sexta-feira, 30 de abril de 2010


Às vezes cai-me uma sombra de pessimismo nos ombros como um manto pesado que nos faz andar de arrastão... às vezes penso que gostava de ser especial, ter um dote único, ser bafejada pela sorte divina no que diz respeito a reconhecimento e realização profissional. Às vezes sinto-me uma nulidade, um zero à esquerda, sem paciência até para me ouvir a mim mesma lamuriar e “aiar” e snifar e suspirar... Enfim... mas isso é só às vezes, porque depois lembro-me da sorte que tenho em ser feliz com tantas outras coisas e tudo isso me parece acessório! Tudo o resto é banal! Afinal de contas, dias menos bons, quem os não tem?!


Venha de lá um fim-de-semana... sim?! Por favor! Obrigada!

"And so we meet again..."


Aos 20 anos fui estudar para a Alemanha. Desde essa altura nunca mais parei de viajar. Fiquei fora por maiores ou menores períodos de tempo. Conheci sítios mágicos, sítios interessantes e alguns sítios que me pareciam familiares, mas uma coisa a que não me habituei nunca, mesmo depois destes dois anos de ilha, foi às partidas. Pelo contrário, adoro chegadas!
Amo de morte ver as pessoas a chegar aos aeroportos.
Os reencontros.
Quando o meu marido veio para os Açores eu, grávida de quase 8 meses, viva de reencontro em reencontro. O dia da chegada dele era sempre dia de festa! Preparava-me toda, com a melhor roupa, bem cheirosa, e olhava no rosto de todos os que iam saindo por aquela porta das chegadas, na esperança de que cada um daqueles rostos fosse o dele. Lembro-me de espreitar, qual ginasta acrobata, por entre as portas automáticas, na esperança de o ver na zona das bagagens ou mesmo antes de ele passar por entre aquelas portas... eu só queria um vislumbre, uma nesga da figura dele, a certeza de que ele estava ali. Quando ele finalmente chegava todo o meu corpo sucumbia à saudade. Mal me agarrava no seu pescoço e inalava aquele odor, toda eu tremia, toda eu vacilava! Só com esforço continha as lágrimas de felicidade e cada beijo que ele me ia dando sabia a “ainda bem que estás aqui”!
Depois, nasceu a nossa filha e nós ficámos separados mais dois meses. Quando o ia buscar ao aeroporto fazia questão de ir sozinha, foi dos primeiros momentos em que me separei da minha filha, e quando ela fez um mês comecei a tentar levá-la comigo, mas coincidia frequentemente com a hora do choro interminável dela, com as crises de cólicas e isso dava cabo do momento... assim, tentei sempre ir sozinha. O momento era nosso! Aquele momento do reencontro, da redescoberta e foi aí, nesses reencontros, que eu percebi, caso dúvidas restassem, que estava irremediavelmente apaixonada por ele. Pois, de cada vez que o via, de cada vez que o avistava naquela porta de chegada apaixonava-me como da primeira vez em que o vi!
Ontem, a nossa casa, foi palco de um desses reencontros de “amantes”, agravado pelo facto de serem duas das pessoas mais queridas para nós, dois amigos que nos têm acompanhado de muito perto nestes últimos tempos. Para melhorar tudo, ela também está grávida de uma menina, minha sobrinha afectiva, e têm uma relação de largos anos já...
A surpresa era para ela, aliás, para elas. Eu antecipei a viagem dele, eles recomendaram-me segredo e que a mantivesse ali em casa enquanto o meu marido o ia buscar ao aeroporto. Quando ele chegou foi a Repolhita que anunciou a surpresa, apontando para o local onde ele estava. A S. um pouco céptica caminhou na direcção do local da “surpresa” e o momento em que os dois se viram foi indescritível. Eu podia tentar descrever, com as palavras mais expressivas e coloridas, com as mais ricas metáforas, mas nada transcreveria a intensidade do olhar daqueles dois, o ar de paixão reencontrada e a força do beijo que se seguiu! Nós demos-lhes espaço... desaparecemos de cena... mas a imagem daquele reencontro ficou para mim como prova de que, contra tudo o que possam dizer, o amor sincero é a maior força do mundo!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

"I Shall wait until the frabjous day..."

"... then I shall futterwacken... VIGOROUSLY!!!"

... e quase me esquecia...


Bye bye Red hair! Hello sexy Brown! Que tal?!
(Quem é que é a loira agora, huummm?!)

Fresquinho...




Acabadinho de comprar vai directinho para cima da mesa de jantar!


Simples, pálido, fresco e limpinho... bem ao gosto da "je"!

Tau-Tau à moda antiga...


