sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

João ama João - 14.01.10 no AO

O João ama o João, mas em público, ainda não tem coragem para lhe dar a mão. A Maria ama a Maria, mas de toda a família das duas, do caso amoroso, ainda só sabe uma tia! O João e o João estão juntos há um tempão. Quando o João esteve doente foi o João quem o acompanhou. Depois da operação o João não lhe largou a mão. Noite e dia, sentou-se na cabeceira daquela cama, enquanto a família ia e vinha. Arranjou esquemas para poder entrar sempre: ora era sobrinho, ora era tio, ora era amigo. O João foi um valentão. Levou-o aos tratamentos, tratou dele em casa e nunca a nada lhe disse que não. As Marias, a ver de toda as suas famílias, já há muito que ficaram para “tias”. Elas não levam a mal, sabem que o amor é que é fundamental. Têm pena, no entanto, que as mães não saibam, nem sonhem, o enorme alento que trazem no coração e aquele encanto. A mãe da Maria já desconfia, mas por vergonha não pergunta e não quer ouvir, acha que sofria! Desde que conheceu a Maria, a Maria nunca mais se queixou de falta de companhia. Para o mundo são duas solteironas infelizes e tristes, mas em casa delas ambas sabem também, que não há amor, que não venha por bem!
O amor entre o João e o João é um amor velado, proibido, proibitivo, pecaminoso e condenado... pelo menos aos olhos, de que ainda vê a Eva e o Adão, como amor para todo o termo de comparação! Mas aqui entre nós, que ninguém nos ouve, já era bem tempo de se ver que estes quatro e os restantes milhões, não têm nada de mal, nem de anormal, só vivem um amor, igual a tantos outros, que de fraterno passou a paixão e a atracção carnal. O João tem um sonho, igual ao meu e ao de muitos outros apaixonados, não quer mais amores velados, encontros escondidos ou não permitidos. O João quer amar e ser livre, quer ter o direito a escolher, quem ama, porque ama e onde e quando ama! Quem somos nós para a esta alma tirar, um direito que é seu: o de casar! As Marias, por seu lado, não querem pelo casamento optar, mas gostavam de se assumir, e quem sabe, talvez uma criança adoptar. Eu, que não sou ninguém, ainda assim vejo bem, que mais vale ser amado por duas mães, do que infeliz e “atirado aos cães”!
“A Homossexualidade é amoral”, mas desde quando é que amar alguém é pecado capital?! O problema é que as pessoas se escandalizam precisamente com o lado sexual, quando isso como em qualquer relação, só devia pertencer à intimidade do casal.
“O Amor é cego”, minhas gentes, nunca terão ouvido dizer?! E o melhor amor é mesmo aquele que não se pode escolher.

10 comentários:

  1. Uma crónica poderosa Sílvia! Muito poderosa.
    Parabéns.

    Na minha muito humilde opinião é mesmo uma questão de tempo... tic tac... tic tac porque contra factos acabam por não haver argumentos.

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  2. Muito inspirado esse João e claro a Maria.
    Lindo. Adorei..

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  3. Já há muito tempo decidi não julgar ninguém, nem as suas opções. Penso que todos temos o direito à nossa individualidade desde que não interfira na individualidade do nosso vizinho. E se essa fosse a opção de um dos nossos filhos, será que gostariamos de o ver marginalizado ou quiça ridicularizado? Eu não gostaria.

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  4. Não há como condenar o amor.
    Cadinho RoCo

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  5. O amor é mesmo cego e o proibido é mesmo aquele que tem mais força, pelo menos enquanto o é. As pessoas deviam, sem dúvida, ser mais compreensivas com os outros, pensar mais na felicidade do que em preconceitos. Cada um deve ter o direito a escolher. Aceitar a diferença é um passo em frente para a compreensão e a paz. Maravilhoso, com inteligência e inspiração. Beijinhos

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  6. Espectacular Sílvia!!!

    Parabéns, está de facto muito potente e humano!

    Adorei, mesmo!!!

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  7. Olha lá! Isto soa a rap! :p

    Consegui imaginar claramente isto a ser cantado.
    Está genial. ;)

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