos, tilintando no seu movimento.
Ao colo trazia a filha, loira, como ela, branca, como ela, menina, como ela também! Com um vestidinho cor-de-rosa, florido e abalonado, também ela brilhava naquela entrada, naquele jardim, naquela tarde.
Eu observei, enquanto ela, dançando em roda dos presentes, cumprimentava uns e outros. Beijando só no ar uns, dando apertos de mão suaves aos outros.
Ela era a elegância em si. A beleza por si. E era, no fundo, tudo aquilo que eu não tinha nunca visto até aí. Fugi, desviando-me ao lado do seu olhar alheio à minha existência e evitei as apresentações e cumprimentos naquele momento de embaraço.
Aquela tarde passou, sem que ela me visse. Entre uns pratinhos leves de refeições ligeiras e pratos carregados de sobremesas calóricas. Entre conversas de ocasião e diálogos familiares. Então ganhei coragem… preparei-me para encará-la, estudei uma abordagem discreta, não a queria assustar e quando lhe ia perguntar o nome da pequena, que trouxe toda a tarde agarrada à anca, vi o marido aproximar-se também… passou-lhe a mão pelos cabelos, ai como o invejei nesse acto, e beijou-a. Não evitei e não deixei de a olhar, fixando todas as suas rugazinhas de esforço, que ela dedicada aplicou naquele beijo terno e casual. Agora, que estava mais perto, notei-lhe as duas safiras, carregadas por aquele rosto menino e mulher, que traziam em si, todas as gotas do oceano. Apaixonei-me.
Rendi-me por completo a esta imagem de anjo, semi-criança, semi-mulher. Sentei-me na relva quente, inclinei as costas para trás e percorri, na minha lembrança, todas as imagens que guardei dela. Juntei-lhe a sua voz e imaginei-me em diálogo com ela. Falar-lhe-ia da filha, do sol, do calor e do mar. Tencionava falar-lhe também, quem sabe um pouco de mim. E deixei-me ficar assim, de olhos semi-cerrados, em diálogo com ela… estava um dia lindo e a lembrança da imagem dela ia chegar para me alimentar sonos e sonhos para o resto dos meus dias. Porque um amor, como este, que se sabe impossível é mesmo assim: sonha-se, não se quer viver!
A páginas tantas, deixando-me cair sobre a relva, deixei também cair em mim, uma dúvida inquietante, como seria o seu nome?! Não queria imaginar um nome para ela, porque estaria a trair a verdadeira essência da sua pessoa… mas também não o poderia perguntar a ninguém, seria estranho esse interesse da minha parte, em relação a uma pessoa, que acabava de ver. Quem me conhece, sabe que não faz parte do meu feitio, perguntar indirectamente esse tipo de coisas. Tentei acalmar-me, dizendo de mim para mim e repetindo-o para mim internamente a alto e bom som, que não era importante, que essa curiosidade ia passar, que era irrelevante, mas levantei-me. Na minha cabeça, um objectivo. Juntar um nome à imagem, que me havia de acompanhar. O seu nome. O nome dela.
Procurei-a e dei com ela sentada, perto de uma arvorezinha, à sombra, aproveitando para mimar a sua bebé, que parecia relaxar a cada toque seu, cada sussurro, cada som de embalar que ela lhe soprava ao ouvido. Era a minha oportunidade. Aproximei-me….
Lentamente e sentido a aproximação dos meus passos ela olhou para mim. Estremeci. Ela, sorriu…
- Olá! – disse – diz Olá – pediu ela à sua pequena, que se limitou a fitar-me, oferecendo-me depois um sorriso tímido, logo se deixando cair no regaço suave e fresco de sua mãe.
- Olá! – disse eu. – Está um dia lindo, não está?
Ela acenou com a cabeça e desviou o olhar, como que lendo na minha pergunta todas as minhas intenções, procurando ao longe a protecção e atenção do seu marido.
- A sua menina é muito linda. – continuei… - que idade tem?!
Ela respondeu que tinha 1 ano. – Um aninho. – disse ela.
- Acho que não nos conhecemos… - arrisquei.
Ela confirmou.
- Chamo-me Aline. – disse ela.
- Eu sou a Tânia. – disse eu… e afastei-me, deixando-a no seu silêncio confortável, levando comigo um nome e uma conversa, só não lhe falei do mar… e de mim, mas assim como assim, não teria muito para lhe contar!