segunda-feira, 25 de maio de 2009

Uma questão de gosto...


São três da tarde nos Açores e acabei de passar o chão do escritório a pano. Antes disso, varri-o e arrumei uma série de caixas com material para entrega a clientes, que por estarem à uma data de dias no mesmo sítio, estavam a começar a ganhar um certo pó e aspecto “rebelde”! Não foi por gosto que o fiz, não é por gosto, que me levanto todos os dias da cama, cedo, realizando todas as tarefas, que me competem e tentando aproveitar as horas da melhor forma, para que não sinta o dia a passar.
Não é por uma questão de gosto, que me encontro neste momento a desempenhar as funções, que me competem, mas sim, pela consciência de que na impossibilidade de fazer ou realizar as funções, que realizaria por gosto e com gosto, isto, é aquilo, que me dá sustento e alguma independência monetária!
Não foi por isso com estranheza, que este fim-de-semana, em conversa com algumas individualidades, com bem mais “importância” social e etária do que eu, me deparo com o seguinte espanto da mesa a um arremate meu…
“ e gosto…” disse eu! “… sem gosto não lhe saíam tão bem…”!
Isto, a respeito do trabalho de uma senhora, que para além de Engenheira Agrónoma, desempenha a maravilhosa função de fazer bolos para fora, bolos esses, que só vistos e provados de tão lindos, originais e saborosíssimos que são. E no meio de tanto elogio, alguém comentava: “Ah, porque para isso essencialmente é preciso ter jeito…”, ao que se seguia outro: “ jeito e tempo”… sim e mais mil e tal competências, enumeradas no decorrer da conversa, durante a qual apenas a minha exclamação dissilábica levantou um silêncio de admiração e surpresa… GOSTO! Como se ninguém se lembrasse sequer de que isso pudesse ainda existir!
Mas será assim tão difícil de acreditar, que nos dias que correm ainda alguém trabalhe por gosto?! Bem, ao que parece naquela mesa ninguém se lembrou desse pequeno pormenor… à semelhança daquilo que acontece na maior parte dos nossos dias… é que numa altura de “crise crítica” como aquela em que vivemos é de levantar as mãos ao céu, a agradecer um trabalho, ainda mais um emprego, mas deixem-me que vos diga… que quem desempenha a sua função actualmente e com gosto ou por gosto, deveria colocar uma velinha a todos os santinhos, insulares e continentais!
É pena, que as nossas preferências e “gosto” se façam ver em tantas vertentes do nosso quotidiano, por vezes até nas coisas mais triviais, como a escolha de uns sapatos, carro ou móvel e não se verifiquem, na generalidade das vezes, naquilo que eu considero essencial na vida de um indivíduo: a sua realização profissional, o seu “métier”!
Isto porque, se pensarmos na maior parte dos profissionais, que desempenham funções actualmente, em quadros de empresas, públicas ou privadas, poucos serão, aqueles que as realizando, as façam com gosto, ou por gosto! E isso pode sentir-se na forma como muitas vezes os lemos como “maus profissionais”, “incompetentes” ou mesmo “antipáticos”. Não quero com isto dizer, que todos que realizem as suas funções sem ser por gosto, não possam ter empenho e brio na realização das mesmas, de forma tão competente, simpática e profissional, que por vezes nem se denote sequer essa falta de gosto tão óbvia… ainda assim acredito, e baseando-me na minha experiência pedagógica de aprendizagem e ensino, que a falta de gosto é amiga da falta de motivação, que por sua vez são inimigas do sucesso e da competência! Apenas espíritos fortes resistem a inimizades tais!
Bem sei, que mesmo se tendo o seu “emprego de sonho” nem tudo são rosas, mas como diz a sabedoria popular… “quem corre por gosto não cansa!” e embora por vezes se pare para carregar baterias… o essencial é que não se desiste de correr! Nunca!
Eu ainda não desisti de correr atrás do meu “emprego de sonho”, qual louca apaixonada, esperando o seu “Príncipe Encantado”, o seu verdadeiro amor em forma de sapo ou sapato… e se por vezes me canso… venho até aqui e escrevo… “porque quem escreve por gosto não cansa”! Espero que quem o leia, também não! E é por uma questão de gosto, que hoje aqui deixo esta minha reflexão de início de semana, para que não se esqueçam de preservar o gosto, ainda que seja em parte, de tudo aquilo que fazem!