quinta-feira, 11 de novembro de 2010

A minha estirpe é fixe - HOJE NO AO

A minha geração é consumista! Nasceu no berço de ouro do capitalismo, embalado pela esteira da democracia e pelas ilusões hollywoodescas e infantilizadas pela Disney!
A minha geração faz empréstimos a 40 anos para casas onde vai viver pelo menos 10, com duas ou três esposas diferentes! Com os meus, os teus e os nossos! A minha geração vive da aparência da capa do livro best-seller, com essência de literatura light! A minha geração ri-se na cara do perigo. Não sabe o que são spreads, PEC’s e desconhece o impacto do Orçamento de Estado no país… tudo, porque os políticos são “todos iguais” e a retórica “é uma seca”. A minha geração sufoca debaixo de casacos de cabedal sintético, tudo porque é anti-peles de animais… e porque a diferença do peso na carteira seria de cento e tal euros a mais! A minha geração sonha com paixões arrebatadoras, mas no fundo, no fundo… escolhe um “parceiro para a vida” como quem compra um carro. Idealiza os modelos de sonho, sonha com os mais potentes, os mais stylish, os mais caros… mas compra aqueles para os quais o banco lhe dá crédito! Investe no amor como quem investe na bolsa e quando há crash… foi culpa do mercado.
A minha geração inventou o amor por leasing, de dois, três ou quatro anos e o aluguer de “viaturas”. A minha estirpe suspira por voos mais altos, mas de tão altos que os sonha, limita-se só a suspirar! A minha geração era rasca, depois ficou à rasca, agora já só com muitas dificuldades se desenrasca… mas é uma geração de mentes brilhantes… que mais brilham, quanto mais longe da nação estiverem. Que se destacam pela luz dos holofotes que se lhe apontam e que se deixam sublinhar pelos reflectores das capas dos jornais e das revistas cor-de-rosa!
Na minha geração, quem sonhava em criança, dizia-se dele ter muita imaginação, ambição e inteligência… já quem sonha em adulto é ingénuo, inocente, aluado ou nos piores dos cenários “utópico”. Mas tentem vocês gerações jurássicas compreender, que não é fácil ser-se original num século em que tudo já se fez, já se disse, já se criou. Em que o valor reside na experiência e que peca pela falta de a oferecer. Estamos na roleta russa do azar do século XXI. Nada se faz de novo na literatura, nas artes, porque o que tem valor é apenas aquilo que já se fez e aquilo que se vai fazendo de diferente é vivido e analisado à lupa sob uma voz de dura rigidez crítica, que a ninguém poupa, sob a égide do… “ainda tens que comer muita farinha maizena!”.
A minha geração é a versão GTI dos empréstimos, do amor, dos casos, dos filhos únicos, das maternidades difíceis, dos Nirvana, do pós-grunge, das All-star, do Fizz de limão e da pastilha gorila com os cromos da WWF na mão. Passámos da BMX ao BMW, trocámos a Levis pela Zara e a roupagem do Axel Rose pela falta de roupa da Rihanna, mas na essência a minha geração é pura. Inexperiente só se for de sucesso, mas voluntariosa nas duras aprendizagens do século da emancipação.
Se a minha geração tivesse um lema de vida e resumo de aprendizagem, seria a triste verdade que reza, que tudo se paga nesta vida… mesmo quando a nossa quota-parte de responsabilidade na transacção, se limita a pouco mais do que a recepção da factura!

6 comentários:

  1. Belo texto, muito bem escrito. E sim, concordo com tudo e não diria de melhor forma!

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  2. Mais uma vez um grande texto, com palavras muito sábias. bj!

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  3. ahahaha! adorei o post! ainda bem que não sou da tua geração :P

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  4. Amei este teu texto.. para além de ser uma grande veracidade, faz-nos olhar para a realidade que negamos ver.
    Adorei "A minha geração era rasca, depois ficou à rasca, agora já só com muitas dificuldades se desenrasca..."
    Obrigada por esta tua partilha fenomenal!
    Beijocas doces***

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  5. Vim cá ter através do blogue da Artezinha. E, desde já, deixa-me que te diga que adorei este texto, que tem muito de real.

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  6. A tua geração está empenhada e pouco se empenha em ser feliz. A tua geração apenas se preocupa em copiar os bens e a vida do vizinho, como se a felicidade pudesse ser recalcada em papel vegetal. Enfim, uma geração de uma sociedade de consumo em que a felicidade se mede pelo que se consome. Beijinhos

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