quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Atendimento prioritário - Mito ou fatalidade?! - HOJE NO AO

Mais um fim-de-semana, mais uma ida corriqueira ao hipermercado para umas compras de primeira, segunda e “terceiras” necessidades. Até aqui, nada de novo. Olhamos para a frente, a primeira caixa para pagamento que nos aparece em riste é aquela, para a qual nos dirigimos. Normalmente somos atentos, os dois, eu e o meu marido, mas neste domingo, não sei se motivados pelo impulso da urgência em ir para casa, influência da hora que adivinha mais uma refeição, encaminhámo-nos para uma caixa prioritária, sem que nos déssemos conta das implicações que isso tem!
Não me entendam mal, que eu não tenho nada contra os atendimentos prioritários, muito pelo contrário, sou completamente a favor, que as grandes e as pequenas superfícies, tendo em conta as condicionantes dos clientes, que a estes espaços se dirigem, e melhor os querendo servir, dêem prioridade a casos de “urgência” ou de “cortesia social”. Enfim, estávamos então a colocar as nossas compras na passadeira, alinhando-nos no nosso lugar no ranking deste atendimento, e eis senão que somos advertidos para uma situação prioritária, a quem teríamos, que dar cedência de lugar e prioridade. Uma grávida, nada contra, já fui uma, conto, quiçá, vir a ser de novo! Respeito muito semelhante condição de graça, que acima de tudo acho muito engraçada! E então, quase como que numa reacção de instinto, afastámo-nos para deixar passar as prioridades, quando sinto a mãozinha da minha filha agarrar no ferro do corrimão da barreira separadora de caixas e me ocorre, se também eu não serei prioritária, com uma criança de dois anos e treze quilos de pura beleza nos braços. Colocámos a questão, sem nunca recusar ceder a prioridade, e a resposta foi um sorridente, mas seco e psedou-irónico: “Mas essa criança já anda!”. Quase como um disparo, rasgando caminho pelo meu aparelho fonatório fora, movido por indignação retorqui: “o problema é esse, anda e demais!”. Não me entendam mal, que nestas minhas palavras nunca estarão em causa os atendimentos “prioritários”, senão que apenas e só, os critérios deste mesmo atendimento, o que me levou a ponderar semelhantes simulacros por pura curiosidade… numa fila de supermercado estão, com o mesmo número de compras e o mesmo grau de pressa: uma grávida de 4 meses, uma de oito, um cego, um surdo, uma mãe com um bebé recém-nascido num carrinho, outra com um bebé recém-nascido ao colo e outra com uma criança que já anda e não pára de “esbracejar”, comportamento típico daquelas idades, que em tudo querem mexer, tocar, provar! Enfim… qual seria o caso mais prioritário de entre todos?! Ou respeitar-se-ia aqui a ordem de chegada, sendo o surdo sistematicamente empurrado para o fim da fila, por falta de visibilidade da deficiência que transporta?! Pois… não sei! Mas acho curiosos estes critérios pudicos de um falso realismo de prioridade nos atendimentos, em espaços comerciais que apelam para que se “façam as compras em família”, e que não primam pela simpatia, “prioridade”, nem compreensão para com as necessidades das mesmas. Imagino, que se fossem dois ou três filhos pequenos, que andassem, em lugar de um, o filho que ainda não nasceu, continuasse a ser “o prioritário”.
Pois, para que conste, a mim, se me perguntarem, e tendo eu vivido uma longuíssima gravidez de 42 semanas completas, continuava a preferir que não me dessem prioridade nenhuma nessa altura e que me a dêem toda agora… pois sete quilos de gravidez quieta, sempre pesam menos do que treze de criança ao rubro! Ainda assim, este domingo não parou de nos surpreender… e não só tivemos que ceder prioridade a uma, mas a duas grávidas! O insólito kafkiano instalou-se o nesse domingo decidi, que se puder escolher… crianças, nas compras, comigo: só se me couberem no ventre!