quinta-feira, 30 de abril de 2009

No espaço de um espirro


Ontem, no espaço de um espirro aprendi sobre mim: que não lido bem com críticas; que a injustiça me leva aos píncaros da raiva; que a minha resposta é escrever; que duvido das minhas capacidades; que guardo em mim, uma secreta e completamente ridícula esperança de um dia vir a salvar o mundo; que acredito na educação enquanto forma de resolver muitos dos problemas, que nos afectam; que ainda acredito numa justiça impotente, por vezes corrupta, mas com ideais; que falo alto quando me enervo; que as pessoas de quem gosto, se assustam com a forma como argumento contra tópicos apaixonados; que encaro a escolha partidária na política como tabu; que não gosto de pizza de 2 queijos com rúcula açoriana; que os meus amigos são de prata e bronze, mas uma tia como a minha vale ouro; que amo os pés descalços da minha filha e por fim, que já não saberia escrever, argumentar, lutar e acima de tudo, não seria capaz de perceber tudo isto sem ti! Obrigadaaa....tchim! ;)

Um conto de encontro...

Ela fechou a porta e saiu.
Ele voltou a olhar para a televisão e os dias passaram…
Não se voltaram a falar, mas pensaram-se muitas vezes. Ele, lembrava-se da doçura e toque suave. Lembrava-se das palavras meigas e cabelos sedosos. Mas à medida que passavam os dias, começou a esquecer-se da razão que a levou a sair por aquela porta naquele dia.
Na lembrança dela, havia lugar para um imenso par de olhos castanhos, afundados numa pele morena de mãos grandes. Não poderia esquecer nunca aquela voz e riso felizes. O sorriso dele foi alimento de muitos sonhos em longas noites de Verão.
Deitada ao sol, na praia de Porto Côvo, onde as horas rendem para sol quente, banhos de mar morno e noites sossegadas, ela pensou nele com carinho. Também se tinha já esquecido o porquê de ter saído por aquela porta, naquele dia. Pensou ligar-lhe, mas achou melhor não… afinal, a vida continua. A dele não deve ser diferente.
No dia seguinte, enquanto bebia mais um sumo de laranja matinal, de sabor a férias, recordou o último beijo dos dois. Pegou no telefone e marcou o número dele… mas não fez a chamada. Afinal de contas, talvez fosse tarde demais.

Todos os dias ele acordou, desde o dia em que se deixou ficar a olhar para a televisão, com vontade de lhe ligar. Vontade que se deixava esbater com o primeiro café do dia e acabava com o terceiro, tomado a passos largos a meio da manhã.

Ela voltou de férias e tudo em si era vontade de lhe ligar, contrariando os motivos, esquecidos por ela, que a levaram a sair por aquela porta, naquele dia! Em todas as suas saídas procurou pelos olhos dele. Em todos os sorrisos, procurava o dele. Até que um dia, desistindo de lutar contra si, se obrigou a esquecer a vontade de lhe ligar.
Continuaram os dias a passar.

Um dia, cansado de esperar, ele próprio se obrigou a esquecê-la, em vão, limitando-se a arrumar a memória dela num canto da sua, no arquivo “sem esperança”.

Na cidade de coração dela, por caminhos antes percorridos com ele, sob a lembrança do seu olhar atento, com o qual via tudo o que ela lhe ia contando, sorvendo a cada palavra, gotas da paixão que começava a não conseguir segurar, ela se lembrou um dia de voltar a passear. Percorreu todos esses caminhos, recordando palavras, passos, gestos, na esperança de o encontrar nas memórias daquelas ruas, calçadas e paredes.
Sob um olhar surpreso viu a ilusão de um corpo moreno sentado na muralha da Sé a olhar o rio Douro, pensativo e pesado. Na esperança de conservar a miragem daquele corpo em tudo tão parecido com o dele, aproximou-se. Deixou-se ficar a sentir no ar o odor, daquelas costas largas, trazido em mãos pela brisa de um final de tarde e identificou nele o perfume dos olhos castanhos.

Sentia a sua pele quente, deixando-a arder sob o sol, para depois a sentir afagada pela brisa do rio, daquele fim de tarde, lembrava-o a doçura do toque dela. Relembrava todos os passos e todos os sentimentos, que manteve guardados no canto da sua memória, “sem esperança”… Deixou-se afundar na ilusão de que o toc-toc, ligeiro e suave que ouvia aproximar-se das suas costas e depois parar era o som dos sapatinhos dela.

Dois pensamentos, alimentados de ilusão voluntária, fundamentados no desejo de um reencontro casual. Dois corpos em presença num final de tarde no Porto.

A brisa amainou, foi-se a lembrança. O odor deixou de se sentir e o afagar suave do calor do sol, deixou um repente de desconforto na pele. Ele olhou para trás. Ela olhou para cima.
Não era ela. Não era ele.

Voltaram a olhar-se, aqueles dois corpos em presença e depois de passar o ligeiro ardor do sol nos seus olhos e a ligeira nébula da lembrança, que a ambos turvava o olhar… finalmente se viram. Era ela. Era ele.

Corações batendo, mãos frias, ele saltou da muralha e caminhou na direcção dela. E sem dizer uma palavra, afagou-lhe os cabelos com a mesma suavidade da brisa e ela matou saudades do beijo daquelas mãos grandes.

Ela não voltou a sair por nenhuma porta e ele não voltou a deixar-se ficar a olhar para a televisão. Os dias passaram e é assim, que na minha mágica cidade do Porto, os amores se encontram num final de tarde dourado, abafado, quente e húmido, deixando para sempre as lembranças de uma vida de amor em ruas, calçadas e pedras!

“Quem vem e atravessa o rio, junto à Serra do Pilar, vê um grande casario, que se estende até ao mar…”

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Sem ideia...

“Vocês mulheres são do pior umas para as outras!”
Comentário com que me brindou o meu mais que tudo, justamente à hora de almoço, deixando-me com uma dificuldade na digestão, tanto do almoço, como do comentário.
Sempre que ouvia comentários do género, logo me subia um género de revolta à gola, que me fazia apetecer, rebater até à exaustão todos os argumentos que pudessem utilizar. Não que seja feminista, acérrima defensora do pacto de lealdade secreto feminino, nunca falado nem discutido, mas porque acredito que pode existir algo entre as mulheres como existe entre os homens, aquela camaradagem, aquele espírito de defesa e compreensão acima de tudo e todos!
Nunca acreditei muito em tretas de características de género, específicas e comuns a um e apenas um género, qualquer que seja: feminino, masculino, transvestido ou assim pró híbrido… mas começo a pensar, que nós mulheres temos em nós o melhor dos melhores e o pior dos piores, que vamos seleccionado e distribuindo no nosso dia-a-dia a nosso bel-prazer! Acredito sinceramente que pode existir amizade, verdadeira, desinteressada e genuína entre as mulheres.
No plano da ficção sou fã da conhecida série televisiva e filme o “Sexo e a Cidade”, adoro aquela amizade louca, desmedida e atemporal, que a tudo leva e a tudo obriga aquelas quatro criaturas ficcionadas, completamente distintas umas das outras e tão iguais naquilo que realmente importa. A cena do filme, em que a Carrie vai a pé na noite de Ano Novo de propósito para não deixar a Miranda sozinha, pois sabia que esta estava sem o filho, que tinha ido passar essa noite com o pai, leva-me às lágrimas…
Normalmente, na estrada, assim como na vida, tento manter uma atitude de camaradagem em relação às outras “condutoras”, sinto-me bem, protegendo-as e dando-lhes passagem, pois sou empática com a nossa condução no feminino, que durante tantos séculos lutamos nós, e mulheres outras que não nós, mas como nós, para obter e fazer validar!
Sinto-me sinceramente tocada pelos dilemas no feminino e acho que só uma mulher, percebe completamente outra e aquilo que lhe vai na alma, mas sabendo isso, sei também… que nada melhor que uma mulher para magoar outra como ninguém! Venham as mentiras dos homens, os problemas com os filhos, que nada magoa mais e de forma mais ácida do que a dor que uma mulher consegue infligir noutra. Por vezes, por coisas tão estúpidas e ridículas como o gosto pela moda, determinado vestido ou um par de sapatos! Dizem-se coisas cruéis...
Gostava de me lembrar de um homem, verdadeiro espécimen do sexo masculino, que julgue outro pelos seus mocassins fora de moda. Ou que diga sobre outro, que ele não tem o mínimo sentido de estética, porque os individuais, que acaba de comprar são terrivelmente foleiros na cor e padrão… penso, penso, e paro de pensar, porque não me lembro!
Admito que dá um certo gozo, aguçar a língua nas maledicências triviais, mas até onde será de bom tom prolongarem-se críticas, género "escola secundária" até à idade adulta, levando-as ao extremo de se fazerem extrapolar para a vida pessoal das "criticáveis"!?
Dizem as vozes “populares”, sabedoras das máximas e morais, que “gostos são gostos e não se discutem”. Mas, parece que nós mulheres, peritas em subverter tudo, e encontrar a mínima falha até na porcelana mais fina, acabamos de acrescentar à velha máxima: “Gostos são gostos e não se discutem, mas as pessoas que gostam deles são perfeitamente discutíveis”!

