sexta-feira, 30 de abril de 2010


Às vezes cai-me uma sombra de pessimismo nos ombros como um manto pesado que nos faz andar de arrastão... às vezes penso que gostava de ser especial, ter um dote único, ser bafejada pela sorte divina no que diz respeito a reconhecimento e realização profissional. Às vezes sinto-me uma nulidade, um zero à esquerda, sem paciência até para me ouvir a mim mesma lamuriar e “aiar” e snifar e suspirar... Enfim... mas isso é só às vezes, porque depois lembro-me da sorte que tenho em ser feliz com tantas outras coisas e tudo isso me parece acessório! Tudo o resto é banal! Afinal de contas, dias menos bons, quem os não tem?!


Venha de lá um fim-de-semana... sim?! Por favor! Obrigada!

"And so we meet again..."


Aos 20 anos fui estudar para a Alemanha. Desde essa altura nunca mais parei de viajar. Fiquei fora por maiores ou menores períodos de tempo. Conheci sítios mágicos, sítios interessantes e alguns sítios que me pareciam familiares, mas uma coisa a que não me habituei nunca, mesmo depois destes dois anos de ilha, foi às partidas. Pelo contrário, adoro chegadas!
Amo de morte ver as pessoas a chegar aos aeroportos.
Os reencontros.
Quando o meu marido veio para os Açores eu, grávida de quase 8 meses, viva de reencontro em reencontro. O dia da chegada dele era sempre dia de festa! Preparava-me toda, com a melhor roupa, bem cheirosa, e olhava no rosto de todos os que iam saindo por aquela porta das chegadas, na esperança de que cada um daqueles rostos fosse o dele. Lembro-me de espreitar, qual ginasta acrobata, por entre as portas automáticas, na esperança de o ver na zona das bagagens ou mesmo antes de ele passar por entre aquelas portas... eu só queria um vislumbre, uma nesga da figura dele, a certeza de que ele estava ali. Quando ele finalmente chegava todo o meu corpo sucumbia à saudade. Mal me agarrava no seu pescoço e inalava aquele odor, toda eu tremia, toda eu vacilava! Só com esforço continha as lágrimas de felicidade e cada beijo que ele me ia dando sabia a “ainda bem que estás aqui”!
Depois, nasceu a nossa filha e nós ficámos separados mais dois meses. Quando o ia buscar ao aeroporto fazia questão de ir sozinha, foi dos primeiros momentos em que me separei da minha filha, e quando ela fez um mês comecei a tentar levá-la comigo, mas coincidia frequentemente com a hora do choro interminável dela, com as crises de cólicas e isso dava cabo do momento... assim, tentei sempre ir sozinha. O momento era nosso! Aquele momento do reencontro, da redescoberta e foi aí, nesses reencontros, que eu percebi, caso dúvidas restassem, que estava irremediavelmente apaixonada por ele. Pois, de cada vez que o via, de cada vez que o avistava naquela porta de chegada apaixonava-me como da primeira vez em que o vi!
Ontem, a nossa casa, foi palco de um desses reencontros de “amantes”, agravado pelo facto de serem duas das pessoas mais queridas para nós, dois amigos que nos têm acompanhado de muito perto nestes últimos tempos. Para melhorar tudo, ela também está grávida de uma menina, minha sobrinha afectiva, e têm uma relação de largos anos já...
A surpresa era para ela, aliás, para elas. Eu antecipei a viagem dele, eles recomendaram-me segredo e que a mantivesse ali em casa enquanto o meu marido o ia buscar ao aeroporto. Quando ele chegou foi a Repolhita que anunciou a surpresa, apontando para o local onde ele estava. A S. um pouco céptica caminhou na direcção do local da “surpresa” e o momento em que os dois se viram foi indescritível. Eu podia tentar descrever, com as palavras mais expressivas e coloridas, com as mais ricas metáforas, mas nada transcreveria a intensidade do olhar daqueles dois, o ar de paixão reencontrada e a força do beijo que se seguiu! Nós demos-lhes espaço... desaparecemos de cena... mas a imagem daquele reencontro ficou para mim como prova de que, contra tudo o que possam dizer, o amor sincero é a maior força do mundo!