terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Morreu mais uma Rosa neste Jardim...

Morreu hoje. Para minha grande pena... porque simbolizava tudo aquilo que eu sempre admirei nas mulheres! Obrigada por tudo o que nos mostrou... vai o corpo, fica a marca, na obra literária, familiar e tudo o que mais nos legou!

«Mas também tínhamos a célebre aula de Economia Doméstica de onde saíamos com a sensação de que a mulher era uma merdinha frágil, sem vontade própria, sempre a obedecer ao marido, fraca de espírito que não de corpo, pois, tendo passado o dia inteiro a esfregar o chão com palha de aço, a espalhar cera, a puxar-lhe o lustro, mal ouvia a chave na porta havia de apresentar-se ao macho milagrosamente fresca, vestida de Doris Day, a mesa posta, o jantarinho rescendente, e nem uma unha partida, nem um cabelo desalinhado, lá-lá-lá, chegaste, meu amor, que felicidade! (A professora era uma solteirona, mais sonhadora do que nós, que sabia todas as receitas do mundo para tirar todas as nódoas do mundo e os melhores truques para arear os tachos de cobre que ninguém tinha na vida real).
Mas o que sabíamos nós da vida real? Aos 17 anos entrei para a Faculdade sem fazer a mínima ideia do que isso fosse. Aos 19 casei-me, ainda completamente em branco (e não me refiro só à cor do vestido). Só seis anos, três filhos e centenas de livros mais tarde é que resolvi arrumar os meus valores como quem arruma um guarda-vestidos. Isto não, isto não se usa, isto não gosto, isto sim, isto seguramente, isto talvez. Os preconceitos foram os primeiros a desandar, assim como todos os itens que à pergunta porquê só me tinham respondido porque sim, ou, pior, porque sempre foi assim. E eu, tumba, lixo, se sempre foi assim é altura de deixar de ser e começar a abrir caminho às gerações futuras (ainda não sabia que entre os meus 12 netos se contariam nove mulheres). Ouvi ontem uma jovem a dizer, a revolução que nós fizemos nos últimos anos. Não meu amor: a revolução que NÓS fizemos nos últimos 50 anos. Mas não interessa quem fez o quê. É preciso é que tenha sido feito. E que seja feito. E eu fiz tudo, quando ainda não era suposto. Quando descobri que ser livre era acreditar em mim própria, nos meus poucos, mas bons, valores pessoais.»
in JL, por Rosa Lobato Faria, Autobiografia

4 comentários:

  1. Soube agora através de ti...

    Que perda lamentável.

    Uma Senhora, uma Mulher! Um símbolo...
    Que descanse em paz.

    :'(

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  2. Sílvia não sabia. Perdeu-se uma grande mulher e um grande exemplo. A vida é tão curta, não é? Ela tinha ainda tanto para dar, tanto para ensinar. Enfim... Beijinhos

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  3. Tive a oportunidade de a conhecer há muitos anos e por isso e por tudo o que ela representa, também senti a sua morte...

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  4. também gostava muito dela.
    fica a certeza que nunca será esquecida porque a sua obra fica sempre entre nós.

    e que linda que era!

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