Na Visão desta semana, o artigo que faz capa é o de “Como evitar as birras”. Eu que sigo o link da revista no facebook ainda me espanto com os comentários que lá deixam por vezes. Esta semana era tudo a apelar à ditadura do “não”! E eu acho muita piada a essa ideia de que basta saber dizer “não” para que as crianças o aprendam e sigam com convicção! Acho mesmo muita graça a isso! Principalmente quando a maior dificuldade de tantos adultos (pais ou não pais) não é tanto a de dizerem “não”, mas a de lidarem com os “nãos” que vão ouvindo!
Não me parece, a sério que não, que o “não” seja a solução para evitar birras, tanto ao mais que muitas delas só começam depois de se ouvir o “não”!
Quem não tem filhos acha a mais pequena birra de uma criança uma tremenda “bandalheira” e falta de educação dos pais do menino birrento, mas a verdade é que a birra é uma reacção natural e instintiva às contrariedades com que os mais pequenos se defrontam! Neste aspecto, quer-me a mim parecer, que a melhor solução é mesmo ensinar os mais pequenos a lidar com elas, não perder o tom e a paciência, o que às vezes é uma verdadeira batalha dantesca e dizer que “não”, sim, muitas vezes, sempre que necessário, mas se possível antecipar e evitar possíveis situações em que tenhamos que o dizer! Bem sei, como mãe de birras de 23 meses, que nem sempre isso é fácil! Também sei que uma palmada ou um puxão de orelhas, por vezes, é a solução mais rápida e eficaz na solução de conflitos e término de birras... mas também sei, que não quero que a minha filha encare o poder como forma de uso de violência, pois não a quero ensinar a resolver as coisas com palmadas ou puxões de orelha, que resolvem no momento, mas prolongam o ciclo de raiva!
Já passei por várias fases de birras. Espero passar por muitas mais... e a única coisa que me ofende mesmo não é pensar que ela é mal-educada, pois sei que não é, mas é ver que principalmente quem não tem filhos acaba por culpar sempre os pais, quando tudo o que um bom pai faz é dar dia após dia, couro, cabelo, sangue e suor com amor, para que os seus filhos superem as birras, aprendam a lidar com as contrariedades e se adaptem aos modelos sociais, por muito “barulho” que isso possa fazer. E se isso não é dar educação, de facto não sei o que será!

Dia(s) Livre(s) - HOJE no AO

No passado Domingo festejou-se o “dia da Liberdade”, neste Sábado festejaremos o “dia do Trabalhador” e neste Domingo resta-nos o “dia da Mãe”. Curiosa esta proximidade de datas, que assinalam estas três grandes “celebrações”, em muito paradoxais, mas em tudo tão intrinsecamente relacionadas. Não fosse o fim da ditadura, e a caducidade dos valores morais Salazaristas, e a mulher continuaria a fazer da cozinha o seu lugar mais frequentado, da família o seu único valor e da devoção a filhos e a marido a sua crença maior, apenas disputado pelo seu amor a “Fátima”. Não fosse a queda do regime ditatorial em Portugal e o dia do Trabalhador não poderia ser celebrado, sendo que foi proibida e reprimida durante o Estado Novo qualquer manifestação pública ou comemoração deste dia. O 1º de Maio traz também a chegada do “carrapato” e em regiões como a de que eu sou oriunda, não há casa de bem que não coloque “Maias”, as flores das giestas, em tudo o que é porta ou janela ou entrada de ar na casa! Para afastar o “carrapato”, dizem as gentes!
Tradição no “dia da Liberdade” são as corridas, a pé, de bicicleta... facto que eu sempre achei curioso, porque não consigo, por muito que tente, ver a corrida como manifestação suprema da liberdade de alguém. Vá, talvez seja só eu, mas a corrida a mim sempre me lembrou “fugida”! Fugir de algo, ou de alguém... a “Corrida para a Liberdade” sempre me ocorreu como a fuga da falta dela! Este ano, num corta-mato, que realizaram “lá na terra”, a minha cunhada mais nova, com 19 anos ganhou o primeiro lugar feminino! Isso e uma grande bolha no pé! Mais uma prova de que mulher, que é mulher, consegue tudo só depois de muito suor e sangue. Não me pareceu sentir-se muito livre depois de ter ganho, mas que trabalhou para a ganhar, lá isso trabalhou! E por falar em trabalhar, outro facto que também sempre me intrigou foi o de no dia do trabalhador ninguém trabalhar! Ora, vamos lá a ver, que melhor forma de mostrar apreço pelos direitos enquanto trabalhador do que trabalhando?! Mas não, vem o dia do trabalhador e ninguém trabalha! Ninguém! Lá na terra, nesse dia, fazem-se pic-nics, se o tempo estiver de feição! É que já nem as manifestações dão muito”jeito”!
Não... é uma miséria, não temos direitos nenhuns, as condições de trabalho são cada vez mais precárias, os trabalhadores cada vez mais explorados, mas no dia do trabalhador vamos todos é gozar o feriado e fazer um belo de um pic-nic! Umas sandes de lombo, panados e arroz de feijão e o belo do vinho de garrafão! Afogam-se as mágoas, dorme-se de papo para o ar, que de “tristezas” não vive o Homem! Afinal de contas, por muito paradoxal que possa parecer esta atitude até tem alguma lógica, se pensarmos no bom e velho slogan: “se eu não gostar de mim, quem gostará?!”.
Valha-nos ao menos o dia da Mãe, em que recebemos prendinhas e os nossos filhos nos trazem o pequeno-almoço à cama, ou não! E nós em jeito de agradecimento lá lhes vamos dando beijinhos o dia todo, perdoando pequenas faltas de comportamento, tudo porque é o nosso dia, o dia da mãe! Algumas sortudas, ganham mesmo o direito a passar o dia da mãe sem os filhos... vão fazer uma massagem, a depilação, manicure e pedicure, conforme manda a tradição! Afinal de contas é o nosso dia e cada uma o goza como quer!
Eu, no dia da Liberdade não corri, mas dormi até tarde, que sendo mãe de uma criança pequena é uma das maiores liberdades a que me poderei alguma vez dar ao luxo. No dia do trabalhador, trabalho em casa, porque boca de filha e marido não faz greve nesse dia e a casa continuará por arrumar. No dia da mãe conto com um belo dia de sol, para passear com a mais pequena e peço a tudo por Deus, que nesse dia a maternidade só me mostre o lado solar e se prive de birras, viroses e contratempos! Que mais poderá um ser livre desejar?!

