quarta-feira, 23 de março de 2011

Briefing consumista - no AO

Ontem de manhã, só das nove até às dez, recebi mais de quatro mensagens com campanhas promocionais de quatro marcas diferentes! Ainda os meus sentidos não estavam devidamente acordados e o meu espírito já me impelia para levar o corpo até ao centro comercial mais próximo e aproveitar os descontos… afinal de contas, sai barato e “olha só o que eu paguei”! E depois, é por estas e por outras, que o euro não rende no bolso! É que o marketing até já sabe que é pela fresca que se começa… “planta-se a semente” bem cedinho e depois é só esperar que dê árvore e fruto, ao longo do dia! O consumismo alimenta-se assim… de mensagens que vêm até nós, que nos entram pelos olhos, quando a remela ainda nem sequer os deixa ter devidamente abertos!
“Aproveite já 20% de desconto em sapatos de sola ergonómica para criança”… e a criança, que nem sequer precisa de sapatos, vê-se agora a ser levada de arrasto para a loja, experimentando o desconto para aproveitar a sola! Ou será o contrário?!
A verdade é que estas mensagens me incomodam mais do que me “seduzem”, estas tentativas de “flirt” comercial a mim deixam-me a léguas, mas acredito que não seja assim com toda a gente, caso contrário… deixaria de existir este marketing agressivo!
E se antigamente as nossas mães nos advertiam para os “perigos da carne”, agora devem também ter um curso de marketing e economia, para sensibilizar os infantes para as questões do “branding”, do apelo ao consumo comercial. Acho que se a história da Capuchinho Vermelho tivesse sido escrita no século XXI, o vilão seria uma qualquer mega superfície comercial, e não o coitado do lobo. Assim, a Capuchinho saía de casa para levar a “merenda” à avozinha, mas pelo caminho trocava-a toda por bens comerciais para ela própria. Chegando a casa da avó hiper-mega-ri-fixe bem quitada, com uns xanatos da moda e umas saruel bem trendy, mas sem merenda, nem flores para a cota… sim, porque esta coisa do consumismo também tende para o egocentrismo e para o individualismo. Incutem-nos desejos nunca antes desejados, só nossos, que nos trarão felicidade (efémera e ilusória)… mas porque são uma pechincha, toca a aproveitar e deixamos lá uma fortuna em troca de cem coisas baratuxas!
Na maior parte das vezes, o consumismo sem limites aproveita-se das nossas fraquezas mais íntimas, o que torna a “máquina” das vendas ainda mais fria e cruel… porque, conhecendo-nos como ninguém, pelo registo das compras que fazemos, sabe se somos mais adeptos de cremes ou vernizes, de comida ou de roupa, de sapatos ou de carteiras! E nós, inocentes, ainda lhes vamos dando dicas directas, coleccionado “gostos” no facebook, ou wishlists nos blogues ou twitters, ou raio que nos valha!
O papão transfigurou-se e, em tempos de crise, anda cada vez mais ávido de lorpas para papar! Nada contra uma bela sessão de compras, mas em tempos de crise… neste tipo de transacções, só é parvo, quem quer ser! Por isso, senhores do marketing deste nosso Portugal… mensagens para me seduzir… só quando o desconto for de 100%, e mesmo assim, vou “considerar”! Tenho dito!

E no meio de tanto que ficou por dizer...

... fica aqui o que foi dito no dia 17 de Março!