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Errar é humano, mas não neste País!


Tomei o pequeno-almoço, calórico demais, mas hoje é segunda-feira e a semana é mais curta. Mereço! Arranquei no meu carro e cheguei ao escritório, atrasada, mas hoje é o primeiro dia da semana e estava trânsito. É justo! Sentei-me na secretária, organizei a correspondência, respondi aos emails em falta, reencaminhei os faxes atrasados, mas deixei as coisas mais complexas para de tarde. É compreensível! Abri a minha caixa de email, o meu blog e preparei-me para mais uma manhã navegando em blogosferas cibernáuticas… afinal de contas, a minha leitura diária já estava atrasada um fim-de-semana inteiro. Pareceu-me bem!

O que não me pareceu tão bem, ou melhor, pareceu-me mesmo mal, foi o conteúdo dos comentários, efectuados a um dos textos, publicados num dos blogs, que mais regularmente sigo, onde da discussão acerca da falta de respeito, demonstrada pelos deputados no Parlamento em relação ao normal desempenho das suas funções, (de resto agravado pelo facto de uma centena de alunos terem assistido a esta pobre exibição, descredibilizando para sempre, aos seus olhos, o papel destes políticos na intervenção da vida da Sociedade actual) se passa para a discussão entre o facto ortográfico de se escrever “à dois dias” ou “há dois dias”! O autor do texto citado tinha utilizado a expressão gramaticalmente correcta “há dois dias”, mas foi corrigido por uma Bleitora indignada, que não entendia porque é que o autor do texto tinha cometido essa “grave falha”, o que só vinha dar razão ao “triste estado da Nação”, questão que a “preocupava seriamente”. Mais triste ainda me pareceu o comentário de alguém, que assumindo-se como professora de Português, insultava todos quanto tinham participado nessa troca de comentários, apelidando o nosso povo de “povo ignorante”, mais, apontando essa como razão para o nosso País, “não chegar a lado nenhum”!
Tudo começou com este comentário:
Concordo que este comportamento está errado, no entanto em todas as profissões podemos encontrar pessoas que desempenham o seu trabalho convenientemente e de uma forma ética e outros que não.Não vamos por isso descredibilizar toda uma classe.Outra questão que me preocupa neste país é a forma como escrevemos. O autor deste texto escreveu"acompanhei cerca de cem alunos há dois dias atrás"(1ª coluna)... pois escreve-se: à dois dias atrás...Esta é uma questão importante à qual não temos dado a devida atenção!”
Ao qual se seguiu uma correcção acertada, com apontamento irónico:
“…, não saber não é crime, mas não saber e dar palpites fica sempre mal. Não é nem h"á dois dias atrás", nem "à dois dias atrás". É "há dois dias".”
A discussão prolongou-se ao longo de comentários, dividindo e “confundindo” as partes:
“há com 'h' refere-se ao verbo haver, pelo que se escreve 'à dois dias atrás'”
…ou…
“ver pessoas a corrigir supostos erros de português dando erros tão primários e insistindo neles é assustador.é há com h porque refere-se a tempo. quando se refere a tempo ou se equivale ao verbo existir é "há" com h. Isto é um erro que muita gente dá, mas para mim é dos mais indesculpáveis. Quando escrevemos com pressa até é admissível que escape, agora estar a reflectir e a insistir no erro é grave!”

… e ainda…
“Também não pode deixar de achar piada à correcção equivocada da jovem …, sobre o "há / à" e à sua defesa pela … ... Pelo que vi com os comentários pertinentes das outras, o erro ficou esclarecido HÁ muitos minutos!!!!”
Chegando por fim ao comentário da Sra. Professora:
“É por isso que este país nunca chegará a lado nenhum... Sou professora de português e posso garantir-vos que a forma correcta é: "há dois dias atrás". Sim, refere-se ao verbo haver. Conhecem a expressão "houve em tempos..."? Pois é, o verbo haver conjuga-se com o tempo: dias, meses, semanas, etc. Por favor, escrevam e falem bem. E sobretudo, quando derem palpites saibam do que estão a falar. Povo ignorante. Já para não falar dos deputados, caramba!”
O que mereceu da minha parte o seguinte comentário (sim… porque estas questões do ensino ainda me tocam…):
“Em relação à Anónima, professora de Português, que acaba de apelidar todo o nosso povo de "ignorante", apraz-me dizer, que enquanto professora de Português e outras línguas, que também sou, é essa a função dos professores: Ensinar! Passando o povo de "ignorante" a "elucidado" e esclarecido! Mais positivo do que insultar, quer-me a mim parecer que exercer a nossa função enquanto professores e cidadãos é bem mais produtiva, quando poupamos o nosso "povo" de insultos generalizadores!”

Não fui tanto motivada pelo desplante dos deputados em fazerem tudo na assembleia, menos aquilo que lhes compete. Isso é, infelizmente, do conhecimento geral. Nem mesmo a desilusão causada, àquelas pobres e jovens mentes, que na esperança de virem a aprender aquilo que representa a Democracia, aprenderam aquilo que de facto ela é. Isso era previsível. Não foi nem mesmo o espanto causado pelas dúvidas gramaticais de português, levantadas por mentes indignadas, talvez na verdade contra causas injustificadas. Isso é mais do que corriqueiro. A razão da minha reacção foi de facto despoletada, nada mais, nada menos do que pelo insulto generalizador, atirado em forma de remate ao povo “ignorante”, causador da imobilidade do nosso País. Ainda mais grave, fundamentado na constatação de uma dúvida/erro/deslize ortográfico, arremessado pela mão pedagógico-didáctica de uma professora de português.
Não é espanto nenhum que as pessoas errem, afinal de contas “errar é humano”, ao que parece, só não o é neste País, de mentes “ignorantes”, que talvez nunca cheguem a ver a “luz”, porque afinal de contas, em vez de lhes corrigirem o erro, se limitam a arrematar tudo com um insulto, globalizador, generalista, que a todos toca e abraça de igual forma.

Agora, eu pergunto, e desta vez mesmo indignada: Não será a obrigação/dever/função de um professor elucidar e esclarecer dúvidas/erros/deslizes?! Se todos fossem elucidados de que serviria a classe dos Professores?! A mim, enquanto professora, mãe, educadora, mas acima de tudo cidadã, não me escandalizam os erros de português, ortográficos, nem de outras formas… mais me escandaliza a falta de voz, opinião, discussão e expressão de ideias. Pois me parece a mim, que rematar uma discussão com um insulto demonstra uma pobreza muito grande de eloquência e acima de tudo vontade de ensinar, senhores Professores e caros colegas!!! Se para tudo na nossa vida encontramos desculpas e justificações para os nossos erros e deslizes, porque não tentar ser mais compreensivo e tolerante com os dos outros?!
É bem verdade que a Tolerância foi um conceito que surgiu apenas no século XIX, mas parece-me a mim, que já não há desculpa para não se ser conhecedor do mesmo e quem sabe, frequente utilizador do tal.
“ A tudo pesem, a tudo pensem!”, dizia “O Professor”. Não se coíbam de demonstrar a Vossa indignação, atitude e opinião, pois o valor das ideias não está nas palavras que utilizamos, mas naquilo que as motiva, uma vontade de ser, querer e participar, numa sociedade e democracia, que afinal de contas é de todos… literados e aliterados. Cabe no fundo à Classe “dita” culta, perceber, integrar e identificar essas ideias expressas em “português pobre”, embelezando-o depois em correcções ortográficas de época, moda e grife… sim, porque acima de tudo a Sra. Professora devia saber que a língua muda e evolui… nem sempre acompanhando as gramaticalidades impostas. Portanto, o que hoje é erro, amanhã puderá já não ser!
Quem nunca deu um erro ortográfico, que lance a primeira pedra. Quem nunca teve dúvidas que se acuse. Afinal de contas, poucos há que “ nunca se enganem e raramente tenham dúvidas!”, e mesmo esses, nunca se enganando, atrevo-me a dizer: acertam pouco!

