quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

“Desfilhados” por uma noite… - no AO

Uma das desvantagens de se viver longe dos pais quando se tem filhos pequenos é que o tempo de exclusividade para o casal pode passar a ser muito reduzido e, frequentemente, quase inexistente! Uma vez que, à falta da proximidade da casa dos avós, os locais de conforto e porto seguro, para deixarmos o nosso precioso embrulho por algumas horas, escasseiam. Assim, restam-nos alguns minutos durante a hora de almoço, quando a criança está na creche, ou então, as preciosas horinhas de sesta, com que, por vezes, os nossos rebentos nos brindam.
Para muitos, a importância do tempo de exclusividade para o casal é sobrevalorizado, porque é suplantado pelo valor que tem vermos juntos os nosso filhos crescer, dedicando-lhes especial atenção e carinho e fazendo com eles programas de qualidade em família. Mas quando nos apercebemos que passamos mais de ano e meio sem ir ao cinema, que a única vez que demos as mãos em público foi para atravessar a rua ou saltar algum obstáculo, quando nos damos conta que os últimos concertos a que assistimos dão pelo nome de Ti-Tó-Tis ou Ruca… então… a coisa está grave! É que o que está em causa aqui não são os programas culturais em questão, mas um mundo de referências que o casal costumava ter a dois, como aquele velho filme, aquela música que era só dos dois, aquele concerto emocionante a que assistiram de caras coladas, aquele espectáculo em que ele se deslumbrou com o olhar dela sobre o palco… enfim, aqueles momentos a dois, que fazem daquele casal, um casal único, cúmplice e um verdadeiro casal! Já não estamos na esfera da família, mas refiro-me à importância que tem o bem-estar do casal, para conseguir manter a felicidade e união da família.
Foi nesta sequência de ideias, que aproveitando a boa vontade e compreensão de um casal amigo com uma filha da mesma idade que a nossa, decidimos aproveitar um serão para ir ao cinema e jantar a dois! Como seria de esperar… começámos logo mal, porque a mais pequena decidiu dormir uma sesta para lá da sua hora habitual e foi um corre-corre para chegar a horas ao cinema. Depois, não sabíamos onde ir jantar… porque estando a dois queríamos um espaço mais intimista, mais modernaço! Depois de muita indecisão lá nos decidimos por um (recomendado por um casal solteiro). Mas, esquecemo-nos de um pequeno pormenor… reservar lugar. Logo, não tivemos sorte. Optámos por outro, onde já não íamos há algum tempo… menos fashion, mas mais “comestível”. Encontrámos uma sala cheia de caras conhecidas, que nos interpelaram com questões de trabalho, ignorando o nosso “esquivanço” educado. Jantámos, conversámos, vimos o Porto empatar com o Sporting… mas quando o jantar acabou demos por nós com uma falta louca do “apêndice”… assim, a caminho do bar, onde esperávamos ouvir algum jazz, só falámos dela. Ligámos para saber se estava bem… estava óptima! Entrámos no bar, não havia jazz, pedimos uma aguardente velha e um café… que bebemos à pressa porque… a verdade… é que nos sentíamos uns peixinhos fora de água! Rimo-nos de soslaio ao ouvir um comentário da mesa ao lado de que “as relações são complicadas” e de que “comprar carro é um investimento, mas casa é uma estupidez”… e percebemos que estava na hora de ir para a nossa!
Qual Cinderela, antes da meia-noite batemos em retirada e só descansámos quando deitamos corpo na cama. Afinal, essa coisa do tempo de exclusividade até que tinha sido bom… tínhamos rido muito, da nossa trenguice de casal “desfilhado”, das peripécias da noite… mas agora era bom estar no ninho… com a mais pequena por perto e a consciência que a vida com filhos nunca mais é a mesma, mas na maior parte das vezes… a mudança, é para melhor! Mudam-se as prioridades, mudam-se as vontades, n’est-ce pas!?