quinta-feira, 25 de novembro de 2010

"Em casa onde não há pão..." - Hoje no AO

Depois do dia de ontem… só me ocorre uma velha máxima que diz: “em casa onde não há pão, tudo ralha, ninguém tem razão”! É que assenta que nem uma luva a uma sociedade que em crise, com necessidade de aumentar a sua produtividade, estimular os mercados, oferecer votos de confiança e reduzir o seu endividamento e despesas, resolve fazer um dia de greve, para se manifestar berrando nas ruas, levantando os braços, mostrando o seu descontentamento e erguendo a voz para que o “governo” ouça, para que o “Socas” saiba que ninguém está contente, que ninguém concorda com ele, que ninguém tolera estas políticas de austeridade e que ninguém gosta que lhe andem a mexer no bolso, na carteira e na conta do banco e, quiçá, debaixo do colchão. Então… unidos a uma voz, sindicalistas, anarquistas, monárquicos, reformados, desempregados, trabalhadores e muitos outros “-ores” e “-ares” saem à rua para gritar! Uns mais do que outros, que muitos deixaram-se ficar mesmo por casa, afinal de contas… não havia transportes e o trânsito estava um caos!
Eu acho muito bonito, este gesto de solidariedade, manifestação e activismo dos direitos cívicos… muito bonito mesmo! Pena que tamanha massificação de gentes não se veja à porta dos actos eleitorais, ou nas decisões camarárias, ou sequer ignorem aquilo que de facto se está a passar com o país. Se eu estou contente com os passos que temos dado?! Não. Se acho que a coisa vai apertar?! Sem dúvida. Se fiz greve?! Não. E porquê?! Porque não acho que esta seja a solução dos nossos problemas, dos problemas da crise económica nacional, europeia e global… porque sei os custos que uma greve destas traz, os inconvenientes, os incómodos e a hipocrisia que se esconde por trás da manifestação de muita gente. Tão simples quanto isto, também não acho nada bem que quem queira fazer greve o tenha direito a fazer e quem queira trabalhar se sinta impedido de o fazer, porque não há transportes, porque não tem como o fazer, porque não tem onde deixar os filhos, ou porque é “aliciado” por sindicalistas à porta do seu local de trabalho! Lamento, mas se na sociedade do “a minha liberdade acaba onde começa a tua”, onde está a liberdade dos outros?! Dos “cortas” dos que não acham que berrar seja a solução. Se a greve é para manifestar descontentamento, estou certa que o mesmo número de queixas e cartas a chegar às mãos do senhor primeiro-ministro ou assembleia da república tinham muito mais impacto… talvez todas enviadas no mesmo dia, talvez todas com mil e trezentas queixas fundamentadas, exigindo resposta… ou melhor ainda, com soluções para a nossa crise, com propostas de melhoramento da situação… mas, assim de repente esqueci-me que a lei do berro é mais acessível que a lei da pena… que a retórica e a argumentação também abriram falência… e que o nosso país não viu o que se passou na França, que apesar das seis greves gerais de paralisação total, não fizeram demover Sarkozy, que se limitou a “renovar” o seu governo! E não… não estou a fazer política, nem exercício puro de demagogia, mas irrita-me que as pessoas, enquanto seres sociais escolham quase sempre a revolta como solução dos seus problemas, que nada resolve, mas só agrava, aumentando o mal-estar e a inquietação que vivemos já todos e para os quais, aparentemente e até ver, ninguém tem ainda solução! Uma greve geral, só por si, e mesmo sendo a segunda em vinte anos de história, não traz o “Messias” que nos salvará da crise… eu, assumo, também não sei qual será a solução dos nossos problemas… mas instalar o caos no país, também não me parece que o seja!

1 comentário:

  1. Minha querida achas tu que a solução está numas cartitas? Uma greve não resolve o problema, uma greve tem grandes custos (para quem a faz Linda que não recebe), o país está na penúria, blá, blá mas, as cartas resolvem. Quem o pôs na penúria achas que tem modificado a sua atitude, achas que se tem preocupado em resolver a situação que criou? Porque há-de então o Zé povinho, que é quem está a pagar a crise, deixar de lutar, com as armas que tem? Sem luta é que nada se consegue e quem está desempregado sente e sabe o quanto esta crise tem pesado. Sabemos que há quem se aproveite, sempre, mas nem por isso devemos deixar de lutar. Quem está bem, quem está a crescer com a crise, são os grandes(o poder) que até tem mão de obra mais barata, é que entre receber menos e não receber as pessoas optam por receber menos. Diz-me como havemos de lutar? Achas que quem faz greve se devia preocupar com o meio de transporte de quem não fez? Esses deviam também estar a fazer, se não fazem é porque estão bem, se estão bem que aluguem um táxi. Beijinhos

    p.s. Só quero ver a moral do pessoal que não fez para se queixar da crise, daqui para a frente. Se o número de grevistas fosse igual ao número de pessoas que se queixam este país tinha parado e não eram precisos transportes. Mas lá está, é mais fácil receber sem mexer um dedo.

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