Por isso, em lugar de análises ortográficas ou gramaticais, atrevam-se antes a reunir energias para perceber o que realmente interessa no texto citado. Na minha opinião, subentende-se o desinteresse, desrespeito e apatia que vigoram no Parlamento, que não sendo comum a todos os deputados, influencia muito a imagem, que passa para a Sociedade; em segundo lugar, que temos uns deputados modernos, virados para as novas tecnologias e que talvez devessem utilizá-las para ouvir a voz do “povo ignorante”, que tanto apregoam fazer respeitar; em terceiro lugar, alguém devia pensar em explicar aqueles jovens, que o Parlamento não é mais do que constituído por humanos, e que por isso, e sem querer desculpabilizar ninguém, é mais do que normal que essas coisas sucedam, situação que não é a nossa geração, que pode alterar, mas quem sabe, senão a deles. Fazendo uso de um "erro" para apontar uma correcção, ou apoiando-se num mau exemplo, para dar um bom! Apoderando-os de uma consciência da sua juventude, enquanto futuro cidadão activo, potenciador de mudanças e alterações no sistema democrático vigente e na Sociedade vindoura. Parece-me que os erros ortográficos de um texto desta índole, e ainda que não os tendo, se os tivesse seriam a mínima razão de discussão do mesmo. Alertadas as consciências para a devida correcção gramatical, devia ter-se deixado em aberto o espaço para a discussão interpretativa do texto em si, não o reduzindo a um comentário insultuoso de “povo ignorante”, que não sabe escrever nem falar, razão do nosso País não “ir a lado nenhum”.

De mim para vocês e em estilo de confidência, eu que já estive em vários cantos por este mundo fora, não queria o nosso Portugal, jardim à beira mar plantado em mais lugar nenhum, que não aqui mesmo onde estão Continente e Ilhas. E aproveito para deixar um apelo, neste espaço que é meu e de liberdade, Srs. Professores e educadores, pais e mães, tios e tias, “assins e assados”: eduquem os vossos alunos, filhos, sobrinhos, educandos, os jovens deste País, como pensadores, e não como imitadores; se eles errarem, chamem-nos à razão, através da elucidação e não do insulto; acima de tudo dêem-lhes espaço para errar… não queiram pessoas perfeitas na imitação, as grandes ideias nasceram quase sempre dos alucinados, raramente dos ditos “normais”. No âmbito do estudo da língua se veja, que as melhores obras de literatura são sempre as que fogem à norma!

Sábado celebrou-se mais um aniversário da data da revolução, do dia da Liberdade. Não seremos nós, cidadãos deste País livre, livres para errar sem merecer insulto?! No âmbito desta “divagação”, considerem-se todos os Bleitores avisados: NESTE BLOG (H)Á LUGAR PARA ERRAR!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Blogosfera Feminina

Hoje dei por mim a vaguear no mundo blogger, a blogosfera, procurando blogs de mulheres, escritos por mulheres e vocacionados para mulheres.
Queria ver o que neste país havia de iniciativas, como a minha, que contivessem aquilo, que considero ser a verdadeira essência da mulher do Século XXI: beleza com conteúdo. Assim, passei por muitas páginas, viajando em blogs de relatos de viagens, relatos de gravidez, relatos de experiências de maternidade, artesanato, blogs de vendas de roupa usada, blogs de diários fotográficos, diários de férias, bebedeiras, casos amorosos. Vi e li muitos blogs de nomes bem originais… suis generis, muitos, desiludindo-me um pouco depois, confesso, por não fazerem jus ao nome, ou pelo menos não à expectativa criada por mim em relação ao nome que lhe atribuíram.
Mas aquilo que de mais encontrei e que pude constatar são os mais visitados, são mesmo os blogs de moda. Não há mulher que não se renda, por exemplo, aos encantos de um “mini-vestido”, ou aos comentários “cómiquirónicos” do “A batata mais Doce”. A verdade é que há, nas mulheres de hoje, uma curiosidade, que sempre houve, em saber o que está na moda ou o que é que as outras gostam, vestem ou fazem. Hoje, facilmente satisfeita por um simples clique e abrir de páginas na internet.
Não há mulher que resista, por muito alheia que seja a essas coisas, a ler ou folhear as páginas de uma revista de moda ou catálogo de produtos, de vestuário, decoração, cosmética, tupperwares, brinquedos, seja do que for. E estes blogs funcionam, na maior parte das vezes, como grandes catálogos e revistas de moda, gratuitas e pessoais, ao acesso de qualquer uma e com direito a comentários online e pedidos de ajuda directos.
De facto, sempre que se faz uma pesquisa no Google, procurando imagens de determinado look, de vestuário e/ou penteado, calçado ou acessórios (e só uma mulher, para fazer utilizar as pesquisas da internet com estes fins), a maior parte das imagens vem de blogs, como estes, que acabei de referir… não acreditam?! Então experimentem… por exemplo, tenho um evento ao qual planeio levar um vestido dourado, mas não sei que calçado ou acessórios levar… Fácil, digito: “look dourado” ou “golden look” e vejam os directórios das imagens que vos aparecem! Curioso, não é?! E com uns simples vislumbres destes blogs encontro o look, que mais se adequa ao meu bolso, corpo e desejo!
Não deixa de ser curioso, no entanto, que poucos blogs existam que juntem a essas dicas de moda algum conteúdo, que não apenas os links aos sites de venda dos produtos referidos ou a outros blogs do género, com recomendações semelhantes. Quer-me a mim parecer, que os blogs que visitei têm sempre um pouco de parcialidade no seu conteúdo, limitando-se à perspectiva de um determinado assunto ou criador e saindo pouco fora disso. De mim falo, que no meu mísero blog, nem uma dica de moda dou… um assunto a pensar, talvez tenha que começar a inserir aqui looks para: “levar a sua filha à escola”, “cozinhar para o seu marido, sem usar pantufas”, “look para acordar às sete da manhã, deitar-se às duas e ainda assim parecer radiante em todas as tarefas domésticas e profissionais, que desempenha”… ou quem sabe ir mais longe: “dicas do look ideal para escrever crónicas no seu horário de trabalho e ainda assim não ser despedida” ou, finalmente o “look ideal para ser despedida por escrever crónicas no seu horário de trabalho” e dicas para “ocupar os seus dias, agora que não tem trabalho, nem dinheiro, nem internet para publicar as suas crónicas no seu blog”. Será que tinha mais sucesso?! Não me interpretem mal… adoro os blogs com dicas de moda, sou até mesmo seguidora de alguns, mas talvez ainda não tenha encontrado o blog de tamanho ideal para o meu “pezinho”…
Perdida nesta minha divagação de ideias acerca da blogosfera feminina, acaba de me ocorrer que talvez, também eu possa dar consultas, não de imagem, mas de opinião, acerca de tópicos femininos, mas não feministas, não se confundam por favor… (fica aqui prometida historinha explicativa da diferença entre os dois conceitos!) Assim estou à Vosssa disposição, para responder, por exemplo a questões como: “Mulher a 1000/h, estou desesperada e já não sei mais que fazer… o meu filho não pára de tirar macacos do nariz e colar à minha roupa ou àquilo que estiver mais à mão… o que devo fazer?!”, ao que eu muito eloquentemente responderei: “Recebi a seguinte questão de uma Bleitora, (cito a mensagem, em itálico, claro!!!), ao que eu posso sugerir: 1. Cure-lhe a constipação; 2. Ensine-o a usar um lenço; 3. Se tudo o resto falhar limite-se a estar atenta, de lenço de papel em riste, para qualquer ocasião, ser mãe é dose… e já agora, já visitou o site com as carteiras “nada de especial” e mais caras do universo?! Acho que devia aproveitar, estão com 0,0005% de saldos!” Não havia Bleitora, que não comentasse um tópico destes! Aposto! Eles eram :”Grande dica e já agora, adorei as carteiras!” ou “Pena o preço, mas não resisti”… “Limpei-lhe o nariz e guardei os lenços na minha nova carteira…”!!! Um sucesso, sem dúvida!!!
Agora com menos ironia, de que até nem sou fã, só mesmo nós mulheres para conseguirmos passar de tópicos de moda, a familiares, passando por um drama de unha partida ao do marido infiel, acabando no “estou com canudo e sem emprego há anos”, mas “o que hei-de vestir para este casamento?”… sem se perceber muito bem qual o maior, entre os dramas em questão… E viva as mulheres na blogosfera, que me divirto tanto a ler tudo isto!

quarta-feira, 22 de abril de 2009

Life is Life...


Sentada no meu sofá, olhando pensativa pela janela, na hora em que o silêncio é mais sentido reparo em alguém que toma banhos de mar. São exactamente 19:43, estamos em Abril.