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Bela e forte, que só eu, "desfilando" mais um dia da minha vida...


Acordei, cheia de sono. A miúda acordou, cheia de tosse! Ultimamente estamos assim... eu cheia de sono, ela cheia de tosse! Vesti-a, vesti-me. Deixei-a passear pela casa de fraldas um pouco antes, a ver se a “imunizo”, mas a catraia espirrou e eu peguei nela a correr cheia de remorsos e dores de consciência. Ela parecia feliz, mas espirrou! E eu... eu, vesti-lhe uma meia calça de algodão e calças de fato de treino, um body e uma camisola. Prendi-lhe o cabelo e ainda lhe enfiei um casaco de algodão. Aqui está frio. Mas ao menos faz sol! Preparei a mochila dela, a minha carteira, peguei nas chaves, telemóvel e danacol! Ela, que tinha ido buscar um boneco ao quarto, viu o seu triciclo da Kitty e sentou-se nele, olhando para mim, como quem diz: empurra! Eu, a morrer de dores no braço (estou assim desde ontem, calculo que seja tensão muscular), olhei para ela como quem diz: Fada-se! Vamos lá!
Empurra para um lado, empurra para o outro, ela de boneco na mão a virar o volante aleatoriamente, eu a levantar a roda para controlar a direcção. Abre portas, fecha portas, cheguei ao elevador e decido, enquanto espero por ele, beber o danacol (a ver se dou cabo do bicho! Ando a acumular doenças de velha, perdão, “vivida”)! O elevador chega. Empurra triciclo, segura carteira, segura mochila, carrega no botão e entorna danacol inteirinho! (D. Maria se me ler, desculpe...)
A pequena ri-se. Resta-nos um lance de escadas, pego no triciclo com ela sentada (não admira que me doa tanto o braço), chegamos ao carro. Arrumo as tralhas, sento-a, enfio o triciclo lá dentro, ela pergunta-me pelo “bai-bai” (a sua mantinha de eleição)... não veio. Hoje não veio. Ficou em casa! Esqueci-me dele! Dou-lhe o boneco, a outra que estava no chão do carro, sento-me, arranco, pego nos óculos de sol e penso, que se este colestrol não me matar, esta maldita rotina instalada acabará por se encarregar de o fazer!
Preciso de férias! URGENTE!

terça-feira, 27 de abril de 2010


É verdade... ainda nem vos disse... e isso é imperdoável... então não é que aqui há coisa de duas semanas a criança lá de casa desbloqueou a língua e agora farta-se de “papagaiar” que é um disparate! É que já diz de tudo! Até um “Ai XEXUS!” já lhe ouvi sair da boca! Ela fala pelos cotovelos... e foi assim mesmo, exactamente como me disseram que ia ser, de um dia para o outro! Começou a falar com conjuntos de duas palavras, sim, porque palavras soltas já ela começou a dizer com cerca de 10 meses! Agora fala de tudo e com toda a gente... “ Não qé!”, “quêx maix?!” “Tá aí!” “Calada Cadela!”... enfim... já sabe as cores, conta até três e também já diz quatro. Quando lhe perguntam quantos anos vai fazer, diz: “DOIX!”... e eu nem acredito, que de hoje a exactamente um mês ela fará mesmo, de facto, “DOIX” anos!
O coelho é “culhu”, o peixe é “peixu”, a papinha é “pipinha”, a mãe é a “mamãe Fia” o pai é “papai nhama”! O Noddy é “nhónho” e já a ouvi dizer “porra”, mesmo assim, com todas as letras e dito como gente grande! Gosta muito de “faxe” (alface) e “noura” (cenoura)... quando se chateia ou faz algo que não devia, já sabe dizer que “tá tixte” e ontem, depois de lhe beber a água que tinha no copo disse-me “a mamãe bai li penxá!”... foi a primeira vez... é que nós não a pomos de castigo, mas mandamo-la pensar uns momentos num canto... (a mãe vai para ali pensar!!!). E quando eu lhe disse, que não era eu quem ia pensar, mas ela, prometeu “póta bem”! (Eu porto-me bem!)
É mágico digo-vos! Mágico! E melhor que ler só ouvir... talvez ainda vos faça uma surpresa um dia! ;)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A Emprestada


Hoje sinto-me emprestada! Isso mesmo, só assim, “emprestada”! A esta ilha, a esta vida, a esta realidade, a este blogue, ao jornal, ao meu emprego. Emprestada para funções às quais não pertenço, que não me reconhecem, que eu não reconheço... emprestada a esta falta de reconhecimento flagrante, que me persegue, que me atormenta!

