sexta-feira, 8 de maio de 2009

Feminina, Feminista, nada disso ou um bocadinho das duas?!


Há algumas Croniquices atrás (era este Blog ainda um bebé), ficou prometida mais uma, explicando, ou tentando explicar, algumas das diferenças entre uma mulher feminina e uma mulher feminista. Pois muito bem, como neste Blog, as promessas não são políticas e são mesmo para se cumprir, aqui vai a minha melhor tentativa…

Existe desde logo uma grande diferença entre os dois conceitos, que é o facto de um ser facilmente aplicável, tanto a indivíduos do sexo feminino, como masculino… entenda-se, o adjectivo “feminino”! Veja-se que, tanto se diz de uma mulher, “ser feminina”, como de um homem, que pode “ter um lado feminino”, ou até mesmo ser “feminino até osso”!
Ao passo que, “feminista” já não será tão facilmente utilizado em referência a um espécimen, macho de sexo e mentalidade!
Ainda que, aqui entre nós, que ninguém nos ouve, fosse bem melhor, na minha opinião conhecer um homem feminista em lugar de um feminino! Que eu cá sou muito fã de barba e pêlo no peito.

Ora muito bem, em segundo lugar, uma outra diferença aplica-se aos contextos em que ambos os conceitos se utilizam… e se por um lado, “feminino” é utilizado, quase sempre num contexto de aparência física, aspecto exterior, preferências ou gostos de alguém, “feminista”, refere-se ao contexto das ideias e mentalidades.

Em traços largos, podemos dizer que uma mulher pode ser feminina, sem ser feminista, feminista sem ser feminina, pode ser ambas as coisas, um bocadinho de ambas e quiçá, nenhuma delas! Baralhados?! Continuem a ler…

Uma mulher é feminina, se usar maquilhagem, vestidos, tacão alto, for fã de padrões florais, cozinha, tupperwares e jeitos subtis e delicados, em tudo contrastando com o carácter cliché tipo “sensibilidade sola de sapato”, associado frequentemente aos indivíduos do sexo oposto. Mas uma mulher assim, pode admitir todo o género de assédios, rebaixamento, submissão em relação ao homem e ao seu papel na sociedade, ora… uma mulher assim é feminina, mas não é feminista!

Uma mulher feminista quer igualdade social, entre homens e mulheres, levada ao extremo, uma feminista chega mesmo a considerar, que a mulher, enquanto indivíduo do género feminino é superior ao homem, pobre “macho” sexual, rude e rudimentar… ora, isso não é feminino, pois uma mulher feminina, jamais usaria semelhante vernáculo em relação ao sexo oposto!

Mas, e em tempos de vigência de hibridismos e fluidez de géneros, uma mulher, pode ser feminina e ainda assim feminista. Imagine-se uma frágil e elegante criatura, no seu mais fino vestido de seda floral, sandália de tacão altérrimo e malinha da Loui Vitton carregadinha de Cliniques e sephora kits, que se revolta contra o tipo, que lhe tenta abrir a porta da rua do prédio, tudo porque ela é perfeitamente capaz de o fazer sozinha e chegando a casa põe o marido a cozinhar, porque desta é ela que precisa de “me-time” e ele também tem mãozinhas que “Deus lhe deu” e um “certain je ne sais quoi”, que permite o mesmo “savoir faire” doméstico a meninas e meninos… ora, esta criaturinha de Deus, é nitidamente feminina, mas podre de feminista.

Também há mulheres, que recusando todo e qualquer apetrecho feminino, como brincos, malas, sapatos de tacão, cozinha, livros de receitas, aeróbica e pilates, se colocam de igual para igual com os homens, mas não numa de defender a igualdade dos géneros, antes mais denegrindo a mulher, esquecendo-se até mesmo às vezes, que apesar de G.I.Janes, também elas o são… mulheres… mas nem por isso, femininas ou feministas! São aquelas raparigas da nossa turma na escola, que nos batem e tiram os laços do cabelo e chamam mariquinhas, enquanto jogam futebol com os rapazes e dão coça neles, “mano a mano”… semelhantes muitas vezes até no aspecto. Estou certa que perceberam a imagética!

