domingo, 26 de setembro de 2010

À primeira qualquer cai...

Sentada no chão, a minha filha canta a música “ O meu chapéu tem três bicos” e eu em pura contemplação, penso no bico-de-obra em que me meti. Sim, porque há sempre aquele momento, aquele instante do meu dia, em que eu acho que talvez não soubesse bem no que me estava a meter quando decidi ser mãe! Ele é um sem-fim de noites sem dormir, uma preocupação chata que só não me faz cacarejar de mãe, porque me controlo com todas as minhas forças, e depois, depois… umas ganas inexplicáveis de ter mais um, seguidas de uma falta de coragem paquidérmica, que me leva a suores nocturnos só de imaginar que um dia isso pode mesmo acontecer.
E assim vive uma mãe, num estado de “esquizofrenia maternal”, como alguém o definiu um dia. E depois vêm as contas, e depois os atrasos nos salários, e depois as ementas da semana, as prendas de aniversário, as festinhas e reuniões, os compromissos e o conciliar de agendas, a mudança do óleo do carro, abastecer de combustível, pedir favores, pagar favores, fazer provas chatas e burocráticas para a segurança social (para receber 11 euros de abono de família), as chamadas chatas, os fretes sociais, os compromissos na esteticista, a actualização de saber… e depois de tudo isso, às vezes, lá venho eu algures no meio de tudo isto. Utópica, sonhadora, descomprometida, desapegada de uma realidade “castradora” para quem sonhou um dia, como eu, ter uma família à moda antiga, com filhos à mesa, como pulgas no pêlo de um cão. Não é fácil ser consciente. Nada fácil, digo-vos desde já. É muito mais fácil pensar que tudo se resolverá por si e que se a coisa correr mal, “olha logo se vê”. Mas as coisas não são bem assim, riscos desses correm-se com ligeireza na política, mas não na vida real.
Acho tão aborrecida esta coisa de se ser adulto, de se ter constantemente que passar uma imagem, nem sempre nossa, mas aquela que temos que ter, no trabalho, na sociedade, na família. Tenho saudades da rebeldia infantil, que nos permite dar uns belos gritos e uns pinotes e dançar à chuva sem julgamentos. Saudades do tempo em que podia andar descalça pela casa, sem ter que me preocupar se a miniatura de mim, que tenho lá em casa, me vai imitar e arranjar uma bruta amigdalite à custa disso, que me levará depois a mais um sem fim de noites sem dormir e preocupações galináceas, e mais uns dias de atestado e mais umas contas de farmácia e de pediatras, sim… porque nestas coisas, a bela da “virose” nunca se resolve à primeira! Pois, não sei… é que ter filhos é assim, mais coisa, menos coisa, como jogar à “cabra-cega”… vai-se tacteando, tacteando e quem sabe, um dia lá se acerta!
Lembro-me tantas vezes de ficar aborrecidíssima com a minha mãe quando ela me dizia, que se não fosse pelo meu pai, ela nunca tinha tido filhos. Eu não percebia, amuava, fazia pirraça, sabia que ela gostava de mim, claro… mas não percebia o fundamento de não se querer ter filhos. Principalmente porque a filha em questão, era eu. Mas o ciclo da vida é mesmo este, é ser filha da mãe e depois, mãe da filha, ou de filhas. Percebo quem não queira ter filhos, principalmente as mulheres, porque perdoem-me os homens o egoísmo, mas apesar de todos os avanços do século a parte física, biológica e hormonal da maternidade continua a ser toda da nossa inteira responsabilidade. Já para não falar nas desvantagens que uma mulher com filhos tem em relação a outras no mundo profissional… mas não vamos sequer por aí… a mim, o que me espanta mesmo, é que alguém como eu, mesmo sabendo de tudo isto, tenha por vezes laivos, essas ganas de “ir ao segundo”… é que a estas coisas se costuma aplicar uma máxima mais do que conhecida: “À primeira qualquer cai, à segunda, cai quem quer”. E, de modos, que esta semana é isto que ocupa o meu pensamento… o eterno dilema de nunca se saber a resposta para certas e determinadas questões da vida!

6 comentários:

  1. Força! Está na altura certa!
    São os riscos e as surpresas que quebram a monotonia da vida...

    Bjcs!

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  2. “esquizofrenia maternal”... é mesmo isso:)

    adorei o texto, Mulher e Mãe a 1000/h.
    eu espero um dia cair à segunda.;)

    beijos para vocês.

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  3. Quando olho para a minha vida percebo que não tenho mesmo meios para ter outro filho. E não me venham com a velha história que "todos se criam" porque para mim, ter um filho não só dar-lhes amor, tempo, dedicação , que felizmente ainda são grátis, há que pensar em muitas outras coisas, entre as quais, estudos. E sem ajudas de ninguém, é impossível ter posses para estudos, saúde, e tantas outras coisas a que todas as crianças deveriam ter direito. Assim prefiro ser realista e ter apenas um filho, mas se a minha vida fosse mais desafogada financeiramente queria mais um:) Bj:)

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  4. Sílvia à primeira qualquer cai à segunda só cai quem quer e por isso só cai uma vez. Não foi o dinheiro que me levou a tomar essa decisão mas a responsabilidade e o desassossego diário de ter um filho. Calma. Beijinhos

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  5. Eu quero ter mais. Se possível mais dois. Convencida já estou, falta fazer, um de cada vez, de preferência :) Mas eu sou Crente e optimista!

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  6. Olá!! Vasculhando na internet caí de paraquedas no seu blog. Adorei.
    Sou mãe de um garoto de 02 anos e casada a 04. Dei muitas reisadas com seus textos e refleti muito também. É muito bom saber que existem outras pessoas passando pelos mesmos questionamento, mesmas algegrias. Voc~e consegue por em palavras tudo o que sentimos e vivemos. Parabéns!!
    renataemidio2009@hotmsil.com

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