De tal forma me “emprestei”, que ontem, ao voltar do berço, ainda com a pele quente do calor do ninho, me senti invadida por esta chuva chata, deprimente, triste... o grito saiu da boca da minha filha: “Xai Xuba, Xai!”. [Cada vez me convenço mais que esta criança é um clone meu e não um filho, de tal forma é forte esta simbiose que nos une, que vai além de laços telepáticos, que nos faz adivinhar e assimilar estados de alma das duas!]

Emprestei-me a um dia-a-dia, que de meu só me tem a mim, mas de tal modo me estranho, que mais parece que eu não sou eu, mas alguém que faz e fala e age como eu, se parece um pouco comigo... mas nada mais de mim tem.

Sinto falta do sol, do calor, da alegria despreocupada de um Verão de S. João. Estou cansada e a luta ainda hoje começou... adiante, as tristezas não pagam dívidas... talvez tudo isto seja só mesmo saudade, aquele sentimento tão nosso... a mim emprestado pelo sangue luso que me corre nas veias!

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Satus Report a 1000/h!


A operação ao meu sogro correu bem! Pelo menos por enquanto está tudo a correr de acordo com o previsto! Resta-nos aguardar pelos resultados da biopsia! Nos “entretantos” estamos por casa, vamos matando saudades da família e gozando cada dia como se do último se tratasse, porque se há coisa de que as nossas fragilidades de saúde nos fazem recordar é que não estamos neste mundo para sempre e que hoje é o dia certo para viver, aproveitar e fazer da vida o melhor que conseguimos e não o melhor que desejaríamos!
Voltarei em breve… desculpem a ausência, mas a ansiedade tem destas coisas: encurta-me as palavras e sufoca-me a criatividade!

P.S.- A Repolhita está bem… a transbordar de mimos dos avós e cada vez mais linda! Obrigada a todas que se preocupam! :D

"Croniquice d' o Tal" - HOJE no AO

Tenho várias amigas, colegas, conhecidas, que dizem não ter ainda encontrado “o tal”. Esse mesmo, o príncipe da vida delas, o seu amor para sempre! Essas mesmas amigas, colegas, conhecidas perguntam-me frequentemente como é que eu soube que o meu marido era “o tal” e eu respondo, para espanto de muitas, que na verdade ainda não sei! Mais, para ser totalmente sincera, acho que essa coisa d’ “o tal” é mais um mito urbano criado para instaurar o caos e a confusão e acentuar a insatisfação na vida de grande parte das pessoas, especialmente na vida das mulheres, mais propensas a deixar-se levar em contos de fadas e príncipes e fantasias do “amor para sempre”. Na verdade a minha concepção do amor é mais como a minha concepção da vida, a “gente” paga para ver e vai andando e vai vendo! Eu nunca pensei no meu marido como “o tal” ou a minha “alma gémea”, porque na verdade, devo confessar também nunca tive muito tempo para pensar nessas coisas. E eu acho que é mesmo assim, quando o amor é para valer, quando dois querem e dois dançam, as coisas acabam por acontecer de uma forma tão natural como respirar! A verdade é que respirar é essencial para nós, eu diria mesmo vital, mas reparem que se pararem para perder muito tempo a pensar naquilo que estão a fazer, respirar, acabam por ficar meio baralhados, vacilantes e acabam por se perder na vossa própria respiração, muitas vezes atrapalhando-se ao ponto de pensar por instantes que já não serão capazes de voltar a respirar com naturalidade. Para mim, o amor é mesmo assim, não se pensa, não adianta discuti-lo, não adianta analisá-lo ou estudá-lo, apenas se vive! A análise e estudo do objecto “amor” vem muitas vezes quando esse mesmo amor já está morto e pertence ao passado, para espanto de muitos que o consideravam ainda vivo! O amor não é fácil, mas mais difícil ainda é manter uma relação… porque se por um lado o amor é uma coisa natural, que surge como a própria sede, que aparece num momento das nossas vidas, tão imperceptível como o momento exacto em que adormecemos ou acordamos, as relações já são mais uma grande noite de insónias em que temos que nos forçar a dormir, temos que nos esforçar por relaxar, temos que nos concentrar e pensar que nem sempre vai ser assim, que cedo voltaremos às noites felizes de sonhos relaxados e felizes… nas relações o processo é o mesmo, esforço, concentração, respeito, muita paciência e fé de que nas fases menos boas e mais difíceis as fases boas nos darão alento para aguentar até à próxima, com a agravante de que numa relação ao contrário de uma insónia o esforço e a vontade de cumprir objectivos não pode ser só de um, mas tem obrigatoriamente que ser de ambos… porque meus amigos, maior verdade não há: “quando um não quer, dois não dançam!”.
Muitas amigas, colegas, conhecidas minhas, aquelas que alegam ainda não ter encontrado “o tal”, perdem-se tanto em reflexões e análises acerca do seu objecto amoroso, que frequentemente perdem hipóteses de “pagar para ver”, pura e simplesmente porque é mais fácil dizer que aquele não era “o tal”… e elas!? Serão elas “as tais” de alguém?! (Se é que isso existe?!) Pois… isso agora, talvez seja coisa que nem elas, nem eu, nem vocês nunca saberemos!
Outra coisa que acontece frequentemente é cair-se no erro crasso de se pensar que só porque uma relação está a passar uma fase menos boa já está condenada! Pois eu vos digo, meus caros, que é precisamente nas horas de “aperto” que se vê o quão unidos estão os dois numa relação, porque o “elo mais fraco” não quebra no “relax”, mas sim na tensão!
Hoje, o meu marido está a passar por, provavelmente um dos momentos mais difíceis da vida dele. E eu nada mais posso fazer, a não ser garantir-lhe que estou aqui, que pago para ver e que o amo muito: hoje menos do que amanhã!