Algures na ilha morreu uma senhora. Vítima de uma leucemia, diagnosticada há cerca de 4 meses atrás. Algures nesta ilha nasceu o Tomás, um menino, filho único, muito desejado de um casal feliz. Enquanto as amigas da senhora que faleceu hoje, choravam chocadas e abaladas pela notícia que sobre elas se abateu, as crianças brincavam, alheias a esta morte, correndo e saltando nas suas habituais brincadeiras. A minha pequenina, sorriu, como sempre ao ver-me, enquanto a educadora virava a cara tentando poupar aos olhos da minha filha os seus inundados de lágrimas. A mãe do Tomás também chorava, de alegria, ao segurá-lo nos braços.
Algures nesta ilha, que não mais é do que o espelho do mundo e parte dele, há pessoas, que ainda trabalham, ansiosas pelo término da tarefa, outras que fazem mudanças, carregando juntamente com os seus haveres uma esperança íntima e secreta de um novo começo, ainda e sempre, cada vez mais feliz.

Enquanto escrevo, algures na mesma ilha, há alguém que ama intensamente os braços de um amor secreto e proibido. E há alguém que sofre, vítima de uma traição.

O Tomás tem agora à frente dele todo um caminho de páginas em branco. A senhora que morreu, viu o seu livro cheio de apontamentos e anotações ser bruscamente fechado, contra a sua própria vontade. Os que trabalham, amam e se mudam estão a escrever as páginas do seu próprio livro, com a mesma rapidez, com que escrevo este texto. E é assim, que a bem e a mal se vive e morre nesta ilha. É assim aqui, como em qualquer parte do mundo. Porque a vida é tudo isto em sintonia. Alternando os momentos, e culminando apenas, quando a própria lembrança da nossa existência cessa, deixando de existir e apagando-nos para sempre. Mas o livro da nossa vida, continua em biblioteca... algures numa estante perdido e o melhor que podem fazer, talvez mesmo até a única coisa que podem fazer por nós depois da nossa morte e algumas vezes ainda em vida, é lembrarem-se dele de vez em quando, recordando-nos enquanto pessoas, nas palavras que fomos escrevendo ao longos das páginas dos nossos dias.

Mulher a 1000/h

O despertador do telemóvel toca às 7 e meia. Sem olhar para ele, o meu marido estica o braço e adia, mais quinze minutos. Volta a tocar, parece que só passaram cinco minutos. Voltamos a adiar. Agora são oito horas e já estou atrasada até em relação aos meus típicos atrasos. Levanto-me totalmente atordoada, faço uma passagem rápida pela casa de banho e salto para a cozinha. O biberon da menina leva oito medidas de leite, e 240 ml. de água. A da termos está muito quente, misturo com uma já arrefecida, que guardo no fervedor eléctrico para estas ocasiões. Dou-lhe o leite. Mamou tudo! Cuidadosamente volto a colocar-lhe a chucha na boca e deito-a. Trato de me vestir, a correr… sim, porque sei que deve acordar já daqui a cinco minutos. Estou a acabar de vestir as calças, quando a ouço. Ainda sem sapatos ou camisola pego nela. Tirar o pijama, tirar a fralda, limpar com toalhitas, aplicar o creme, colocar a fralda. Tem que vestir meias calças, porque agora que gatinha apanha mais frio nas pernas, depois é o body, para não andar com a barriguinha no chão, em seguida as calças, os sapatos, mas não muito duros, nem muito moles, porque está a começar a ficar de pé, mas ainda não anda. Uma camisola, um casaco e levo-a comigo até à casa de banho. Depois é embeber um pedaço de algodão em soro fisiológico e limpar-lhe a carinha. Aproveito que estou perto das escovas, lavo os dentes e penteio-me, enquanto ela espreita para a banheira e rapidamente se desloca até ao papel higiénico, que trata de desenrolar e meter na boca. Filha, na, na, na… Ela abana com a cabeça. Pego nela, vamos até ao quarto. Lá acabo de me vestir, sem ter muita atenção a cores e tecidos, até porque as manhãs de semana não dão grande inspiração a jogos de vestuário e acessórios. Um anel próximo da cor da roupa, relógio, brincos… enquanto ela mete uma das minhas pulseiras de massa na boca e se baba na camisola imaculadamente lavada, que tinha acabado de lhe vestir. Enquanto pego nela para a limpar reparo num cheiro a fralda, que emana do seu pequeno rabinho. Mais uma troca de fralda antes de sair. Tira calças, tira meias, tira fralda, limpa, põe pomada, põe fralda, meias, calças. Pego no bibe do colégio, mesmo à saída. Pego num pacote de bolachas de água e sal, carteira, óculos e calço os meus sapatos.
O caminho até à rua não é longo, era bem pior quando morávamos no 10º andar. Enquanto isso ligam do escritório. Faço os malabarismos habituais para pegar no telemóvel, com as minhas mãos de polvo carregando menina, chaves, bolachas e carteira. Era fax. Desligo a apitadela do meu ouvido e ainda tenho tempo para um breve trocar de palavras com a senhora que todos os dias faz a limpeza no prédio.
Sento a menina no carro, na cadeirinha dela, tendo o cuidado de a proteger do sol. Aperto-lhe o cinto. Tranco a porta, abro a minha pouso a carteira e arranco. Ligo o leitor de CD, Bach para bebés. Ela vem sossegada. Estou sem gasolina. Voltas e mais voltas. Estaciono em frente à Creche, apertando-me no único lugar vazio. Vou ao passeio duas vezes, mas desta vez não dei toques em nenhum carro. Tiro-a do carrinho e dirijo-me até à sala dela. Informo-as da hora da próxima refeição, que dormiu bem, já não tem tosse. Deixo-me ficar um pouco a vê-la brincar com os outros bebés. É fascinante ver o quanto cresceu e se desenvolveu nestes últimos meses. Diz-me adeus com a mãozinha e um sorriso maroto, enquanto outro bebé lhe rouba a chucha. Volto a entrar no carro. Lembro-me, que me esqueci de trazer o cheque para pagar a creche. Amanhã.
São 9 e um quarto. Mas tenho que abastecer. Desta vez acho que não consigo chegar ao escritório sem meter gasolina. Paro, abasteço e ainda tenho tempo para engolir, à pressa, um café queimado. Vou até ao escritório. Ao chegar já tenho um senhor à minha espera. A manhã passa, entre telefonemas, faxes, emails e crónicas. Nunca mais é sexta-feira! Na hora de almoço aproveito para dar um pulo até ao shopping. Tenho que comprar leite e creme para a menina, ir buscar as calças do meu marido, que ficaram para fazer bainha e passo a habitual vista de olhos às montras. Perco-me com um casaco de malha, que visto logo na loja, porque está frio hoje e me esqueci de um. Sinto as baterias carregadas. A caminho do escritório recebo um telefonema da minha mãe. A avó caiu, está doente, bla,bla,bla… entendo meias palavras ruidosas, porque no sítio onde estou não tenho muita rede. Vejo um ouriço cacheiro e lembro-me do artigo que li ontem de manhã no jornal, que a maior causa de morte dos ouriços nas estradas dos Açores são os automobilistas… Está tudo bem. A menina também. Falamos logo. O rádio passa notícias e de repente sintonizo no Cadillac do Roberto Carlos. Piiii-Piii. O atalho de terra faz engasgar o meu carro. Cheguei de novo ao escritório. Acabei de receber uma encomenda da minha tia. Ligo a agradecer e corro para o espelho, para aplicar as sombras, que tanto namorei no blog do mini-saia. Sombras expresso de aplicação rápida em 4 segundos. Uau, 2 euros de magia! Olhos de lince num instante. Volto ao computador e novamente uma tarde de emails, faxes, telefonemas e crónicas. Leio os jornais da actualidade online. Ouço o novo single dos Blasted. Lembro-me do magnífico concerto das Sete Cidades. Namoro um penteado lindo num outro site de moda, que sonho secretamente conseguir fazer em casa. Troco emails com amigas e ponho a conversa em dia com a minha tia. Preparo umas caixas e fichas técnicas. Faço a impressão de uns autos. Olho para as minhas unhas e desejo no meu intimo ter tempo para uma manicure rápida em casa, logo à noite. Lembro-me que não deixei nada a descongelar para o jantar. São seis horas. Saio a correr, desligo o computador, fecho os estores, pego na carteira, tempo para reenviar um último fax. Entro no carro, desta vez é o Pedro Abrunhosa que se sintoniza no meu rádio. Ao chegar à Creche encontro a minha filha de cabelo rebelde e arranhão na cara, afinal a troca de chuchas não correu lá muito bem hoje. Como correu o dia?! Comeu bacalhau e gostou. Que bom. Encosto-a a mim e adormece antes de chegarmos ao carro. Novamente para a cadeirinha numa abertura e fecho constante de portas (tenho o fecho central avariado). Entro em casa com ela adormecida nos braço, mais a carteira, mais os sacos do leite, creme e calças. Deito-a na caminha dela. Tiro casacos, tiro calças, tiro sapatos. Aproveito para fazer a cama e dar um “jeitinho” à casa. Ainda tenho tempo para uma olhadela rápida pela janela da minha casinha com vista para o mar.
Está na hora de preparar o jantar e fazer uma sopa para a menina. Descongelo a carne. Preparo os legumes e hortaliças frescas, um pouco de carne, água fervida e azeite e é só deixar cozinhar. Espero pelo meu marido para começar a fazer o jantar, afinal de contas nunca sei a que horas chegará. Chega espantosamente cedo hoje, são 8 horas. Preparamos o jantar e quando nos sentamos para comer, ela acorda, vou buscá-la. Damos-lhe banho e a sopa a correr, enquanto o nosso jantar espera. Preparamos-lhe um pequeno prato com massa cozida para se entreter enquanto jantamos. Depois do jantar ainda temos tempo para umas brincadeiras a três, entre o arrumar a cozinha e tratar de umas roupas na lavandaria. Novamente o leite dela, oito medidas de leite, 240 ml. de água. Está morno. Apagamos as luzes, baixamos o som da televisão. Dou-lhe de mamar e ela adormece no segundo em que acaba o leite. Tempo de a deitar. Visto o meu pijama. Como uma bolacha no caminho até à sala e aterro no sofá, encostando o meu corpo relaxado ao do meu marido que acabou de fumar o seu cigarro à janela e ainda traz com ele um ar fresco de maresia na pele. Beija-me e pergunta-me: Como correu o teu dia?! E eu respondo: Bem. Normal, a 1000/h. Ele sorri! Adormecemos enrolados um no outro.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Anjos Cansados