Ainda há muito quem pense, que por uma mulher escrever textos, supostamente femininos, que um dia ainda me vão explicar o que isso é… logo à partida é feminista, mas no pior dos sentidos!
Ora, se me permitem, agora aqui faço a minha própria defesa, para que depois não me encham os ouvidos de “feminista, bla, bla, bla”, que ainda admita que o possa ser em parte… (sou daquele tipo “um bocadinho feminina e um bocadinho feminista”)… não o sou radicalmente.

Sendo mulher e apreciando um pouco de feminilidade na minha aparência, não dispenso os meus berlicoques e tunnings de menina, valorizo na mesma o respeito, que alguns homens ainda guardam pelo sexo feminino, no sentido de abrirem portas e deixarem passar à frente, perguntando se precisamos de ajuda para carregar os sacos; sabendo porém que sou perfeitamente capaz de abrir portas sozinha, até a minha filha o faz e tem 11 meses, sei esperar nas filas e “sure as hell” consigo carregar sacos…

Mas irrita-me que me chamem de feminista, só porque acredito que uma mulher também pode escrever ou trabalhar tão bem quanto um homem. Acredito que não é por falar de tópicos da minha vida, que sendo mulher, acabam por ser tópicos femininos, (se bem que não sou muito adepta dessa teoria do género dos tópicos… desde quando é que o amor é tópico feminino?! Quanto muito seria assexuado, ou hermafrodita) estes se tornam imediatamente feministas. Acredito que, a mulher por ainda ser vista na sociedade enquanto mais frágil, pela maior parte dos mentecaptos, vê muitas vezes as suas próprias atitudes e estilo de vida condicionados. Acredito que devemos exercer o nosso direito de voto, pois durante séculos, mulheres como nós lutaram, para que esse dever também fosse nosso de direito. Acredito que não devemos deixar de nos expressar só porque se falarmos mais fininho nos chamam de “esganiçadas”, se falarmos mais alto nos chamam de “histéricas”, se apontamos críticas somos “ressabiadas”, pois venham os insultos, que a falta de originalidade dos mesmos já não deve assustar mulher alguma….

Uma coisa a que continuo a achar graça é o facto de, se um homem criticar, do mesmo modo e nos mesmos termos que nós é um “iluminado”, um “corajoso”, se fizer uma acrobacia na estrada é um “ah! valente”, um “artista”, enquanto que uma mulher é uma “histérica, ressabiada”, “trenga” e que “não sabe conduzir”! Não é por ser feminista que não lido bem com estas coisas, metam isso na cabeça… é por ser mulher!
Sendo mulher e sentindo-me mulher em todas as minhas vertentes, capacidades e potencialidades como mulher, indigna-me que não me tratem com respeito, que sejam condescendentes com segundas intenções e que me encarem com “palas nos olhos”!
Talvez seja mesmo um pouco feminina e um pouco feminista, mas não sou radical e assim como admiro muitos homens, pelas suas características de género (não se julguem só as físicas… mal-intencionados leitores!), também admiro e respeito muitas mulheres.
Por desejar ver mais mulheres a chegar ao poder, bem vestidas sempre (… claro está…) será que isso faz de mim feminista?! Não… faz de mim uma mulher, que acima de tudo é um ser humano e deseja uma sociedade mais justa… pois sei, como muitos de vós certamente, que se muitas mulheres não chegam mais longe, nomeadamente a nível profissional é porque lhes “cortam as pernas”, não só homens, entenda-se, que muitas vezes nestas ascensões as “mãos divinas” de certas “Virgens Marias”, invejosas e de percepção baixa são bem mais fatais. Mas a inveja, como digo não é produto de exclusividade do homem ou da mulher… é comum aos dois e mais acentuada em alguns indivíduos e indivíduas do que noutros e noutras…

… e já agora, estas coisas dos machismos nos géneros das palavras, também seriam assunto interessante para se cronicar… mas essa, fica em promessa! Que aqui a “je” tem marcação no cabeleireiro… (mulher um pouco feminista, mas também e sempre um grande bocadinho feminina! - “Got it?!”)