sexta-feira, 16 de abril de 2010


Por cá continua um tempo frio, chuvoso e ranhoso como o raio! Mas ontem foi dia de fazer as malas e hoje... hoje é dia de ir até casa! Vamos, desta vez, com menos sofreguidão, levamos o coração nas mãos... tudo porque desta vez, o que motiva o nosso regresso ao ninho é o acompanhamento de um ente muito querido, muito próximo e muito amado, que vai ser submetido a uma operação!
Algo me diz que tudo vai correr bem, mas estas situações, que mexem com as nossas maiores fragilidades, as doenças, deixam-nos sempre de coração apertado e boca seca.
Hoje nenhum dos três dormiu grande coisa, a pequena não queria estar sozinha e os maiores gostaram de a ter por perto, apesar do óbvio desconforto físico. Um dia não são dias... e aconchego não se nega a ninguém, muito menos aqueles para quem tamanhos actos de carinho não poderão nunca faltar!
Quando voltarmos à ilha, algures no final da próxima semana, aquilo que desejo é apenas que consigamos trazer no coração a paz e a segurança de que os nossos estão bem e que ficarão bem... assim como nós!
Prometo que tento vir ao blog durante a próxima semana, para ir dando notícias... vá... pelo menos garanto que vou tentar!
Até lá espero que fiquem bem e se possível que nos enviem vibrações positivas aos pacotinhos! A morada é a dos nossos corações, a minha vocês já conhecem de cor...

quinta-feira, 15 de abril de 2010

O prometido é devido...

... não podia faltar a foto com o vestido que ganhei no passatempo Dress-a-Day!

AAAAAMMMMMMMOOOOOOOOO!

(Agora imaginem estes caracóis aos pulinhos na sala com o nosso novo sistema surround a bombar!!!! LINDO)