Na hora em que os anjos se cansam o desânimo é rei. E hoje, tudo em mim é tédio.
Um tédio de sentir as saudades de quem amo e me falta, nos momentos em que os anjos me abandonam à solidão de uma solitária ilha, inundada de casas e pessoas vazias e sorrisos sem significado e palavras mortas presas em lábios roxos, secos de significado e significação.
Na hora em que os anjos se cansam a saudade é rainha. E hoje, tudo em mim é nostalgia.
Uma nostalgia secreta, presa e dominada pela minha força de vontade, mas que não disfarça a lembrança que me ocupa, do meu sítio, casa, amigos, família, cidade e lugares familiares.
O meu Porto, o meu porto seguro, porto de abrigo, o meu pequeno Portus, desta vez sem Calle.
Perdida em viagens, dentro de mim mesma, procurando o porquê deste meu sentir triste e pesado, lembro-me que é possível, que um dia, até mesmo os anjos se cansem.
Não há anjo que aguente o peso de um coração carregado de saudades, e hoje todo o bater do meu são palavras mudas que envio a quem me falta.
Na hora em que os anjos descansam as minhas palavras pesam. Pesam e falham a tradicional alegria que as marca. Marcando a ausência de uma ausência sentida, pesada e pensada, amarrada e obrigada ao exílio de uma ilha familiar.
Ruas e pedras e estradas e campos, vazios. O retrato da minha alma. O reflexo do meu ser e estar.
Não há ausência mais sentida, do que a ausência de nós mesmos. E hoje ausentei-me de mim, juntamente com o meu anjo cansado, na hora em que decidiu descansar! Finalmente sós. Os dois.
Carrego em mim hoje todo o peso de uma falha, falta, ausência, lacuna, vazio. Um deserto abalado pela minha vontade de lhe resistir. Hoje, na hora em que os anjos se cansam, não houve lugar a pensamentos floridos, lugares comuns ou ideias brilhantes. Nesta hora descanso… não é fácil lutar contra um mundo, que não se entende, não se percebe. Não é fácil encontrar justificações constantes para um mundo triste, feio, sujo, sem esperança, corrupto, cruel. Hoje, na hora em que os anjos se cansam trago em mim todo o peso do mundo e de mais dez… o daqueles de quem sinto falta.
Quero sentar-me junto ao meu dourado, verde musgo, rio Douro e sentir-lhe o espírito, a aragem, o aroma pútrido de escoamento de esgotos inundado de tainhas gulosas, que só um tripeiro de nascença sabe ignorar! Sentar-me à beira rio e deixar a hora passar. A hora em que os anjos se cansam. E então, voltar. Voltar à ilha, ao meu lugar de momento, aos meus metros terrenos de isolamento consciente e percorrer de novo todas as suas maravilhas, sem me lembrar das maravilhas que almejava agora percorrer.
A lembrança é fatal na hora em que os anjos se cansam e melhor é pensar, que um anjo qualquer, um não cansado, regresse e decida desta vez não se cansar!
Hoje, nesta hora solitária, desmistifico a vida e limito-me a senti-la, sem choro, sem riso, sem expressão nem desejos. Hoje, na hora em que os anjos se cansam, espero desesperançosa carregando nos ombros o peso de um anjo cansado, que hoje decidiu descansar.

Contrariedades


Exemplos de ontem: De tanto querer pintar a sua própria realidade, acabou por ser chamada de surrealista.
Exemplos de hoje: De tanto querer viver um amor feliz, acaba sempre por se apaixonar pelas pessoas erradas.
De tanto querer ser mãe, acaba por passar anos a negligenciar o casamento, que lhe poderia dar o seu tão desejado filho.
De tanto querer estudar, acaba por passar anos, perdida em festas académicas e praxes e afins, trabalhos em part-time, para pagar os estudos, fazendo tudo e de tudo um pouco, acabando por não lhe sobrar tempo nenhum para o estudo.
De tanto se desejar uma carreira de sucesso, acaba por se perder nos meandros da ambição frustrada e dos desejos não realizados.
De tanto desejar uma vida pura, livre de stresses e pressões, acaba por se ver envolvida na maior luta da sua vida… impor o seu estilo, modo de viver, agir e pensar.
De tanto querer escrever, acaba por deixar de lado tudo aquilo que a vida tem de bom, isolando-se do mundo, que lhe daria alimento à escrita e nunca publicando nada seu!
De tanto querer ser saudável, bonita, elegante e em forma, acaba por se entupir de comprimidos, drogas de rejuvenescimento, “tunnings” corporais dizimando para sempre a sua saúde e esperança de permanecer jovem, intacta e de boa forma.
De tanto querer uma casa perfeita, esquece-se dela própria e do facto de que uma casa perfeita, não é só uma casa limpa e arrumada. Uma casa limpa e arrumada sem gente, nem amor, nem ninguém para desfrutar dela é uma casa sem alma. Enfim, é uma casa e não um lar.
De tanto querer mostrar uma riqueza que não tinha, acaba por se afundar em créditos e dívidas, que a levaram a uma pobreza, pior do que aquela que já possuía, uma pobreza material e de espírito.
De tanto desejar não se envolver demais, acaba por se ver envolvida numa luta constante para não se envolver.
De tanto querer ser a melhor funcionária, acaba por se tornar na pior colega de trabalho de sempre sem nunca lhe ser reconhecido mérito.
De tanto querer amar intensamente, envolve-se em paixões, atracções e casos diários sem valor relegando para sempre o espaço necessário a um amor intenso.
De tanto querer ser a melhor, mais notada e admirada, acaba por cair no ridículo e apontada por todos como exemplo a NÃO seguir.
De tanto querer ser boazinha, acaba por se tornar numa péssima pessoa para si própria, torturando-se e castigando-se por não ter sempre os instintos, que desejava fossem os seus naturais.
De tanto querer ser loira, acaba por se tornar em algo entre o moreno e o platinado, algo indefinido e normalmente catalogado como “loira burra”.
De tanto querer ser morena, pinta-se de solários e auto-bronzeadores acabando laranja!

Exemplos para amanhã: Não será já altura de nos aceitarmos como somos e compreendermos, acima de tudo, que nem sempre os meios justificam os fins?!


“ Nunca pintei sonhos, só pintei a minha própria realidade." - Frida Kahlo

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Mulher com 30 anos e 1 desejo...


