segunda-feira, 31 de agosto de 2009


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Às vezes tenho a sensação de que vivo a mais a minha maternidade! Que ainda tenho o cordão umbilical da minha filha ligado a mim e que vivemos num constante estado de comunicação empaticamente telepática!
Serei só eu, que adivinho quando ela vai passar uma boa ou uma má noite?! Serei eu a única mãe a adivinhar o estado de alma da minha pequenota apenas olhando-a nos olhos!? Serei eu a única mãe a sentir as picadas por ela e a saber sempre se ela vai ter uma birra ou um bom comportamento!? Que sei quando ela vai adoecer, mesmo antes de acontecer?!
Lembro-me muitas vezes do dia em que a minha filha nasceu... parece que esse dia foi um presságio de tudo o que ainda estaria para vir... nesse dia, depois das dores alucinantes de um parto induzido e de estar à espera de uma epidural das nove da manhã até às 12 da noite, tudo acabou numa mesa de cirurgia, numa cesariana de emergência, em que entrei em choque na mesa de operações, com o meu marido cá fora... sem saber o que se tinha passado, que ao ouvir-me berrar, pensou que a minha filha tinha nascido de parto normal! Pois bem... tudo isso aconteceu às 04:06 da manhã, altura em que a minha filha nasceu, tendo eu saído do bloco, por volta das 04:50... dando de caras com o meu marido de braços imobilizados a segurar o nosso repolhinho de 47 cms e 2,600kg nos braços! As minhas primeiras impressões, dopadas pela anestesia directa que levei, foram de que ela era sossegadinha e ruiva! Pois bem, por volta das seis da tarde nesse mesmo dia já eu andava a pé, tendo passada toda uma noite às claras, às voltas com ela, loira, que não parava de chorar e libertar mecónio! No dia seguinte, aquando da visita da minha sogra, que pacientemente escutava os relatos da minha noite, diz-me ela em tom complacente: “Pois é minha querida, agora que és mãe, prepara-te... nunca mais vais dormir uma noite descansada!” – Aquilo que naquela altura me soou assim um bocadinho a praga supersticiosa, mas sem maldade, hoje relembro-a como sendo uma das maiores verdades que já ouvi na vida! Todas as noites durmo em constante estado de alerta máximo... qual bombeiro sempre pronto para qualquer suspiro, tosse ou respiração mais pesada emitida no berço, que dorme, no quarto ao lado do meu. E até hoje tem sido assim... trago sempre o coração nas mãos, porque só eu sei sempre... se ela comeu, se ela chorou, quantas fraldas fez, do que gosta, do que não gosta, se caiu, quando e onde, se fez febre, se tem febre, se tossiu, se espirrou, se precisa de uma manta, de uma chupeta, de um brinquedo, de um não, de um sim, de um colinho, de um afago, de um ombro, de uma bolacha... enfim, nada que quem é mãe não perceba imediatamente e por isso me custou Himalaias deixá-la hoje nas instalações provisórias da Creche dela, que entrará em obras brevemente, num local para ela em tudo estranho, com todos os seus amiguinhos a estranharem também, o que a fez desatar num pranto inconsolável e agarrar-se a mim como uma alforreca! Hoje de manhã deixei a minha filha na Creche a chorar... saí de lá em passos largos, entrei no carro e entrei em estado de choro e tristeza semelhante, que nada nem ninguém confortam...
Já decidi, hoje saio mais cedo, vou buscá-la às quatro! Também já liguei para lá e como desconfiava... chorou a manhã toda, comeu pouco e dormiu ainda menos... e não há mãe que sossegue ao ouvir que o seu rebento não está bem... porque no fundo, tudo aquilo que sempre queremos é saber que estão felizes... e eu hoje, sei que ela não está! Serei só eu a saber estas coisas?!
* Curiosamente ou não, na fotografia está ela ao colo do Pai, que apesar de não sentir tudo como eu, às vezes sofre pelas duas... sim, porque pai que é pai, quer-se com "P" maiúsculo!

4 comentários:

  1. Que sensação.. estava a ler e a ficar com um aperto e ansiedade! Tento imaginar, mas se ou quando for mãe, irei lembrar-me destas palavras! Ainda bem que falei contigo sem ler isto e que agora já estão todos mais tranquilos..;)

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  2. acreditas que quando a deito em casa dos meus sogros, no almoço de fim de semana, me levanto para a ir espreitar no momento exacto em que ela acorda? e ela não acorda comigo, está a despertar ainda... e chego à sala com ela nos braços, ninguém a ouviu chorar... eu apenas "senti" que devia estar a acordar. acho que talvez tu percebas.
    quanto ao parto... também o meu foi longo. a epidural praticamente não me aliviou das dores. tive contracções mas não dilatei no tempo necessário... 15 horas depois de estar em trabalho de parto fizeram cesariana, felizmente deram Raqui e pude estar acordada e ver a pequenina de olho arregalado a olhar pra mim depois do choro de boas vindas ao mundo.
    e sim... as noites nunca mais foram as mesmas...
    disse a alguém num encontro de amigos que tinha dormido bem nessa noite "ela acordou SÓ Às 8" hehe
    e força... ela vai ficar bem na Creche... ai mas acredito que custe, acredito mesmo! (a minha ainda fica com os meus pais)
    beijocas

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  3. Não Sílvia não és só tu. É um desassossego constante, a paz acabou, as noites bem dormidas, aquelas em que podia cair a casa e tu não davas conta, lembras-te? Acabaram. Antes de o meu filho nascer nada me acordava mas, depois, até uma mosca me punha de olho aberto. Por isso ninguém conhece melhor os nossos filhos que nós. Nós desde que nascem que estamos atentas ao mínimo sinal. Por tudo isso, por esse desassossego sem fim, por muitas vezes nada poderes fazer apesar de saberes que algo está mal, de não os poderes proteger totalmente o que dá uma angústia de morte,bem está quem não os tem. Se te acontece algo a ti tu levas bem mas se eles espirram tu já não sabes que fazer, já não dormes. Há muitos casais que andam desesperados porque não têm filhos se soubessem o que é! Uma criança é um ser indefeso que depende de nós para tudo. Estes sentimentos todos só mesmo uma mãe os compreende. É uma loucura. Ter um filho não é ter um animal de estimação. Ter um filho é ter algo supervalioso, valor incalculável, insubstituível...Sílvia acabou mesmo a paz e estejas onde estiveres estarás a pensar nela. Não a ouves chorar quando não está ao pé de ti? Eu até o ouvia chorar. BJS

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  4. Anónimo: minha querida, já partilhámos tantas angústias... concerteza partilharemos também as da maternidade! E ainda bem! Obrigada pelo teu carinho e preocupação! Estamos aqui! ;)

    art.soul: eu adivinho sempre que ela vai acordar! É o instinto, acho eu! Ou então somos mesmo umas valentes bruxas! LOL - Eu prefiro acreditar no instinto!

    Brown Eyes: não imaginas como é bom saber que não estou só e que não sou eu a única a sentir isto... por vezes penso se não serei mãe protectora demais ou centrada de mais... não queria cair nesse erro! Por vezes penso que a ouço chorar! Mas engraçado foi a primeira vez que sai com ela depois de ela ter nascido e o meu pai estava com ela na Zara... eu e a minha mãe estávamos na ponta oposta da loja e eu ouvi-a a chorar e larguei tudo que nem uma louca! lol Acho que o facto de estar sozinha a tratar dela desde que nasceu me tornou muito mais preocupada! Porque tive que passar por tudo sozinha com ela e com o meu marido! Tem o seu lado bom e o seu lado... menos bom! BJS

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