"Arte do Quotidiano" no AO - 15.04.10


Na minha Croniquice de hoje quero falar-vos de arte, em movimento, do verdadeiro material de que é feita a verdadeira arte! Tivessem Picasso, Van Gogh e Dali sido mulheres teriam ido buscar inspiração aos quadros de que vos passarei a falar... sem sombra de dúvida! Isto porque, estas autênticas pinturas em movimento são os melhores esboços, os melhores desenhos, as melhores produções artísticas saídas da mão de qualquer mulher! Os quadros de que vos quero falar são quadros do quotidiano, mas bem poderiam ter sido telas saídas da imaginação surreal de um qualquer Tim Burton ou da sensibilidade exacerbada da pena de um qualquer Shakespeare ou Camões! A maior “pintura”, a mais magistral: os nossos filhos. E bastava a minha entrar em cena, para que se borrasse a pintura toda!
Não me interpretem mal, não é que a sua bela figura não desse uma bela tela, de facto, seria sem dúvida o retrato mais celestial que alguma vez poderiam imaginar... o problema está na acção, que peca por ausência nas telas e por excesso nela! É uma criança, como hei-de dizer isto... mexida! Activa, muito esperta, típica da idade! Quero com isto dizer, que é uma criança (ponto final). E como tal, não pensem que é só a minha que faz destas “cacofonias” artísticas! Não! A minha filha é uma criança igual às demais da sua idade e como tal, berra, esperneia, grita, geme, dá gargalhadas, faz riscos de caneta nos sofás, de guache nas paredes, espreme tangerina e iogurte com as mãos, espalha baba na roupa toda... enfim... faz tudo o que seria de esperar numa criança! E é por isso que eu acho que seria rico alimento de inspirações artísticas... Visualizem só estas peças...
Primeiro quadro: depois de cinco dias enfiada em casa a tratar-lhe de mais uma virose, com tosse, otites, conjuntivites e muitos mucos à mistura resolvemos ir com o pai dela fazer um jantar de “crescidos” comer comida de “gente grande”, ter conversas adultas e rir à “maior de idade”... e assim foi, na ementa tínhamos Sushi, bebemos um bom vinho de 2007 e tudo corria às mil maravilhas. Até a nossa obra-mestra, nos fazer recordar que continuava ali uma criança de 2 anos, que tinha já aguentado calada e quieta quase uma refeição inteira, e que como arma de escape e arremesso nos acaba inevitavelmente por atirar sempre com a mesma expressão: “Có-Có”! Primeiro dito assim em género de chamada de atenção... como que diz: “Mamã bora lá?!”, depois em tom de voz crescente, ao género telemóvel com direito a vibração na cadeira e tudo! A altos pulmões a berrar essas duas sílabas em tudo iguais, e para nós tão sinal de diferença! Valeu-nos o espaço vazio e a ausência de olhares de quem não tem filhos e não julga nunca que isto pode, de facto, acontecer a qualquer um!
Segundo quadro: Boys and Toys. Podia ser este o nome, porque os rapazes irão gostar sempre de brinquedos! O meu marido gosta de novas tecnologias, coisas multimédia e gadgets, de que eu não entendo pevide. Ainda assim estávamos os três perdidos algures entre a secção dos plasmas e dos “surround”! Bastando um segundo, (digo-vos... um segundo), para que a catraia se enfiasse por entre um amontoado de plasmas LCD hi-tech, tecnologia LED, daqueles ecrãs com preço de carro ou sofá! Estiquei a mão, ela fugiu para trás e o que se seguiu foi o quadro que imaginam... ela a chorar, a caixa do plasma no chão, o empregado a caminho e eu maldisse aquele seguro que ainda não lhe fizemos. Já estava a fazer contas à vida, enquanto a ajudava a levantar-se, quando o empregado me diz, qual anjo, que a caixa estava vazia! “Benzá” Deus!
E agora pergunto-vos eu, haverá aguarela mais colorida do que os filhos na tela das nossas vidas?! Não há! Pois não, não há... mas eu juro-vos, que às vezes, só às vezes, depois de “exposições” assim, eu gostava de poder pintar quadros com uns tonzinhos mais pastel!

Prendinhas...

Bom... resumindo e concluíndo, se mentiroso não houver tenho 8 visitas diárias regulares, (abençoadas alminhas), contra 3 que assumem que não passam por cá todos os dias!
Há 3 pessoas que visitam o blogue 1 vez por dia, 3 que o visitam, mais que muitas... (pai, mãe, tia: vão trabalhar!), 2 pessoas que visitam menos do que gostariam e 1 que visita o blogue 2 vezes por dia!
Até aqui, nada a apontar!
Em relação às preferências de leitura há 2 pessoas que gostam quando eu escrevo muito, 2 que gostam quando eu escrevo coisas animadas e as restantes dividem-se em uns pelos textos que escrevo acerca da minha filha, do amor, as historinhas e as croniquices! Posso então concluir que há que leia de tudo...
Continuando... há 5 pessoas não comentam quando não sabem o que dizer e 3 não comentam por falta de tempo! De 1 a 10, 6 pessoas votaram as croniquices com nota máxima e e 2 deram-lhes um Suf! Há 6 pessoas que por aqui passam que acham, através daquilo que escrevo, que eu gosto da vida e 2 que entendem que eu gosto de escrever!
E agora é que a porca torce o rabo... então não é que 5 dos meus leitores acham que eu devia escrever um livro, enquanto 3 acham que eu devia ter outro filho!? E há mesmo que assuma, (Art és louca) que eu devia escrever um livro e fazer outro filho! Está mal...
Mas bom, bom foi saber que em 8 pessoas que me visitam 7 desejam que eu seja feliz! E uma, de tão fã que deve ser... só deseja é que eu continue a bloggar!
E queridos que só vocês, a maioria respondeu aos meus questionários, porque “gostam de mim, porra”!!! Que bom! De resto, 1 respondeu, porque achou interessante e uma alminha submissa, mas de mau feitio, porque era o que eu queria, “não era?!”!

Obrigada a todos pelas vossas respostas... e se são mentiras, não estou nem aí, porque a verdade é que o balanço super positivo me deu muita alegria! Como é lindo viver neste blogue de ilusão!!!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O Blogue agradece...