Eram dez horas da manhã quando recebi uma mensagem dela. Pedia-me, por favor, se lhe podia ligar que estava sem saldo. Estava à porta de casa, no corredor de acesso ao piso. A chave que tinha não abria essa porta. Pois não…tínhamo-nos esquecido de que essa porta abria com uma chave diferente. Há cerca de 3 semanas atrás tínhamos mandado fazer uma cópia para ela, mas ela já faltava há mais de um mês e não nos lembramos de lha entregar. Normalmente deixava essa porta aberta, mas hoje esqueci-me por completo, as mãos carregadas de filha, carteira, documentos e banana tornaram essa uma tarefa, mais uma e em demasia, para um cérebro desleixado e “deixa p’ra lá” como é o meu, que anula inconscientemente as tarefas que me fariam entrar em overload!

Ela entra sempre à vontade dela, faz o serviço todo, nunca deixa nada para trás… e quando chegamos a casa… notamos sempre a limpeza da D.Cidália… um “cheirinho a fresco” como lhe chamamos.

Já estávamos a sentir a falta dela desde aquele dia em que ela ligou a dizer por meias palavras baralhadas e entrelaçadas que não ia puder trabalhar na quinta-feira, porque tinha feito uns exames, que ia fazer amanhã de novo e já a internavam na sexta-feira. Não ia puder vir. Lamentava e pedia desculpa. Depois, ficou de vir a semana passada, mas novamente pediu desculpa e faltou. Dessa vez mandou mensagem de manhã… a dizer que tinha tido uma noite péssima e que estava no hospital a soro e possivelmente iria levar uma injecção para as dores… Fiquei preocupada. Afinal de contas, uma operação de remoção de um quisto no útero não seria assim tão problemática! Ou seria?!

Ao chegar ao patamar, lá estava ela. Já à minha espera, sempre com o mesmo ar jovem, simpático, de confiança… mas desta vez trazia nos olhos um medo. Um terror que lhe saía pela menina dos olhos em forma de tristeza. Perguntei como tinha corrido a Páscoa. Como estavam os seus cinco meninos?! A mais novinha, a de 4 anos, continuava com a doce rebeldia habitual nesta idade… e enquanto falávamos, arfando um pouco da caminhada apressada perguntei-lhe se já se sentia melhor… se o quisto tinha ido para análise, e que tal os resultados. Não parámos, disse-me apenas que já tinha começado a quimioterapia, que iria agora fazer uma vez, de duas em duas semanas.


Parei.


Olhando-a, a tristeza dela transbordou-lhe dos olhos, que já não tinham barreiras suficientes para a conter e em forma de lágrimas disse-me que o “quisto” se chamava sarcoma. Tinha dois centímetros. Tinham-lhe laqueado as trompas. E que pena que ela tinha… gostava tanto de ser mãe… e ainda não estava recuperada da morte do seu bebé, há um ano atrás. Estava à espera de novos resultados de biopsia, a fim de saber se o “sacana” era macho ou fêmea. Continuou dizendo trémula, que só esperava não perder aquilo… apontando com a sua delicada mão para os seus cada vez mais delicados cabelos.

De todas as minhas palavras, de todos os meus gestos e expressões… de tudo o que disse, queria dizer e fazer, só me ocorreu que: nada era suficiente. No recado que lhe tinha deixado em casa, como habitualmente faço, indicando todas as tarefas que ela teria que desempenhar ao longo do dia, tinha deixado um obs., juntamente com um ovinho da Páscoa para os seus meninos: “por favor não se esforce, não quero que se magoe nas limpezas. Só faz aquilo que conseguir fazer.”. Soou-me tão brando e inútil. Apeteceu-me ir a correr rasgá-lo, antes que ela o pudesse ler…
Nesse dia, fez tudo. Exactamente como habitualmente faz. A casa cheirava a “fresco” como habitualmente cheira quando é dia da limpeza dela, a roupa estava imaculadamente passada, os brinquedos da minha filha religiosamente arrumados. E encontrei-a a fazer hora extra, ainda a passar a ferro, porque tinha perdido uma hora à conversa comigo… de manhã no patamar do prédio.

Implorei-lhe que parasse, que se sentasse um pouco a conversar comigo, mas conversamos… ela com o ferro ainda ligado na mão e eu, em pé… à frente da tábua.
Perguntei-lhe se precisava de alguma coisa, se podia fazer algo por ela. Se tinha comido?! Se estava bem… Ela respondeu que estava feliz. Estava feliz por trabalhar. Tinha comido uma sopa. Queria trabalhar mais dias. Ter pretexto válido para sair de casa, validando a sua existência e fazendo uso dos seus 30 anos de vida, acumulados naquele corpo em recuperação, débil, deprimido e atordoado pelos 24 comprimidos diários que toma agora, todos os dias. 30 anos e um desejo… Perguntei-lhe se não tinha ajuda da família, com os meninos?! Afinal de contas eram 5, deviam dar muito trabalho. A mãe, estava fugida para o Canadá, porque o pai lhe bateu anos a fio, até que um dia, ela decidiu deixar a vida da ilha para trás, onde já não encontrava porto seguro em lado algum. Estava triste e queria voltar para ajudar a filha neste momento, mas não voltava com medo. A sogra, ajudava um pouco. A filha mais velha, agora com 14 anos também ajudava no que podia… incluindo nas buscas pela internet, procurando informação sobre o “quisto” sarcoma, que lhes tirava agora o descanso e lhes lembrava continuamente de que todos nós somos carne e osso, máquinas humanas, passíveis de defeitos e malformações e que ninguém, quer tenha 5 ou 50 milhões de Euros é imortal.

Agradeceu-me pelas palavras amigas. Prometeu voltar na quinta-feira. Tem quimio na quarta. Explicou-me que na ilha não há radioterapia, mas jurou voltar. Não gosta de faltar aos seus compromissos, disse-me ela!

Despedi-me dela à porta. Sorrimos os duas e a porta bateu.

"Espero por si quinta-feira, D.Cidália. Esperarei por si, todas elas!"

quinta-feira, 16 de abril de 2009

Reacções e Comentários (re)activos, “sim, por favor, obrigada!”


Estas coisas de se ir cronicando publicamente tem efeitos que as minhas croniquices me evitavam, quando se limitavam apenas ao papel do meu bloco de notas ou às notas no meu bloquinho de papel… Tenho recebido comentários dos meus tão queridos e mais fiéis amigos, que talvez obrigados pela amizade, que nos une têm lido vigorosamente as minhas croniquices e historinhas e sido bastante encorajadores e positivos.

Mas da boca dos amigos as verdades são mais meigas! E a originalidade sinuosa do comentário, não postado, mas comentado em conversa electrónica com uma amiga, veio da boca de alguém, que não me conhecendo, me alimenta agora mais uma croniquice, não pretensiosa, nem explicativa, até porque as crónicas são a minha liberdade de expressão e como referi no meu texto de introdução apenas nascem da minha busca por uma “distracção prazeirosa” que me alimente o pensamento, libertando-o.

Assim sendo, ao ouvir os meus textos lidos”critiquironicamente” à luz da Literatura de Paulo Coelho, do afamado livro “O Segredo” ou de livros de “auto-ajuda”, não pude deixar de rir… queria eu ter a mestria de ver as minhas pobres palavras nas prateleiras dos livros mais bem colocados nas mais bem “colocadas” livrarias, recebendo os lucro devidos aos devidos “best-sellers” e ajudando pobres almas, usando as minhas palavras como lenitivo para dores da alma e da psique! Mas realmente devo confessar que não farão assim tanto parte do meu mundo de referências literárias...

Não sendo fã de Paulo Coelho, confesso não ter passado ao lado da leitura de algumas das suas “obras”, o que já não posso dizer em relação aos textos de “auto-ajuda”, ao lado dos quais nunca passei, a não ser em corredores dos locais onde habitam comummente os livros! Não tenho “Segredo” para as minhas crónicas… ou talvez o único segredo esteja algures entre o meu pequeno cérebro e as, ainda mais pequenas, pontas dos meus dedos.

Ao longo do meu percurso académico, tive a oportunidade de ler muitos textos e ouvir falar acerca de muitos conceitos literários, mas aquilo de que nunca mais me esqueci é de que um texto, qualquer texto tem sempre um intra-texto e um inter-texto, explicando em palavras de 5 euros, há sempre relações do texto com o próprio texto (intra-texto) e relações do texto com outros textos (inter-texto). Essas relações, são relações de sentido, mundos de referência, marcas pessoais entre outras coisas. Cada texto, parece-me a mim, tem a sua originalidade, seja em pensamento, filosofia, marca ou estilo, mas também me parece pretensiosismo e até mesmo preciosismo a mais, viver na ilusão que cada texto é incomparável e assim sendo, o que para uns pode soar a “Paulo Coelhismo”, para outros poderá, quem sabe, soar a “Tony Carreirismo”! Falem mal ou falem bem, o que interessa é que leiam… é saudável, profícuo e libertador! Reacções e Comentários são bem-vindos, por favor! Caso contrário não teria decidido tornar públicas as minhas palavras, mas por favor, poupem-me das análises literárias, críticas ou analíticas, que tantos anos me ocuparam já, dando-me notas nem sempre famosas e alguns cabelos brancos!

