sexta-feira, 14 de maio de 2010

"Pais para toda a obra" - 13.05.10 no AO


Seria de esperar que a Croniquice de hoje fosse sobre o Papa, ou sobre as festas do Senhor Santo Cristo, ou sobre a nuvem de cinzas que espalhou a confusão... seria... mas como também já é de esperar para quem me lê, eu não escrevo obrigatoriamente sobre as notícias “quentes” do momento! E é por isso, mas só por isso, hoje vou escrever sobre as coisas que mais me ofendem enquanto mãe no século XXI. Eu sou mãe apenas há dois anos, de apenas um filho, aliás, sem querer ser sexista, mas sendo exacta, uma filha. Não tenho por isso vasta experiência no ramo, nem conhecimentos de causa de largos anos ou grandes teorias formadas ao longo do meu longo empirismo! No entanto sou mãe e como tal tenho direito a opinar sobre a minha curta, mas activa experiência, acerca do meu recente, mas empenhado esforço na procura da realização do meu melhor papel enquanto mãe e deixem-me que vos diga, que há coisas que me dão a volta ao estômago. Não há nada, mas nada que me revolte mais, que me faça mais “espécie” do que as opiniões fundadas e cristalizadas acerca dos pais dos tempos que correm. Se não batem é porque são uns “paus-mandados”, se batem é porque são violentos, agressivos e nunca deviam ter sido pais. Se dão tudo aos filhos é porque os vão estragar, se não dão é porque são negligentes e rudes. Se os pais se preocupam e levam os miúdos a tudo o que é especialista e ligam para a creche todos os dias é porque são galinhas e doentios, se não se preocupam, levam ao pediatra ou ligam para a Creche é porque são uns “bastardos” ingratos que deixam os miúdos ao “Deus dará”. Se os pais levam os miúdos para todo o lado com eles, eventos sociais, espaços públicos, locais exóticos incluídos, são uns “loucos destemidos e sem medida, que não têm noção da barulheira que as crianças fazem e caos e confusão”... se não os levam, são uns “castradores”, que nem deixam as crianças conviver, “nunca hão-de aprender a socializar aqueles pobres meninos”! Enfim, aquilo que mais vejo por aí é gente que opina livremente, sempre que lhe dá na real gana, sem a mínima preocupação do efeito que essas “opiniões” possam ter no “desempenho” enquanto pais, dos constantes alvos da crítica! “Ah e tal, que as crianças de hoje não têm educação...”, “ah e tal que os paizinhos são quem tem culpa”... não me entendam mal, não estou aqui a escrever para fazer a defesa dos “coitadinhos” ou ser advogado do diabo de ninguém, mas a verdade é que a sociedade penaliza cada vez mais os pais, esquecendo-se frequentemente que as exigências que são feitas aos pais actualmente em nada se comparam às do “antigamente”! Ora notem, que não há Pai interessado hoje em dia que não conheça de cor uma ou duas teorias do sono ou de alimentação dos pediatras mais afamados, não há Pai atento, que não saiba o percentil do seu filho ou Pai cuidadoso, que não tenha cadeirinha de carro e de passeio e berço conforme as normas de segurança... digam-me lá, com sinceridade, qual era o Pai que há vinte e poucos anos atrás sabia ou fazia ou sequer se preocupava com tudo isso?! Qual era o Pai ou Mãe, que há trinta e mais anos atrás se preocupava se o menino socializava ou se ia ficar traumatizado com a pancada que apanhava ou se chateava com os professores por causa das “reguadas” e castigos, ou sequer se incomodava se o miúdo tinha actividades extra-curriculares ou não?! E agora os culpados são os pais! Pois, se calhar são... mas apenas por dar ouvidos a vozes, que segundo reza a lenda, não chegam aos céus! Os filhos dos outros “incomodam” nos espaços públicos?! Pois então fiquem em casa! Algo de errado se passa na nossa sociedade quando educar é alvo de crítica, o palrar de uma criança é “barulho” e as suas brincadeiras uma “confusão”. Quando é que será que nos esquecemos todos, que também nós um dia já fomos crianças?!

4 comentários:

  1. O problema é mesmo esse, que toda a gente parece esquecer-se que já foi criança, e cada um de nós sabe bem que tipo de criança foi, por isso convém pensar bem antes de falar, é que possivelmente também fomos barulhentos, birrentos... A verdade é que os pais de hoje têm que trabalhar fora de casa e ainda chegar a casa e orientar os filhos. Não é fácil, é uma tarefa inglória porque por vezes estes mesmos pais abdicam de muita coisa pelos filhos. Talvez se sacrifiquem até muito mais do que os pais de há 20/30/40 anos atrás. Alguma vez o meu avô fez pelos filhos o que os pais de hoje fazem? bjs

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  2. Como te entendo!! Nunca levei a Matilde para sair até tarde, mas não me inibo de levar a almoçar fora, a lojas, e não é que por a míuda estar a mexer nuns sapatos na Modalfa a parva da empregada me veio dizer que ela podia causar estragos?! Só estava a mexer, não atirou, não mordeu!! Claro que quando a peguei ao colo fez uma choradeira e toda a gente ficou a olhar. Claro que não me importei, apesar de me irritar aqueles olhares de quem parece que não sabe como é uma criança, mas saí de lá mesmo irritada com a empregada porque castiguei a minha filha quando ela não estava mesmo a fazer nada de mal! As crianças gostam de tocar, correr, falar alto e isso é normal, não são robots! Bj:)

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  3. tive um recente conversa com a chefe cá do sítio, mulher solteira e descomprometida, que acha "impossível, tás a ver?" o barulho da criançada nos restaurantes.
    ela que passa as manhãs ao gritinhos no telemóvel com as amigas ou a marcar as aulas de cycling, não se importando se o resto do pessoal quer fazer algo como, por exemplo, trabalhar...

    oh, eu sou mãe galinha, não gosto de a ver chorar, e farei tudo ao meu alcance para a ver sempre com aquele sorriso que nos derrete todos no rosto.

    e para onde formos, ela vai atrás, e se estiver cansada voltamos para casa todos felizes, para dar um leitinho bom e descansar no vale dos lençóis. com muitos beijinhos e festinhas e colinho pelo meio.
    muahahahaaaaaaa

    mas a verdade é que já eu fui educada assim...
    beijos "sócia" lol

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  4. Mais um excelente texto de opinião... já dei por mim a pensar sobre isso...

    Mas acho que a pressão da sociedade afecta muitos pais e mães, seja por imposições laborais e/ou necessidades financeiras, os pais não têm tempo para ser pais nem permitem que os filhos tenham tempo de ser filho... começa a haver aquela inversão de papeis que fica a um passo do caos.

    Não é uma questão de procurar culpados, acho que é uma questão de prioridades e de bom senso (e isto é o que está mais em falta) na nossa sociedade, não esquecendo que fazemos parte dela e portanto também influenciamos... seja permitindo ou mudando as coisas!

    Sinto o tempo a andar depressa demais...

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