Vou falar-vos hoje do início do blogue, de quando eu escrevia e quase ninguém lia, a não ser a minha fiel amiga Su, Sancho Pança das minhas aventuras Quixotescas, aquela que assina sempre como anónimo, que até hoje ainda não percebi bem porquê... ou até percebo, porque apesar de ela ser linda que dói, não gosta de se exibir, o feitio dela é mesmo assim, discreta e amiga, que só ela!
Outra minha leitora fiel, que me apoiou, mesmo quando eu pensei que este blogue nunca iria interessar a ninguém foi a Teresa... essa toda, a minha tia! Que sempre leu, sempre gostou, sempre comentou ainda que nem sempre por escrito!
A culpada desta aventura do Blogue foi a minha querida amiga açoriana Tété, graças a quem ganhei uma sobrinha afectiva linda, a Rabaneta e companheira da minha Repolhita, que sempre acreditou que o que eu escrevia fazia sentido, que era interessante, que eu escrevia bem... que acreditou em mim, mesmo quando eu deixei de acreditar! Depois veio a querida amiga e irmã dela... a Anie... e que gozo me davam os seus comentários!!!
Por fim, acho que do meio blogger a primeira a estabelecer contacto comigo foi a querida da Bê, que é um mimo de pessoa! Não podia deixar de fazer referência à Brown Eyes, a minha comentadora mais assídua, que não desiste, mesmo quando os textos são de difícil interpretação, mesmo quando o que eu posto aqui não vale nada! OBRIGADA! Depois a companheira palhaça da Art, com quem a simbiose foi instantânea e que apesar de não conhecer ainda já identifico com uma espécie de amizade simpática; depois a carinhosa e meiga Paulinha, a quem só desejo coisas boas, um exemplo de Mulher com M grande, GRANDE! Depois a Carrie, conhecida minha de outras andanças mais fora do virtual! Miúda cheia de garra e pinta, gira “pa dé-déu”... e aos poucos vieram a Poetic Girl, a SAV, a Izzie, a Mel, com o seu bando de vespinhas muito cómicas! Até a “ranhosa” da Ginger veio cá parar! Uma força da natureza com uma piada muito ao meu género! E claro, a Rita (mil perdões Rita)! No seu Alentejo e Nova Iorque, com uma filha da idade da minha, que me brinda mais recentemente diariamente com os seus comentários, leitura e blog!
Os meus pais acabaram inevitavelmente por ter que aprender a lidar com blogues e afins, porque a curiosidade e o amor paterno a isso obrigam, mas esses iriam ler até uma lista de compras feita por mim!

Bem sei que muitos mais amigos e não conhecidos me lêem, que por aqui passam, às vezes riem, às vezes emocionam-se, às vezes comentam... olhem, como foi o caso do Siceramente, que apanhado de surpresa neste meio, como seguidor nr. 50, de vez em quando até me acha piada!
Perdoem-me a falta de referência a todos os outros, mas acho que quem se esforça por me ler, por comentar e que por acaso até gosta, merecia estas palavritas de apreço, que é mesmo isso que sinto por eles! Dos outros não conheço nem nomes, nem opiniões, mas valorizo na mesma e vou contando as vezes que por aqui passam ali em baixo, à direita, no contador de visitas!

Last but not least, pensavas que me tinha esquecido de ti... tu, que sorrateiramente, todos os dias depois de termos deitado a nossa filha, te encolhes atrás da cortina da sala, de janela aberta e cigarro na mão, a ler no i-phone tudo aquilo que me vai na alma nesse dia e que aqui deposito... porque tu, meu amor, és a minha maior inspiração e orgulho e se não escrevo todos os dias para ti... é só porque sabes que não conseguiria escrever sem ti!

OBRIGADA a todos e todas! Sintam-se agraciados com um abraço de agradecimento sincero! E agora, chega de balelas... venha mais um ano e um copo! Logo beberei à Vossa saúde!
Tchin-Tchin!
Estou incrédula... Já passou mesmo um ano?!

terça-feira, 13 de abril de 2010

1 = UM




O blogue faz amanhã um ano! Isso mesmo! Este blogue! Nem sequer acredito que algures na minha vida, no ano passado, por estas datas tive a brilhante ideia de criar um blogue! Tudo surgiu com base nos textos que andava a preparar para apresentar ao jornal, a sugestão de uma amiga e uma dose de vontade de ocupar o tempo com algo que me desse realmente gozo! Algo que me ocupasse o “cerebelo” em horas mais mortas!
Fiz da escrita neste espaço um hábito diário! Uns dias partilhei muito, outros dias menos, outros dias nada, outros até um pouco demais! Ao longo deste ano passei por várias fases de crescimento da minha filha, amadurecimento da minha relação amorosa, amarguras profissionais, devaneios de loira distraída, enfim... foi um ano rico! Ou, um rico ano! Não sei se terei estofo para muitos mais...
Por vezes, quando passo uma temporada sem escrever no blogue parece que lhe perco o jeito, que o “estranho”, que quando volto a abrir a página nada é igual! Mas a verdade é que escrever é algo de que sempre gostei, muito! Usei muitas vezes este espaço como ponto de partida para as minhas Croniquices semanais no AO, outras vezes usei-o para fazer textos mais pessoais, nunca íntimos, mas sempre pessoais! Deixei-me levar pela “embriaguez” de escrever para alguém ler. Gostei sempre que alguém comentou... continuo a gostar!
Um ano são muitos dias, 270 publicações também... 60 seguidores fidelizados são um brinde e o feedback um orgulho!

Obrigada a todos pela leitura, resta-nos amanhã: celebrar!!!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Svegliate Principessa...


