
Lembro-me bem dela. Dos cabelos brancos sempre cuidadosamente apanhados e alinhavados encostados a uma cabeça curiosamente ovalada. Um rosto marcado de rugas e pele seca de um sol de campo, que nunca terá conhecido cremes de beleza, nem toque ou retoque de pintura facial. Lembro-me do luto integral, com o qual sempre a conheci e do avental, onde proibida pelo médico de cometer excessos de boca, guardava desde doces a nacos de pão e uma vez até um pedaço de entrecosto! Daquilo que me lembro melhor é do seu arrastar de chinela pelos corredores quando nos vinha espiar! Eu e o meu primo, com cerca de 10, 12 anos na altura, num Verão de férias mais travesso demos-lhe o apelido de Ana “Bufa”, porque era ela quem relatava criteriosamente todas as nossas travessuras à minha avó! O nome dela era Ana Rua e sempre que me lembro da Velhice, lembro-me dela.
Esta semana escrevi um texto sobre a velhice, com o título “Pés de Galinha e Trapos”, mas revolta-me falar da Velhice, não que me incomode o processo de envelhecer, das rugas ou dos cabelos brancos, mas pela deterioração que isso implica! Como concluí nesse texto, não me incomoda nada envelhecer, o que me incomoda é pensar, que um dia, a “Velha” serei eu.
Da minha Bisavó Materna, Ana Rua de cabelos brancos e bengala na mão, chegam-me os laços que me unirão para sempre a um Transmontano Verão trovejante, quente e abafado, mas também aqueles que foram para mim, os primeiros contornos das minhas associações à Velhice. A minha bisavó morreu quando eu já tinha 16 anos. Não a acompanhei na hora da morte nem no avançar da doença, no entanto a lembrança que a velhice dela me traz é uma lembrança agridoce, porque da última vez que a vi, já pouco se lembrou de mim... chamou-me “menina”, perguntou-me quem era... e eu, apoiada pelo ombro compreensivo da minha tia, que me leu na perfeição, sorri! Não fui capaz de proferir palavra!
A Velhice mexe comigo. Acho que mexe com todos. Mas irrita-me que se olhe para o lado, em vez de se falar, ouvir e dar a mão. Afinal de contas, poucos de nós quererão dar um “cadáver bonito”! O que significa, que amanhã, provavelmente os retratos da Velhice para os nossos bisnetos seremos nós! Se tivermos sorte!
Esta semana escrevi um texto sobre a velhice, com o título “Pés de Galinha e Trapos”, mas revolta-me falar da Velhice, não que me incomode o processo de envelhecer, das rugas ou dos cabelos brancos, mas pela deterioração que isso implica! Como concluí nesse texto, não me incomoda nada envelhecer, o que me incomoda é pensar, que um dia, a “Velha” serei eu.
Da minha Bisavó Materna, Ana Rua de cabelos brancos e bengala na mão, chegam-me os laços que me unirão para sempre a um Transmontano Verão trovejante, quente e abafado, mas também aqueles que foram para mim, os primeiros contornos das minhas associações à Velhice. A minha bisavó morreu quando eu já tinha 16 anos. Não a acompanhei na hora da morte nem no avançar da doença, no entanto a lembrança que a velhice dela me traz é uma lembrança agridoce, porque da última vez que a vi, já pouco se lembrou de mim... chamou-me “menina”, perguntou-me quem era... e eu, apoiada pelo ombro compreensivo da minha tia, que me leu na perfeição, sorri! Não fui capaz de proferir palavra!
A Velhice mexe comigo. Acho que mexe com todos. Mas irrita-me que se olhe para o lado, em vez de se falar, ouvir e dar a mão. Afinal de contas, poucos de nós quererão dar um “cadáver bonito”! O que significa, que amanhã, provavelmente os retratos da Velhice para os nossos bisnetos seremos nós! Se tivermos sorte!