Se alguma coisa, quiserem ler nas entrelinhas destas minhas frases, então leiam a filosofia Agostiniana, que diz:

Do que você precisa, acima de tudo, é de se não lembrar do que eu lhe disse; nunca pense por mim, pense sempre por você; fique certo de que mais valem todos os erros se forem cometidos segundo o que pensou e decidiu do que todos os acertos, se eles foram meus, não são seus. Se o criador o tivesse querido juntar muito a mim não teríamos talvez dois corpos distintos ou duas cabeças também distintas. Os meus conselhos devem servir para que você se lhes oponha. É possível que depois da oposição, venha a pensar o mesmo que eu; mas, nessa altura. já o pensamento lhe pertence. São meus discípulos, se alguns tenho, os que estão contra mim; porque esses guardaram no fundo da alma a força que verdadeiramente me anima e que mais desejaria transmitir-lhes: a de se não conformarem.in Agostinho da Silva, in 'Cartas a um Jovem Filósofo'

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Arranhei o pára-choques de um carro e deixei contacto, serei normal?!

Não sou, nunca fui e recuso-me a ser daquele género de pessoas, que se recusa a responder pelas suas acções. Mas será que eu sou normal?!

Correndo o risco de parecer mais uma daquelas perguntas que se costumava enviar para uma tal revista”Mariazinha” e que agora se enviam e colocam em blogues, como este, hoje de manhã dei por mim a passar por determinada situação e a perguntar para mim mesma: Mas eu serei normal?! Será que fiz bem?! E se me meto em confusões?!


Passo a explicar o sucedido: numa, daquelas muitas manhãs em que fiquei a dever umas horitas à cama, ao sair de uma rua apertadíssima, como só conheci até hoje em Ponta Delgada, e onde para cúmulo se estacionam os carros em frente a portas e janelas das casas, ocupando o espaço da via de rodagem, ao tentar virar para a Rua da Creche da minha filha, arranhei um carro, pintadinho de novo, azulinho Peugeot e lavado, com o friso da porta do meu sujo e miserável “carro do povo”! Mas o melhor é que no meu carro, nem marca ficou do sucedido, enquanto que no pobre “azulinho”, mal aparcado e limpinho se tornaram bem visíveis as marcas do dito “encontro de chapas”!


Ora, estava atrasada para o trabalho, ainda tinha que deixar a minha filha na Creche e não me dava jeito nenhum desembolsar mais uns tantos euritos para pagar uma “maquilhagem” ao pára-choques do dito bólide! Então?! O que é que eu fiz?! Ora, parei o carro, procurei na carteira uma caneta e papel à pressa e em letras garrafais, com uma caneta fluorescente de sublinhar (não tinha outro instrumento de escrita à mão…) deixei escritos no papel o meu nome e o meu número de telemóvel. Coisa de que me arrependi mal arranquei!


Bem sei, que isto não se trata de mais do que uma questão de pura ética e moral, que juntamente com a nossa economia, parecem ter entrado em recessão na sociedade actual… mas a verdade é que me assustou a ideia de ter pensado se seria normal por ter feito tal coisa… não seria o mais normal, nos dias que correm, arrancar e nunca mais pensar no assunto?! Quantas vezes na minha “invicta”, não fui eu dar com a minha pobre viatura cheia de mazelas e marcas de perícias falhadas de condutores tão astutos quanto eu?! Ainda no dia em que recebi o meu carro da ilha, me deparei passadas poucas horas de o ter estacionado, com um espelho partido!!! E cartão de contacto ou desculpas?! Que nada! Isso já não se faz… É que são vários os riscos que corremos ao proceder da forma dita “moralmente correcta”. Veja-se: podemos ser extorquidos por um arranjinho entre dono da viatura e o mecânico, podemos correr o sério risco de ser insultados e agredidos verbalmente por alguém sem educação ou maneiras, enfurecido e revoltado em relação ao sucedido, pode ser até que aproveitem o nome e número para contactos “estranhos” e de intenções “duvidosas”, o condutor pode até nem reparar na “mossa” e pensar que aquilo é uma forma de abordagem arrojada… pior ainda, a mulher ciumenta, que fica possuída ao encontrar tal papel no pára-brisas se deixa iludir pelas letrinhas fluorescentes garrafais, com nome e número de outra mulher… CREDO! A verdade é que num mundo como o que vivemos hoje em dia, tudo é de desconfiar, duvidar e temer…


Mas eu deixei o contacto. Serei normal?! É que foi um impulso tão natural, que só podem lembrar as velhas máximas que dizem: “todo o homem é puro” e a “sociedade é que corrompe o homem”.


Eu acredito que dar um bom exemplo, pode servir para contrariar a onda de desconfiança e corrupção que nos assola, a nós indivíduos, enquanto seres individuais e enquanto seres sociais, mas a verdade é que mesmo não acreditando em “bruxas”, que as “há, lá isso há”!!!



P.S. – Ainda não fui contactada pelo lesado…

terça-feira, 14 de abril de 2009

O dia em que umas calças novas mudaram a minha vida!

Este Domingo comprei umas calças novas. Ansiosa por vesti-las acabei por fazer uma bainha, expresso, daquelas com fita auto-colante à pressa. Não medi bainhas, não cortei as sobras… foi só mesmo assim: colá-las para não arrastarem no chão! Mas a vontade de vesti-las era tanta que não podia estar prái com muitas “coisas”! Feita a bainha… dormi a correr para as vestir mal acordei! Mas sabem aquele tipo de roupa, que vos fica mesmo à medida?! Tão à medida, que parece que foi feita de propósito para vocês?! Era isso mesmo que eu sentia ao olhar-me ao espelho nessa manhã ensonada com as minhas super calças vestidas! Acabada de me arranjar, olhando-me ao espelho, novamente, desta vez já com a minha filha ao colo, senti que tudo nesse dia ia correr bem!

Ao sair de casa, não pude deixar de ouvir o piropo, em forma disfarçada de comentário, a sair da boca do meu marido, o que só por si já valeu a pena… Entrei no carro e estava a dar a minha música favorita, mas uma daquelas que já não se ouve à séculos e da qual nunca se comprou o cd… deixei a menina na creche, olhei para as calças e lá estavam elas… limpas e imaculadas, livres de restos de bolachas e baba da minha adorável filhota de meses! Voltei a entrar no carro e no caminho até ao meu local de trabalho só fez sol… Tudo correu bem nessa manhã e não sei se inspirada pela minha confiança renovada pela excelência das minhas mui lindas calças novas, resolvi ir almoçar sozinha, aproveitando a ocasião para pôr a leitura em dia. Consegui ler tudo aquilo a que me propus, e com a mesma rapidez da manhã também a tarde de trabalho, entre cópias, faxes e emails se esvaiu em fumo! De novo na Creche, desta vez para ir buscar a minha filha, fui recebida por ela com o mais maravilhoso dos sorrisos. Regressadas a casa, não chorou ao comer a sopa, não a cuspiu, não fez birra no banho e pude fazer o jantar em paz, que depois saboreei como já não saboreava à muito, na companhia do meu mais-que-tudo! Acabado o jantar, a pequena adormeceu em segundos e ainda fizemos serão a ver telenovela no sofá e a namorar até adormecermos…

E agora, perguntam vocês, e com razão: Mas então porque raio se lembrou esta de cronicar sob o título anunciado?! Aparentemente nada mudou na sua vida! Mas permitam-me corrigi-los, ao explicar-lhes porque nesse dia tudo mudou, de facto, na minha vida. Cheguei à conclusão nesse dia, que bastam pequenas coisas para sermos felizes e que, por vezes a felicidade se encontra nas mais pequenas coisas do dia-a-dia. Nesse dia, à custa de umas novas calças, agora já não tão novas, aprendi que o dia é aquilo que o fazemos e que pensamentos positivos atraem coisas positivas! Afinal de contas, não será felicidade passar mais um dia com saúde, algum dinheiro e trabalho na companhia de quem mais amamos?!

Num tempo em que a felicidade é sobrevalorizada e em que o culto da perfeição nos leva a ser cada vez mais infelizes, vale a pena recordar que a verdadeira felicidade está ao nosso alcance todos os dias, basta estarmos dispostos a encontrá-la nos pequenos actos rotineiros, e deixarmos de lado a busca gananciosa da magnânime felicidade nos grandes luxos e riquezas materiais a que poucos de nós temos acesso diário!