Quando naquelas primeiras horas do dia se sente o sol a acordar, as gentes a começar a mexer, os barulhinhos da noite a ser abafados pelo sonoro do dia, tudo em mim é asco. Encolho-me mais um pouco, tapo as orelhas com os cobertores, porque para mim, esse começar do dia, esse princípiozinho da manhã nunca é doce, sabe mais a murro no estômago! E os segundos passam, os minutos continuam a somar e eu toda a sumir por entre o calor da noite!
Não sou pessoa de manhãs, sou bichinho da noite, gosto mais do início do escuro do enroscar de casacos e mantas, que se proporciona quando as pontinhas dos dedos dos pés se querem esgueirar para o sofá e todo o corpo com elas, se estira por inteiro em cima da cama! Gosto de adormecer! Gosto de partir para o Vale dos Sonhos! Não gosto de acordar, fico sempre de mau humor quando tenho que de lá voltar! Sou ninfeta de lençóis quentes, não sou princesa da madrugada! E assim na vida também prefiro as partidas para os sítios doces, gosto das chegadas, mas odeio os retrocessos!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

"Era uma vez..." - no AO 08.04.10

ESTOU EM CASA. STOP A CATRAIA ESTÁ DOENTE! (Yes Again) STOP! NO TIME FOR BLOggING!
Mas... Have fun com a última croniquice do AO, que ponho aqui para vocês... assim cheia de sono à uma da manhã e sem sair de casa há 4 dias... BEIJOS!
No mundo do “faz de conta”, das historinhas, do “era uma vez”, para além dos animais falantes, das fadas, anjinhos, sereias e seres que tal havia sempre um elemento imprescindível, que eram os “bons” e os “maus”. Os “bons” e os “maus” eram claramente identificados pelos seus actos e ajudavam a definir morais, a estabelecer padrões de comportamento. No final da história os “bons” tinham sempre à sua espera um final feliz e “para sempre”, enquanto os “maus”, se não se redimissem e aliassem à “liga dos amigos dos bons”, tinham à sua espera um castigo final e, por vezes fatal!
Semelhantes histórias, semelhante ficção, eram muito reconfortantes, porque no final sabíamos sempre, que por mais aventuras e desventuras os “bons” tivessem que enfrentar, tudo acabaria bem e o mundo acabaria por encontrar a sua ordem, o seu equilíbrio, a sua harmonia e paz!
No mundo real, nas histórias mais “realistas”, não há “bons”, nem “maus”, apenas seres híbridos e vacilantes, que ora fazem bem, ora fazem mal, em maior ou menor proporção, dependendo do prato da balança que pesar mais no momento!
Eu acredito, que não há ninguém inteiramente “bom”, nem ninguém inteiramente “mau”. Mas acredito também que há pessoas capazes de cometer os actos mais bondosos, sinceros e desinteressados e pessoas capazes de cometer os mais maldosos, indecentes e criminosos! O problema nos dias de hoje, a meu ver, é que se perderam as noções de moral caducas, transmitidas pelas historinhas de encantar, onde mentir era feio, enganar era punível por lei, defraudar, trair e matar eram crimes capitais imperdoáveis. Não sei em que ponto da nossa história se começou a achar que os maus conseguiriam escapar impunes, não sei em que momento se subverteu a moral de tal forma que acaba por se pensar que os “bons” são os “anjinhos inocentes”, que não conhecem a vida e nunca irão dar em nada e que os “maus” são os vilões endinheirados, intocáveis e idolatrados, os que se safam sempre! Todos sabemos que o caminho do mal é mais fácil, acessível a todos, que nem sempre o bem é facilmente realizável, que nem sempre é reconhecido, muito menos valorizado e aos que querem ainda fazer algum bem, aos que se sentem injustiçados vendo que os “maus” escapam e continuarão sempre a escapar, apenas resta o consolo de pensar na justiça divina, mas visto que isso é processo para se resolver só nas “altas instâncias” de uma próxima vida, frequentemente esse consolo é insuficiente e os bons, eternamente “inconsoláveis”.
Penso nisto enquanto vejo mais um episódio do Noddy com a minha filha e me apercebo que nem as historinhas infantis são o que eram, que até o Noddy, o suposto “bom” da história desconfia dos seus amigos, dos seus inimigos, os “maus”, e que apesar das historinhas acabarem sempre bem, ou com uma moral, nem sempre os “maus” se redimem, às vezes pedem desculpa a “fazer de conta” e acabam por se escapar até à próxima travessura… e entretanto penso, que para a próxima talvez lhe coloque o dvd do Ruca, ou o das Fábulas do Esopo! Mas a catraia apesar de pequena já sabe bem o que quer e não vai em historinhas, estou tramada! “No meu tempo não havia nada disto” e mesmo os heróis mais rebeldes, mais travessos, de cabelos despenteados e pés descalços eram rebeldes com causa, o Tom Sawyer, a Pipi das Meias altas, a Ana dos Cabelos Ruivos… mas isto talvez seja só eu, com saudades de uma “historinha à moda antiga”, em que os “bons” eram mesmo “bons” e vitoriosos, sempre, e os “maus” eram “assim-assim” e perdedores, para sempre.