quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Pessoa Pessoas


Eu sou uma pessoa, mas não sou como o Pessoa, mas às vezes mais parece que tenho dentro de mim mil e uma pessoas diferentes! Ora sai daqui uma loira amigável e distraída, ora uma ruiva cheia de determinação e força, ora uma amigalhaça daquelas de palmada no ombro, ora uma mãe galinha, ora uma Maria chorona, ora um gajo foleiro, ora um machista de primeira, que logo leva uma coça valente da feminista que sempre sinto querer sair daqui debaixo desta pele. Ás vezes, quando penso naquilo que vai ser, acho que vou ser uma velhota divertida, cheia de experiência, ideias positivas e muitas histórias para contar. Outras vezes acho só que vou ser velha! E como tudo na vida é uma questão de perspectiva às vezes acho que vou ser uma velha daquelas chatas sempre a contar as mesmas histórias, com os mesmos trejeitos e palavras, como se nunca a ninguém as tivesse contado! Tive momentos na minha vida em que me achei galdéria, outros em que vivi que nem Santa. Tenho dentro de mim o espírito luso da saudade, da tristeza, do fado... mas do fado, fado, daquele que não é cantado, mas contado, do cão, do destino. Às vezes acho que não sei lidar com as coisas boas, e que em vez de as aproveitar começo logo a pensar nas más que estarão para vir! No outro dia, ao ver a Mariline dos Ídolos na capa da FHM diz o gajo foleiro que há dentro de mim: “Acho que a fama dá calor!”, ao que lhe pergunta a Santinha: “Como assim!?”, “Porque assim que se lhes começa a chegar ao pêlo, tiram logo a roupa toda!”! “CREDO”, disseram em uníssono todas as vozes femininas que em mim habitam, até a Galdéria! Enfim... mas hoje trago aqui um Velho Ranzinza atrás dos meus pensamentos, que me anda a sussurrar, que as coisas boas não se contam a ninguém, são como os sonhos, se os contarmos não se realizarão nunca! E dentro de mim há uma menina, de cerca dos seus seis ou sete anos, que não tem noção da vida, do dinheiro, da realidade e que só quer saber de ser feliz! Dentro de mim há uma Viajante, acorrentada a quatro ferros, presa e amordaçada, que hoje está excepcionalmente agitada, não pára de esbracejar, se contorcer, acho que ela quer gritar! Tem saudades de viajar! Dentro de mim moram a Alemanha, a Holanda, a Bélgica, a Itália, a Suiça e bocadinhos da Espanha... mas moram também muitas ganas da França da Inglaterra, da Grécia, da Croácia, da Rússia, do Japão e da Austrália, de África, o Continente sem fim... e mora o “África Minha” e o Malvado do “Casablanca”. O “Paciente Inglês” fez da minha Hepburn uma descrente e o estupor do Velho não se cala. Não pára de me dizer: “As coisas boas são como os Sonhos, não se contam, senão não se realizam!”. Porque é que não te calas?! Disse-lhe a minha rebelde sem causa, mas também ela, com a sua inocência traquina tem medo do saber dos velhos! E a Velhinha sensata que trago dentro de mim, senta-se à porta de uma casa caiada de branco com portas azuis muito azuis e fitando um mar de cor celestial, dá uma palmada ao velho e olhando-me nos olhos com meiguice segreda-me assim: “Tranquila pequena, o que tiver que ser será!”. Mas eu sou criança irrequieta e não paro de me inquietar, quem me dera as certezas da idade, e a serenidade, que só a maturidade traz!