No dia em que umas calças novas mudaram a minha vida, eu aprendi que o amor, a paz, a harmonia e a saúde são a maior riqueza que alguém pode desejar…

Pensamentos que me ocupam…


O amor, o amor, e ainda agora e sempre o amor.


Eu, eterna convicta e crente na existência do amor, me assumo. Assim como, a minha profunda tristeza e desilusão ao assistir ao comentário, de mesa de café, que como qualquer mulher que se preze, que sou, não consegui deixar de escutar na mesa ao lado do meu pequeno-almoço e café. Duas mulheres, como eu, comentavam: “ Ó ‘ome, isso do amor já era…”. Bem, se por pura distracção ou falta dela, me permiti a escutar aquele comentário, calculem agora, que por pura atenção ou excesso dela me resolvi a escutar o resto desta conversa… “olha c’o meu homem foi o mesmo, tava-me consolando no início do casamento, até qu’as coisas vão esfriando e olha… agora é só bola e café… e tontas somos nós… qu’esse corisco d’esse amor só traz é problemas à gente”. Confesso que este diálogo não era assim tão original como ponderei, pudesse vir a ser, e de facto, a resma de problemas a seguir enunciadas por ambas as interlocutoras eram bem comuns ao público geral e partilhadas por uma boa resma de casais nos tempos modernos, o que me levou à seguinte questão: conseguirá o amor sobreviver aos tempos que correm?! Conseguiremos nós, no meio do stress diário, da fatal rotina e da doméstica “desvida”, manter viva a chama do amor?! E isso assustou-me… até ao momento em que depois do efeito da cafeína no cérebro, me pus a pensar: mas então se amores houve, que resistiram a guerras, fome e anos de separação, não poderão os amores modernos vencer também a crise instalada?! Ou será que até para salvar o amor teremos que pedir agora apoios ao estado?!


Vamos pensar no exemplo citado pelas duas senhoras, que me servem hoje de alimento para cronicar… uma delas, nomeadamente a de quem não citei as falas queixava-se da complicação e completo caos, em que a sua vida se tinha tornado, depois do nascimento do seu tão desejado “rebento”, encarado agora como uma máquina gritadeira de fazer fraldas e sujar mudas de roupa, que para mais não servia do que para lhe tirar noites de sono e as habituais saídas ao café com o seu companheiro. Sendo que este não deixou de o fazer, apesar de compreender perfeitamente que ela não goste de ficar sozinha em casa com a “criaturinha de Deus”, por ambos gerada! Para desespero da mesma, o facto de o marido chegar a casa a tardes horas da noite, não ajudava, motivo pelo qual a relação dos dois se resumia agora a um olhar de “bom-dia” mudo, na casa de banho de manhã, seguido de um jantar a ver as “quase” notícias da TV e qualquer coisa. Não se tocavam, tinham esquecido de se beijar e se falavam era para ralhar mutuamente pelos males da vida, da crise e da falta de dinheiro. E ela que tinha tantas saudades do tempo em que namoravam… e não será com certeza a única, como ela muitas de nós padecemos do mesmo mal e falta de tempo para investir na relação. E agora, perguntam vocês: mas e onde raio pára o amor, para onde foi, que tanta falta faz nestas situações, terá ficado esquecido por trás de alguma prateleira nas longas horas perdidas no supermercado? Ou por baixo de uma mesa de café, junto de cascas de amendoins pisadas e beatas mal apagadas?! E eu respondo… o amor, precisa de tempo, e sem ele o amor não tem oportunidade de se manifestar para salvar a relação. Por isso, mulheres e homens das ilhas e arredores cabe-nos a nós reservar tempo para o amor, única e exclusivamente para ele… só assim a relação sobrevirá!

Não Percebo...


Do alto da minha pobre idade, eu pergunto-me: porque é que será que nós mulheres, instruídas, cultas, bonitas, emancipadas e maduras continuamos a acreditar em amores impossíveis, complicados, problemáticos e sem futuro?! Será que nem depois de tudo aquilo a que temos acesso hoje se nos leva a perceber que o verdadeiro amor é fácil, tão natural e descomplicado como respirar! Não acreditam?! Pensem na vossa cor favorita?! No vosso prato favorito, filme, livro ou local e digam-me com sinceridade: tiveram que se esforçar para gostar deles?! Tiveram que encontrar todos os dias novas razões para manterem a vossa preferência por eles?! Claro que não… Gostar de alguma coisa, assim como gostar de alguém é imanente e surge, muitas das vezes, sem se saber muito bem como nem porquê! Agora, manter relações, lidar com sentimentos de paixão ou atracção… isso sim, isso é um verdadeiro bicho de “sete cabeças”, mas mesmo assim e mais ainda, por nós mesmas sabermos que isso é tão complicado, porque continuamos a investir todos os nossos esforços e valioso e raríssimo tempo em relações, que nós temos por certo condenadas ao fracasso?!


Vou dar-vos um exemplo da razão da minha indignação e dúvida: tenho uma grande amiga e por isso a questão me é tão próxima, que mantém uma relação com alguém, um certo indivíduo de estatura, aparência e condição, considerada dentro da norma, para perceberem que não se trata de alguém extraordinariamente belo, nem rico, nem famoso (o que para alguns poderia justificar uma obrigatoriedade ou interesse em manter a relação). Resumindo, fala-se de duas pessoas normais! Voltando a essa minha amiga, que nitidamente não está realizada nesta relação, até porque já estando juntos à cerca de cinco anos insiste em manter a relação apesar das contínuas “facadas” na relação alegando, aparentemente, não encarar o namoro como um compromisso tão sério como o casamento. E eu pergunto-me: porque insistirá aquela pobre alma no contínuo desperdício de tempo, que perde naquela relação?! Porque não se decide a assumir de vez a falta de equilíbrio e amor entre os dois e não dá a oportunidade de se libertarem ambos de uma relação condenada à infelicidade, insucesso e infortúnio?! Não entendo… mas não é a única, como ela, todos os dias ouço falar de casos bem semelhantes, ou até mesmo piores, em que apesar de traumas, agressões, infidelidades e ataques de parte a parte, as pessoas continuam a insistir em manter a relação por puro “comodismo”, ou medo da alternativa… Será assim tão complicado para essas pessoas entenderem que, pior do que o que estão não poderão ficar e que, por muito que tentem e continuem a insistir, o verdadeiro amor não aparece assim por insistência ou investimento forçado?! As pessoas até podem passar uma vida inteira juntas e sentirem-se comodamente “contentinhas”, mas estão a negar a si próprias e ao outro o direito, que todos temos, a respirar um verdadeiro amor.


Falo por mim e para quem me entende: um verdadeiro amor sente-se, só assim, porque sim e todos os dias de igual modo, (apesar de possíveis dificuldades, que possam surgir no normal desgaste e vivência de uma relação). E por quem, como eu, teve a sorte de encontrar um amor tão natural como a própria condição de existir, eu deixo aqui o meu apelo: deixem-nos respirar o amor!

Croniquices e historinhas...


Numa era de Internet e afins, não posso passar ao lado das inovações, no sentido de fazer chegar ao mundo as minhas croniquices!


Tudo começou, num belo final de dia de conversa à porta de casa com uma amiga, como tem que ser... que me sugeria a escrita como compensação de algo que estava a faltar na minha vida: uma distração prazeirosa como escape de uma rotina exaustiva e fatigante.


O título: mulher a 1000/h é como muitas vezes me sinto... a 1000/h... num constante reboliço que é a vida de uma mulher, esposa, mãe, filha, amiga, sobrinha, cidadã e trabalhadora! Mas sempre, sempre muito mulher em tudo aquilo que isso implica: feminilidade, sensibilidade, interesses e prazeres, feitios e defeitos!


As Croniquices são ideias que me pairam na cabeça... que aqui exponho em forma de cróniquinhas e historietas... não pretenciosas e sem intenções sérias... o único objectivo: alimentar a liberdade do meu pensamento e partilhá-lo na liberdade do vosso... porque, no fundo, estas croniquices, não passam de mais uma forma de Liberdade... o valor mais alto da nossa existência!
Não há público leitor destinatário específico, nem sequer sei se terão algum interesse para alguém... talvez os meus tão queridos amigos as cheguem a ler um dia, forçados pelos insitentes convites à leitura das mesmas e quem sabe... até poderão elas mesmas servir agora para os libertar a eles da vida diária de stress que vivem!? O que sei é que, se servirem para vos libertar o pensamento, ainda que por breves instantes, já valeu a trabalheira da criação do blog... sim porque cronicar, isso é fácil para mim! Tão natural como a àgua para matar a sede!