quarta-feira, 31 de março de 2010

AMANHÃ no AO - (Hoje, Aqui pra vocês!!!)


Do fútil ao útil vai uma linha fina de opiniões subjectivas, noções leves de economia para totós e frequentemente uma mera questão de gosto. Porque nunca se considerará fútil algo que de facto se goste. E perguntam vocês... porquê esta teorização agora em vésperas da Páscoa?! E eu explico... porque a Quaresma é por definição uma época de reflexão e hoje deu-me para reflectir nas prioridades da vida e naquilo que nos define, os nossos gostos, paixões e opiniões!
Por estas alturas, noutros tempos, a minha querida mãe fazia questão de me comprar uma fatiota nova, sapatos incluídos. Eu chamava-lhe a “roupa da Páscoa”. Parece um pouco parolinho, isto dito assim desta forma, mas a verdade é que os tempos eram outros e não éramos abastados, assim sendo, era com algum contentamento que eu aguardava a chegada da Páscoa, na ânsia de puder receber uma “farpela” nova, escolhida por mim! Ai! Doces dias! Hoje em dia, já ninguém me dá a “roupa da Páscoa” e às vezes, só às vezes eu sinto saudades dessa terna dependência. E podem perguntar vocês... e então agora, que a Mulher a 1000 é mãe, comprará certamente a “roupa da Páscoa” para a sua filha?! Pois... responderei eu, “com muito gosto”! Embora tenha a viva noção de que sendo “outros os tempos” o valor dado à mesma não é igual... e então muitos considerarão isso, hipoteticamente, uma futilidade! Mas roupa é daquelas coisas que está sempre na barreira entre o útil e o fútil, pois todos precisam de roupa! O problema está em saber de quanta precisamos... e aí entram as opiniões subjectivas e as noções de economia para totós aliadas ao gosto de cada um! Ora, vejamos, se para o meu marido o número de sapatos e carteiras que eu tenho será sempre um número por demais elevado (fútil), para mim, o número nunca é suficientemente “útil”! Faz parte das “leis do Universo”, um homem jamais compreenderá a necessidade das mulheres de ter sapatos, assim como uma mulher jamais compreenderá a razão de não os ter! As pessoas desvalorizam as “futilidades” dos outros e não se apercebem frequentemente que as “futilidades” não são o motor que nos faz querer viver, mas a gasolina para o abastecer! Não pode um ser humano viver só das questões fulcrais da vida, dos casos sérios, dos casos reais... às vezes é preciso um certo alheamento, uma certa utopia, uma certa felicidade menor, encontrada nas “pequenas coisas”, que fazem com que na grande escala, o esforço para atingir a “grande felicidade” valha mesmo a pena!
Mas o ritual da celebração da Páscoa não se extinguia só na roupa... não. Este ritual implicava ainda um banho bem tomado, cabelos bem alinhados, sapatos novos bem polidos e meias cheirosinhas! Tudo isto, para nos apresentarmos no nosso melhor à Madrinha! Era quase como uma preparação para uma entrevista de emprego, em que a recompensa não era conseguir o emprego, mas receber elogios, e com sorte, uma prenda! Enfim... seria mais uma futilidade, ou não, porque quando a prenda envolvia uma recompensa monetária, transformava-se logo e sem pós de perlimpimpim na prenda mais útil que se podia querer!
Serão as amêndoas da Páscoa fúteis também?! Serão elas, e segundo toda uma linha de pensamento lógico e nutricionalmente equilibrado, totalmente desnecessárias?! Não creio. Ora dispam a Páscoa de amêndoas, o Natal de rabanadas e o Carnaval de Malassadas e a festa perde o sabor típico que sempre convêm.
E eu?! Serei eu fútil por gastar um texto neste nobre espaço a divagar acerca de “roupas da Páscoa”, amêndoas ou doçaria conventual?! Ora, depende! Depende de quem lê e do que aqui ler... porque aquilo que de facto eu quero dizer é que o (f)útil é uma questão de perspectiva, sempre! E eu, na minha mais humilde opinião, continuo em crer que a única futilidade da vida é mesmo o desperdício de não a querer viver! (Boa Páscoa!)


Título: Do (F)útil!


por Sílvia Martins, Croniquices da Mulher a 1000/h

7 comentários:

  1. Fantástico! Lá em casa também era altura de comprar fatiota nova. Era uma emoção. Agora já não o faço, mas se tivesse uma menina faria-o com certeza. bjs Boa Páscoa

    ResponderEliminar
  2. Poetic: Era mesmo uma excitação, não era?! Ai que "saudadinha da boa"! LOL =) Bjs e Boa Páscoa para ti também!

    ResponderEliminar
  3. 100% de acordo:-)A tua última frase diz tudo. Realmente o que é fútil ou não depende da perspectiva de cada um. Um beijinho muito grande para ti e para a tua familia e Boa Páscoa! Bj:-)

    ResponderEliminar
  4. Eu já vivi a Páscoa de forma muito mais intensa, numa infância há muito perdida, no meu maravilhoso alentejo...Hoje em dia é tudo tão comercial e pouco tradicional

    ResponderEliminar
  5. Ai que saudades de ti!!!! ;) Voltei e tive de cá vir espreitar-te!

    As tuas opiniões são sempre uma delícia... não dispensando as tradicionais (delícias) as tuas (opiniões) são sempre um "must have"!

    O remate do texto está excelente, como não poderia deixar de ser!

    Um beijão grande, grande!!!
    E boa Páscoa!

    ResponderEliminar
  6. Compro uma fatiota nova, não por futilidade mas porque para mim a Páscoa é a festa mais importante do ano.
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  7. Achei muito útil esta reflexão sobre o fútil e o útil. A roupa da Páscoa, do Natal, dos anos... ahahahah como me lembro desses tempos. Sílvia, cá para nós, que o teu marido não ouve,é mesmo futil esse numero enorme de carteiras, sapatos, bijuteria, etc. O trabalho que essa tralha dá nas mudanças? Já experimentaste? Aí vais mudar. Eu mudei. Fartei-me de carregar e embalar coisas inúteis. Tenho andado a fazer limpeza aqui em casa e a dar a quem não tem um terço do que eu tinha. Mal empregado dinheiro gasto em coisas que não tinha tempo de usar. Eram demasiadas. ahahahah
    beijinhos

    ResponderEliminar