quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Coisas parvas que me dizem...


Ontem o papá ia chegar mais tarde para jantar. Ela, que não queria vir para casa depois da escola, pediu-me para irmos dar "uma volta". Fomos ao shopping. "Mas mãe, eu num ké i às compax!"... Não fomos. Fomos até ao "parquinho" onde ela se divertiu e foi agarrada por um menino de quatro anos, que a tentava beijar enquanto lhe dizia... "olha, olha... olha o teu nome aqui na minha camixóla!"... Ela, farta de fugir, decidiu ir às "compax". Comprámos uma touca nova para a natação e uns óculos e uma malinha cor-de-rosa. Depois disse-me que tinha fome, que queria pizza... e um gelado! (Era bem mais fácil quando ela ainda não sabia bem aquilo que gostava, nem o dizia sequer)... mas, seja feita a vontade dela, lá fomos à Pizza Hut. Mal entrou, lançou logo charme aos empregados todos e em menos de um minuto já tinha um balão na mão. "cô Róza", pois claro, como tinha que ser. Sentámo-nos, pedi uma pizza, uma sopa, uma cola e uma água. Comeu a sopa, com a promessa que depois lhe dava um gelado. Comeu a pizza, com a promessa que depois a deixava ir brincar e comeu o gelado... sem promessas nenhumas.

Já no fim da refeição, movida a açucar e gorduras de fast food, atirou-se da cadeira abaixo. O que me deu a ilusão de que tinha batido com a boca no chão e um arrepio na pele. Ganhou direito a um cubo mágico e muitas palavras de consolo e muitos "não chora" da parte de quem nos ladeava e depois de um comentário amigável da mesa ao lado, eu desculpei-a... "ela é muito activa"...


... e eis que, também eu saí a ganhar, com um comentário de brinde, que me maravilhou: "Olhe, é sinal que está viva!"


.... pois...


... sorri amarelo (muito forçada).


Mas que raio de comentário mórbido pseudo-consolador é este... é que para além de não consolar nada, nem sequer ser muito simpático ou positivo, me deixou a pensar nas coisas parvas que às vezes nos dizem, como se de grandes verdades de lapallice se tratassem. O que me fez vir à memória as célebres palavras da supé-tia da nação... em que "estar vivo é o contrário de estar morto"! Inchallá pelas maravilhosas pérolas da nossa sociedade, que tanto me fariam agora "discorrer"... mas como não quero ser mal-criada limito-me a um arremate, bem mais sensato, sintético e inteligente: "E esta, hein?!"