segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A Invisibilidade do Essencial e os Olhos do Coração...


Acabados de almoçar entrámos no café por baixo de nossa casa, como sempre populado de uma mescla de gentes, com uma mescla de idades! Dirigia-me ao balcão, tentando agarrar o carapuço da mais pequena, que sempre tenta escapar para se colocar ao sabor do vento da arca frigorífica ou perto das imagens dos morangos e chocolates que ela tanto gosta de apontar, quando de repente começam a passar as imagens do que se passava na Madeira. Parámos, ficamos de olhar fixo no ecrã preso lá no alto e no café, só se fez... silêncio.
Agarrei a mais pequena, controlei as lágrimas que teimavam em querer saltar cá para fora e deixei-me ficar ali, naqueles segundos presa àquelas imagens. Acho que ainda lá estou... ou então trago-as presas na retina! Naquele segundo senti, no meio daquelas pessoas todas aquilo que só um verdadeiro ilhéu sabe sentir: a noção da vulnerabilidade de se ser ilhéu, de viver num Paraíso, que só é nosso emprestado e não dado e que a Mãe Natureza vem reclamar quando e como quer, da forma que muito bem entender!
Dormi mal, dormi muito mal! Não consigo parar de pensar no vento que faz hoje por aqui e não consigo tirar da lembrança a voz de quem perdeu tudo numa noite em que nada o faria prever, numa noite como todas as outras, em que sossegados em casa foram invadidos pela força da água e pela violência de uma mãe, madrasta, chamada Natureza!
Nem de propósito no Sábado à noite fomos ver a peça do “Ano do Pensamento Mágico”, texto magnífico da Joan Didion, um relato na primeira pessoa de quão vulnerável é o laço que nos une a esta vida e a tudo o que tomámos por certo, pela voz e presença em palco da GRANDE e LINDA Eunice Muñoz! E mais uma vez a noção da nossa pequenez foi extrema!

"A Vida modifica-se rapidamente… A Vida muda num instante… Sentam-se para jantar e a vida como a conhecem acaba!”

É por isso, que hoje estou assim, pequenina do tamanho de uma ervilha. Vou até ali aconchegar-me no meu casulo e volto amanhã... talvez!