segunda-feira, 29 de junho de 2009

A realidade relativa de como a queremos ver...


Sou uma pensadora livre, escritora de alma e mãe por natureza. Acredito que o amor é a única razão de viver e vivo em função dele!

Ao visitar o meu blogue, um amigo pergunta-me em tom, claramente nortenho, semi irónico-piadético… “Ólha-me ésta… xcritora! Puff… tu identificas-te como xcritora?!”. O que me leva a pensar no peso que acarreta essa designação, que não significa mais nada do que uma mulher, que escreve… escritora! Engraçado como não me perguntou porque é que me identificava como “pensadora livre”, “mãe por natureza”, ou o que isso significaria! Muito menos, se deu ao trabalho de ver o “de alma”, que se seguiu a essa classificação “xcritora”, que me auto-atribuí. Mas afinal, qual é o problema de alguém se identificar como escritora?! Será que isso acarreta um peso da profissão, do métier?! Um savoir-faire, sine qua non, para se poder auto descrever como tal?! Ou exige um livro escrito e publicado de reconhecimento do público em geral e da pessoa que lê em particular?!
Se alguém diz escritor, pensa-se logo: Pessoa, Camões, Saramago… com as toneladas de reverências e respeito mítico, que isso implica. Ora, eu de pessoa, só tenho o substantivo, sem maiúscula nem nome próprio, de Camões, só tenho a Lusitana paixão, mas nada de pala nem olho de vidro, que não dava os meus assim por dois tostões. Agora, com o Saramago, tenho em comum a data de aniversário e mais nada! Talvez a falta de pontuação… às vezes! Mas se isso são requisitos essenciais para se ser escritor, então talvez tenha mais a ver com a Margarida Rebelo Pinto… afinal de contas, sou mulher, como ela!
Sem querer ser íntima, mas já sendo pessoal, detesto ter que me descrever. Mais ainda, detesto que me perguntem “algo” sobre mim, ou sobre o que é que eu gosto de fazer, ou o que é que eu quero fazer?! Ou como sou… Enfim, acho que não há coisa mais difícil de fazer, do que me auto descrever, sendo que no que me diz respeito, fica sempre algo por dizer! É como se ao dizer, “eu sou…” estivesse a cometer um acto de alta traição comigo mesma e estivesse a desenhar um quadro surrealista, com apenas alguns dos traços que me definem… assim, indefinidos, esborratados, vazios de mim!
Mas, coincidência ou não… considero que esta descrição que fiz de mim própria no blogue, capta exactamente a minha essência, ou pelo menos o princípio dela, que condiciona tudo o resto! Pensadora, porque sim… porque me recuso a não pensar, ainda que saiba, que “incomoda, como andar à chuva”! Livre, sempre, por natureza também, porque nascemos assim e só deixamos de o ser, se quisermos ou se não formos capazes de ver a liberdade até nas mais pequenas coisas! Sou mãe, porque a natureza me fez assim e porque o aceito e aceitei com toda a naturalidade, como quem cumpre um fim, para o qual sinto que nasci! E na minha alma, bem lá no fundo, ainda que o tenha tentado negar muitas vezes, talvez até vezes demais, é isso que sou… escritora. Escrevo porque gosto, porque me é natural e fácil. Escrevo porque sinto, que a palavra escrita me ajuda a clarificar ideias, pensamentos e não querendo abdicar da liberdade dos mesmos, sinto que ao ter que os restringir a palavras ou linhas, os vejo com mais clareza!
Não sou escritora consagrada, de livros editados, nem faço planos de o ser! Não tenho ambições de virar milionária à custa disso, mas também me recuso a deixar de lado esse meu epíteto, que fez parte de longas horas dos meus dias e noites felizes e me fez sempre, mas sempre, muito feliz e realizada… como se na escrita eu me encontrasse, me definisse, me visse em papéis e sonhos para além dos vividos e sonhados, e talvez, quem sabe, num misto dos dois… contrabalançando num equilíbrio perfeito e total estado de paz!
Há quem tenha muito medo de se auto identificar como escritor, ou poeta, ou cantor, ou pintor, mas engraçado como qualquer um se identifica enquanto doutor, ainda que, na maior parte das vezes, não o sendo… Não percebo… Se pinto, sou pintora! Se faço poemas, sou poetisa! Se escrevo… o que serei?!
Existe, obviamente uma dialéctica forte entre o querer e o ser… e eu nunca quis ser escritora de profissão! Aliás, tenho aquela, velha e ultra-romântica ideia, de que todos os escritores são seres alucinados, que vivem infelizes e morrem pobres! Ideia, já de resto, fortemente debatida em discussões amigáveis e longas acerca da nova vaga de escritores, que surgem como pipocas, enterrando-se num best-seller e alimentando-se da sua fama pontual para a eternidade!
No que a mim me diz respeito, continuarei a sê-lo, nem que seja só de alma, porque é isso, que me sinto ser! Sem mentiras, nem ilusões e enquanto houver papel e lápis continuarei a escrever!